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Futebol na Rede

16/05/2005

Quando um gol vale mais que uma carreira

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Não existe nada mais importante numa partida de futebol do que um gol. Marcar um tento é tão marcante que para alguns jogadores um "simples" gol parece ser maior que toda a carreira. Ao falar de alguns jogadores, só aparece na lembrança do torcedor o gol inesquecível que ele marcou. Nesta semana Futebol na Rede relembra alguns desses jogadores.

Ronaldo - O atacante, que jogou em clubes como Atlético-MG, Palmeiras e Cruzeiro, cansou de ganhar títulos por onde passou. Só de Campeonatos Brasileiros foram três, conseguidos em anos consecutivos (1971 pelo Atlético-MG e 72/73 no Palmeiras), além da Libertadores de 1976, jogando pelo Cruzeiro. Mas os torcedores, principalmente do Palmeiras, só se lembram dele por causa do gol que ele marcou na final do Campeonato Paulista de 1974, que evitou que o Corinthians quebrasse o jejum de 20 anos sem ganhar um título paulista.

Basílio - Se Ronaldo fez os corintianos chorarem, Basílio virou herói ao marcar o gol da vitória do Corinthians sobre a Ponte Preta na partida decisiva do Campeonato Paulista de 1977. O gol acabou com a agonia do time que desde de 1954 não conquistava um Campeonato Paulista. O gol marcou tanto o atleta que pouco se fala de sua carreira, que começou na Portuguesa. Ninguém cita outros gols dele.

Maurício - A camisa sete do Botafogo se tornou um símbolo após ser usada por Garrincha. A simbologia ficou muito mais forte depois que um jogador usando a número sete acabou com o maior sofrimento da história do clube. Em 1989, ao complementar o cruzamento vindo da esquerda, o ponta-direita Maurício quebrou o jejum de títulos do Botafogo que já durava "eternos" 21 anos. Após o gol, Maurício teve passagens pela seleção brasileira, Grêmio, Internacional e Portuguesa, mas poucos se lembram o que este ponta-direita, alto e de boa habilidade, fez além do gol do título do Botafogo.

Cocada - Final do Campeonato Carioca, o Vasco jogava pelo empate para garantir o título contra o Flamengo. Aos 40min do segundo tempo, entra em campo o lateral-direito Cocada. Com pouco mais de dois minutos em campo, Cocada arranca pela direita, dispara um forte chute, vence Zé Carlos e faz o gol do Vasco. Na comemoração do gol, vai vibrar na frente do banco do Flamengo e inicia uma grande confusão. O gol fez Cocada entrar na história. Sem ele, o atleta seria apenas mais um irmão de jogador famoso (ele é irmão do atacante Muller, que teve destaque jogando no São Paulo e em outros grandes times), que teria feito uma carreira medíocre e seria facilmente esquecido.

Aílton - Ele sempre foi um jogador bastante regular, que jogou em times como Flamengo e Fluminense, mas foi no Grêmio que ele marcou sua carreira, com um gol decisivo. Ao pegar de sem-pulo, após uma bola mau rebatida pela defesa da Lusa, ele marcou o gol que deu o título de Campeão Brasileiro ao time gaúcho em 1996. O tento fez o jogador entrar na história do Campeonato Brasileiro. Em qualquer retrospectiva do torneio, seu gol aparece e ele é lembrado. Se não fosse esse gol, o jogador seria lembrado por ter feito a jogada que acabou no gol de barriga de Renato Gaúcho, na vitória do Fluminense contra Flamengo, na final do Estadual do Rio de 1995.

Viola - Não se pode dizer que a carreira de Viola não foi vencedora. Ele ganhou vários títulos pelo Corinthians, foi campeão do mundo em 1994, mas vai sempre ser lembrado pelo gol que fez pelo Corinthians na final do Campeonato Paulista de 1988, contra o Guarani. O tento solitário, feito após o desvio de um chute errado de Wilson Mano, transformou o, na época jovem atacante, em herói da torcida corintiana. Vale dizer que ele só jogou porque o titular da posição, Edmar, estava na seleção brasileira.

Sorato - O gol marcado por Sorato na final do Campeonato Brasileiro de 1989, contra o São Paulo, deu ao atacante o status de herói e de grande artilheiro. O de herói vai ficar para sempre, pois seu gol deu ao Vasco o título do torneio. O de grande jogador nunca se confirmou. Sorato jogou por vários clubes, mas nunca teve um desempenho à altura da fama que ganhou com seu gol decisivo.

Zico - Antes de mais nada vale dizer que não estamos falando do craque do Flamengo, mas sim de um goleiro que atuou com destaque no futebol paranaense no final dos anos 70 e início dos 80. O lance que marcou a carreira do goleiro aconteceu em 16 de novembro de 1980, quando ele atuava pelo Cascavel. Ao receber uma bola recuada, o goleiro a segurou (na época era permitido usar as mãos em bolas recuadas) e caminhou até a entrada da sua área, onde deu um chute. A bola foi viajando, ajudada pelo vento, quicou e, para a surpresa de todos, encobriu o goleio Joel Mendes, do Colorado. Foi um gol de goleiro --e não foi de cabeça, nem de falta.

No futebol, como na vida, não é preciso fazer várias coisas para ficar marcado. Muitas vezes, apenas um ato bem feito já é suficiente.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para o aniversário de 80 anos de Nílton Santos. O ex-lateral-esquerdo é um símbolo da história do Botafogo e, atualmente, não poderia receber melhor presente do que a atual campanha do clube. Depois de 17 anos atuando na equipe, em que ganhou vários títulos (nunca perdeu uma decisão), ele foi nomeado como consultor técnico do clube. Coincidência ou não, depois que ele passou a freqüentar os treinos do time, o Botafogo não perdeu mais. Dos quatro times brasileiros que continuam na Libertadores, três perderam na rodada do final de semana. Mais preocupados com os seus compromissos pelo torneio continental, Palmeiras, Santos e Atlético-PR foram derrotados por Paraná, Flamengo e Corinthians em jogos em que eram considerados favoritos. O São Paulo, mesmo vencendo o Coritiba, também jogou uma partida muito ruim e venceu graças a um gol de cabeça de Fabão.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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