Segredos
do Poder
Saiba o que revelam as fitas do BNDES
26/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-10
- O presidente grampeado
Em conversa com FHC, André Lara Resende (BNDES) critica a composição
do consórcio Telemar, que disputava a Tele Norte Leste. FHC concorda:
André Lara Resende - Em princípio, isso não tem nada de mais.
Agora, a conversa quanto mais nós vemos aqui é, acho que é um pouco,
é uma, uma aliança da assim corporativa, do corporativismo das próprias
empresas telefônicas...
FHC -...Com aventurismo.
Lara Resende - Com a Sistel. Exatamente. Com o pior do aventurismo.
FHC - Com o pior. Exatamente. Comprometedor...
Lara Resende - Inclusive, é o seguinte. É uma coisa muito
ruim ir para a frente. É um risco enorme.
FHC - Eu acho também...
Mendonça de Barros e Lara Resende criticam em outro telefonema Pedro
Malan e Pedro Parente, ambos do Ministério da Fazenda, ministro
e secretário-executivo, respectivamente.
Mendonça de Barros - Pega o Malan e o Pedro Parente, que
são dois babacas, faz aquele discurso privatista e monta uma mutreta.
Depois, o que aconteceu? O Tribunal de Contas está enchendo o saco
deles, tá? Então, o que ele falou é o seguinte: "Nós não... Se o
BNDES disser que não dá dinheiro porque é uma empresa pública é
um argumento para o Tribunal de Contas".
Lara Resende - É, mas nós dissemos isso tudo.
(...)
Mendonça - Agora, o duro é ver o nosso ministro da Fazenda,
babaca, dizendo...
Lara Resende - Não sabe nem o que está se passando. Eu vou
te dizer...
Mendonça de Barros fala com o então vice-presidente do BNDES, Pio
Borges, hoje presidente do banco, sobre interessados na composição
acionária da Telemar.
Mendonça de Barros - E a ratada, aí?
Pio Borges - A ratada está lá em cima. Eu estou aqui e depois
eu vou subir já. O André está lá.
- O principal diálogo
No diálogo mais importante das fitas gravadas por meio de escutas
clandestinas, André Lara Resende, então presidente do BNDES, diz
ao presidente Fernando Henrique Cardoso que é necessário forçar
o fundo de pensão estatal Previ, do Banco do Brasil, a entrar no
consórcio do Banco Opportunity e do grupo italiano Stet, que iria
participar do leilão da Telebrás. O presidente concorda e, depois
disso, Lara Resende pede explicitamente para usar o nome de FHC
como forma de pressão sobre a Previ, que também negociava com o
consórcio Telemar, de Carlos Jereissati. Eis o trecho da conversa
entre os dois:
André Lara Resende - Então, o que nós precisaríamos é o seguinte:
com o grupo do Opportunity, nós até poderíamos turbiná-lo, via BNDESPar.
Mas o ideal é que a Previ entre com eles lá.
Fernando Henrique Cardoso - Com o Opportunity?
Lara Resende - Com o Opportunity e os italianos.
FHC - Certo.
Lara Resende - Perfeito? Porque aí esse grupo está perfeito.
FHC - Mas... e por que não faz isso?
Lara Resende - Por que a Previ 'tá... tá do outro lado.
FHC - A Previ?
Lara Resende - Exatamente. Inclusive com o Banco do Brasil
que ia entrar com a seguradora etc. que diz, não, isso aí é uma
seguradora privada porque...
FHC - ... Não.
Lara Resende - Então, é muito chato. Olha, quase...
FHC - ... Muito chato.
Lara Resende - Olha, quase...
FHC - Cheira a manobra perigosa.
Lara Resende - Mas é quase explícito.
FHC - Eu acho.
Lara Resende - Quase explícito.
FHC - Eu acho.
Lara Resende - Então, nós vamos ter uma reunião aqui, estive
falando com o Luiz Carlos, tem uma reunião hoje aqui às seis e meia.
Vem aqui aquele pessoal do Banco do Brasil, o Luiz Carlos etc. Agora,
se precisarmos de uma certa pressão...
FHC - ... Não tenha dúvida.
Lara Resende - A idéia é que podemos usá-lo aí para isso.
FHC - Não tenha dúvida.
Lara Resende - 'Tá bom.
- Outras conversas
"Bomba atômica"
(Na véspera do leilão)
Lara Resende - Eu quero falar com você antes, 'tá? Pra saber
o que você tem... Para sentir o pulso. Porque, se precisar, nós
vamos ter que detonar a bomba atômica.
Pérsio Arida - 'Tá bom. 'Tá bom. Ok.
Lara Resende - Então, você me fala. Qualquer coisa...
"Esperto e meio"
(Na véspera do leilão)
Lara Resende - (...) Se a gente usar a bomba atômica presidencial,
a gente vai ter um ônus complicado.
Mendonça - Eu sei, eu sei. (...) Vamos pensar amanhã cedo,
se precisar...
Lara Resende - Se precisar a gente vai...
Mendonça - Para esperto, esperto e meio.
"Deixa cozinhar"
(Depois do leilão)
Pio Borges - É, tem que assinar.
Mendonça - Segunda-feira, né?
Pio - Tem que ser.
Mendonça - É, porque eu e o André estamos indo cedo praí
pra gente acertar isso. Deixa o negócio meio cozinhar, porque inclusive
eu vou conversar com o presidente domingo.
- Frases
"Ajuda, né? (risos) Para quem 'tá na miséria..."
(FHC a Luiz Carlos Mendonça de Barros, que comentava a expectativa
de arrecadar R$ 16 bilhões na venda das teles)
"Tem aí um monte de loucuras aí, que nós bombardeamos aí, porque
também não adianta..."
(Mendonça de Barros a FHC, anunciando os nomes de empresas que participariam
de consórcios inscritos no leilão)
"Se o Opportunity ganhar, morreu, acabou."
(Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do BB, para Mendonça de Barros,
sobre expectativa do resultado do leilão)
"Olha, o negócio engrossou, hein?"
(José Pio Borges, vice-presidente do BNDES, a Mendonça de Barros,
sobre indicação de presidente da Tele Norte Leste)
"É comissão pra cá, comissão pra lá..."
(Mendonça de Barros a André Lara Resende, do BNDES, em trecho cifrado
que indica pagamentos de fundos de pensão ao Banco FonteCindam)
"Ela vai estar te ligando sobre o assunto, você dá o sinal verde."
(Nelson Rozental, da BNDES Participações, conversando com Pio Borges
uma eventual hipótese de burlar o edital do leilão)
"I'm too old for this shit."
(Elena Landau, do Opportunity, em conversa com Rozental, da BNDESPar,
discutindo possível financiamento para o banco e dizendo-se "muito
velha para esta merda")
"Nós estamos indo no limite da nossa irresponsabilidade..."
(Ricardo Sérgio de Oliveira, conversando com Mendonça de Barros
sobre carta de fiança do BB ao Opportunity)
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