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Futebol na Rede

01/07/2006

Acabou para nós. Até 2010...

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Terminou a Copa do Mundo paro Brasil. Perdemos para a França, sem qualquer influência da arbitragem. Fomos derrotados por um time que foi infinitamente melhor que o nosso. Sofremos um revés, porque tivemos no lado francês, um craque. Numa Copa do Mundo em que não tínhamos tido nenhuma atuação individual fantástica, Zidane foi perfeito, deu uma aula de futebol. Diferente dos nossos craques que não apareceram para decidir, Zidane, que vinha fazendo uma Copa ruim, acabou com o time brasileiro. Na hora que se espera que um craque decida, ele apareceu --aliás, muito parecido com que ele fez em 1998 quando decidiu a partida contra o Brasil. Se existe alguma coisa boa na classificação francesa é que nos resta o consolo de poder assistir Zidane em mais dois jogos.

A França foi melhor durante toda a partida, mas não só Zidane decidiu. A escalação que Parreira colocou em campo foi decisiva para que os franceses tivessem a superioridade demonstrada. Ao escalar Juninho Pernambucano no lugar de Adriano, o técnico entregou de bandeja a vitória aos franceses. Com a formação inicial do time brasileiro, o time continuou sendo um time pesado, sem mobilidade. Seria lógico, quando um time francês que tem a média de idade mais alta da Copa, que o Brasil tivesse entrado com um time leve que fizessem os franceses correrem. Não fizemos isso, quisemos cadenciar e estamos fora da Copa.

O nosso treinador colocou o jogador do Lyon, para tentar equilibrar o setor de meio-de-campo com os franceses, que jogam com cinco homens no meio. Só que isso não funcionou, mesmo quando tivemos cinco homens no nosso meio, sempre levamos desvantagens no setor. E isso é muito fácil de explicar. O time brasileiro com essa formação ficou muito fácil de se marcar. Quando tomávamos a bola, Kaká, Zé Roberto e Juninho Pernambucano a carregavam para o meio de defesa francesa e eram facilmente marcados. O avanço dos laterais seria uma opção, mas tanto Cafu quanto Roberto Carlos, além de atuarem mal, ficavam preocupados de atacar e ser surpreendidos com uma bola nas costas.

Já os franceses, quando tomavam a bola, os seus meias abriam para as pontas e sempre tinham liberdade para receber a bola. Com os meias franceses abertos pelos flancos, os jogadores do nosso meio tinham que estar sempre se deslocando e, por isso, os franceses conseguiam ter liberdade para jogar. Com a bola nos pés, a França controlava o jogo e conseguia manter o Brasil longe do seu gol --isso aconteceu quase toda a partida, pois o primeiro chute a gol, que Barthez teve que trabalhar, foi no final da partida.

Essa vantagem seria sensivelmente diminuída se Parreira colocasse alguém para marcar Zidane. Mas isso não aconteceu, e o meia francês desfilou em campo. Com tamanha vantagem, o time francês só não venceu no primeiro tempo porque o trio defensivo brasileiro --Lúcio, Juan e Gilberto Silva-- atuavam bem.

O segundo tempo começou na mesmo ritmo. A França com espaço e mantendo a posse de bola e o Brasil não conseguindo jogar. O gol francês aconteceu numa cobrança de falta. O cruzamento de Zidane feito para o segundo pau e um jogador entrando nas costas do lateral do adversário (esse gol foi parecido com o segundo tento francês na partida contra a Espanha, mas parece que a comissão técnica não assistiu o lance).

Depois do gol, a França continuou dominando e, nos contra-ataques, quase aumentou a vantagem. Parreira finalmente mexeu e mal. Colocou Adriano e o time continuou sem mobilidade. Depois, a entrada de Cicinho. Só conseguiu algum sucesso com a entrada de Robinho. Mas aí já era tarde, e os franceses já tinham a classificação assegurada.

Notas
Dida - Fez uma boa defesa, mas poderia ter saído no lance do gol francês. Nota 5,5
Cafu - Uma partida ruim. Teve problemas na marcação e no apoio não fez nada de útil. Nota 4
Lúcio - Foi o jogador mais regular na campanha do Brasil na Copa e fez outra boa atuação. Mostrou raça. Nata 7
Juan Bom primeiro tempo, mas estava mal colocado no gol da França. Nota 5,5
Roberto Carlos - Péssimo. Mal no apoio, limitou-se a fazer pose para dar alguns lançamentos (todos errados). Nota 3,5
Gilberto Silva - Ficou na marcação, segurou o time francês no primeiro tempo. Nota 6
Zé Roberto - Correu muito, mas nem conseguiu marcar e nem foi útil no ataque. Nota 5
Juninho Pernambucano - Foi muito mal. Não atuou como volante e nem como meia. Pelo seu setor, Zidane fez a festa. Nota 4
Kaká - Apagado. Não conseguiu achar sua posição em campo. Nota 4
Ronaldinho - Jogou no ataque, como gosta. Mas não fez nada. A maior decepção da Copa. Nota 3
Ronaldo Mesmo fora de forma, tentou alguma coisa. Cavou uma falta e deu uma finalização perigosa. Nota 5,5
Adriano - Entrou, mas não pegou na bola. Nota 3
Cicinho - Mostrou mais vitalidade que Cafu, mas não fez uma jogada boa. Nota 3
Robinho - Entrou tarde e mostrou que poderia mudar o ritmo do jogo. Nota 5
Carlos Alberto Parreira - Escalou muito mal o time e demorou para colocar Robinho no campo. Nota 3

Para o Brasil a Copa acabou, mas o Mundial e a vida continuam.
Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Com o fracasso de Brasil e a Argentina, a Copa do Mundo ficará na Europa. Agora, nos confrontos semifinais entre Alemanha x Itália e Portugal x França, apesar do equilíbrio, Alemanha e França, ao meu ver, entram como favoritos para decidirem o título. Os alemães porque jogam em casa, e a França porque vem fortalecida com essa grande atuação contra o Brasil. Mas é bom os dois times ficarem atentos, pois derrubar favoritos é a principal especialidade da Itália e do treinador de Portugal, Luiz Felipe Scolari. A seleção brasileira de 2006 lembrou muito o time de 1990. Bons jogadores, mas atuações que não convenceram. Treinadores que tinham várias opções, mas, quando mudaram o time, mexeram mal. Jogadores mais preocupados em marcas pessoais, como quebra de recordes do que com o coletivo. Reservas reclamando publicamente um lugar no time e o elenco divido em grupos. E, no jogo da nossa eliminação, perdemos porque não tivemos humildade para marcar o principal jogador adversário. Maradona em 1990 e Zidane em 2006.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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