Conexão
Manágua
Terror tem lista de sequestráveis do Brasil
18/06/1993
Editoria: Cotidiano
Página: 3-6
Relação de possíveis vítimas é achada na Nicarágua
e mostra a ligação de sequestradores com o ETA a e FPL A íntegra
da lista de Manágua
Fernando Rodrigues
Da Reportagem Local
Foi encontrada em Manágua, na Nicarágua, uma lista com nomes de
aproximadamente 50 brasileiros "sequestráveis". A lista faz parte
de uma documentação apreendida pelo governo nicaraguense em 23 de
maio passado, depois de uma explosão em um depósito de armas clandestino
mantido pelas Forças Populares de Libertação (FPL), de El Salvador.
Os terroristas mantinham informações detalhadas sobre pessoas de
cinco países: Brasil, México, Venezuela, Equador e Bolívia. Os dossiês
de brasileiros e mexicanos são os mais fartos. Os sequestradores
arquivavam detalhes da vida pessoal do "sequestrável", valor estimado
do patrimônio e relações com o governo.
No caso de um empresário mexicano, os sequestradores são detalhistas
ao ponto de prever quanto poderão reduzir o valor do resgate na
hora de negociar. Sobre o Brasil, há informações sobre os principais
grupos econômicos, entre eles o Votorantim, o grupo Machline e o
Pão de Açúcar. Parte do material já havia sido microfilmado pelos
própios sequestradores. Todos os documentos estão encadernados em
45 volumes em cerca de 6.000 páginas em poder da Justiça da Nicarágua.
A Folha apurou junto a diplomatas que acompanham o desenvolvimento
do caso que os organizadores do "bunker" em Manágua são os mesmos
que comandaram os sequestros de Abílio Diniz (1989) e de Antonio
Beltran Martinez (1986). Há vários indícios que demonstram a conexão.
Além das listas de sequestráveis, a polícia nicaraguense encontrou
documentos falsos de 21 nacionalidades. Entre esses documentos,
havia mais de 300 passaportes. Uma pessoa - a mesma fotografia -
aparecia em cinco passaportes. Em um deles, salvadorenho, aparece
um indício de conexão com o caso Diniz.
O passaporte do salvadorenho está em nome de Juan F. Ascoli Andreu.
Junto ao passaporte foi encontrada uma carta de recomendação para
Ascoli da universidade canadense Simon Frazier, de Vancouver. O
papel timbrado da universidade é autêntico, mas o professor que
assina não existe.
Também são do Canadá, de Langley -próxima a Vancouver-, dois dos
sequestradores de Abílio Diniz: David Robert Spencer e Christine
Gwen Lamont.
"Eles tinham muitos documentos sobre a família Diniz e acho improvável
existir dois grupos internacionais operando sequestros da mesma
forma no Brasil", diz John Carroll, analista da Kroll Associates,
a maior empresa de investigação privada do mundo. Funcionava uma
oficina no local da explosão do dia 23 de maio. O mecânico era um
espanhol nacionalizado nicaraguense, em nome de Miguel Antonio Larios
Moreno. Tinha ligações com a organização separatista basca ETA.
Está foragido.
A casa de Santa Rosa foi alugada por uma mulher francesa-basca,
segundo a Folha apurou. Ela era a namorada de José Francisco
Mugica Garmendia, o Paquito, principal líder da ETA preso em maio
do ano passado pela polícia francesa.
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