Prêmio Folha Categoria Reportagem 1995
A verdadeira história policial de Rubem Fonseca



25/06/95
Editoria: MAIS!
Página: 5-10


MARIO CESAR CARVALHO
Enviado especial ao Rio

No dia 31 de dezembro de 1952, José Rubem Fonseca entrou pela primeira vez no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, um subúrbio operário na zona norte do Rio, para começar sua carreira de comissário. Tinha 27 anos.
Registrou a mão, em letras miúdas, cinco ocorrências em um caderno pautado: atropelamento, furto de documentos, choque de veículos com morte, agressão a faca e ferimento por arma de fogo.
Por volta do meio-dia de 1º de janeiro de 1953 finalizou seu plantão de 24 horas. Escreveu "nada mais ocorreu'' e assinou.
Até o dia 25 de junho de 1954, quando trocou as funções de tira de rua pela área de relações públicas da polícia, repetiria com variações o "nada mais ocorreu''.
A bem da verdade, ocorreu. Pesquisa de dois meses feita pela Folha em arquivos da polícia do Rio e depoimentos de seis policiais e um advogado que trabalharam com ele à época rompem com o mistério que cerca sua vida. Fonseca não dá entrevistas e só passa informações vagas ou fantasiosas a jornalistas que escolhe. Não foi camelô nem delegado, por exemplo.
Continuaria na polícia até 6 de fevereiro de 1958. Cinco anos depois, estrearia na literatura com o livro de contos "Os Prisioneiros''. Assinava Rubem Fonseca.
Nesse e nos 12 livros que se seguiram até 1994, o escritor usou casos reais que o comissário investigou, personagens que conheceu e lugares por onde andou.
Vale para muitas histórias de Fonseca o título original do conto "Relato de Ocorrência em que Qualquer Semelhança Não É Mera Coincidência''. Saiu em "Lúcia McCartney'' (1967) e após a sexta edição viraria "Relato de Ocorrência''. As coincidências abundam, a começar pelo próprio conto. Veja:
O caso da vaca atropelada que é devorada por famélicos, contada em "Relato de Ocorrência'', aconteceu em 1953, quando Fonseca servia ao 24º Distrito Policial, em Madureira, zona norte do Rio. Quem confirma a coincidência é o delegado aposentado Mário César da Silva, 71, companheiro de Fonseca no DP de Madureira. "Foi a primeira vez que sentimos a cruel realidade da fome'', diz (leia mais à pág. 6-12).
No dia 5 de agosto de 1954, por volta da meia-noite, Fonseca tomava um copo de leite a cerca de cem metros da rua Toneleros, em Copacabana. Por pouco não viu o atentado que feriu o pé de Carlos Lacerda, líder da oposição ao presidente Getúlio Vargas, e matou o major Vaz, todos os três personagens de ``Agosto''.
Fonseca estava com o delegado de Copacabana à época, Jorge Luiz Pastor, e os comissários Ivan Vasques e Mário César da Silva.
Pastor e Vasques foram investigar o tiro que acabaria levando Vargas a cometer suicídio. Fonseca e Silva deram uma passada na rua Toneleros e depois foram dormir. Pastor virou personagem de "Agosto''. Já havia aparecido no conto "A Coleira do Cão'', publicado no livro homônino em 1965 (leia mais à página 6-13).
Pastor não é o único amigo de Fonseca que aparece com nome real em duas histórias. Luiz Weksler, seu colega de classe na Faculdade de Direito do Rio entre 1945 e 1948 e sócio do futuro escritor em um escritório de advocacia, virou Luiz Wexler no romance "A Grande Arte'' e no conto "Mandrake'', de "O Cobrador'' (1979).
"Não consegui ler `A Grande Arte' até o fim. Não me agradou'', esnoba Weksler, 75, o verdadeiro (leia mais à pagina 6-12).
O tira, "comissa'' ou polícia, como se dizia nos anos 50, virou escritor, mas um escritor assombrado pelas memórias do tira.


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