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Futebol na Rede

22/07/2002

De vício e fanatismo

HUMBERTO PERON
colunista da Folha Online

Vou usar este espaço esta semana para fazer uma confissão: sou viciado em futebol. Dizem que quando você é viciado em algo, acaba mudando sua vida, larga seu emprego, sua carreira. E foi o que eu fiz. Larguei uma carreira para começar outra e poder ficar mais perto do futebol. Sem dizer as inúmeras vezes que menti, dispensei convites, inventei doenças e trabalhos extras apenas para poder assistir a uma partida de futebol qualquer, sem nenhuma importância.

Não confunda vício com fanatismo. O fanático não se importa com o que acontece com o futebol como um todo, ele só tem olhos para o seu clube. Tudo que contrarie seu clube é tratado como conspiração. Basta ele ler ou ouvir algo para ficar ofendido, para falar que ninguém entende de futebol, a não ser ele e os torcedores de seu time.

O viciado, não. Ele tem um time para o qual torce, mas prefere simplesmente discutir uma partida de futebol, independentemente do time ou resultado. Outra diferença fundamental é que o fanático, de uma hora para outra, abandona o futebol e esquece seu clube. Quase sempre volta a acompanhar o time, mas para ele esses meses ou anos que esteve ausente não existiram na história do futebol. Sem dizer que todo fanático pensa que é craque de futebol nas peladas, enquanto o viciado joga apenas para se divertir.

Voltando ao vício, ele começa ainda na infância. No meu tempo de menino era impossível não se viciar em futebol podendo ver o final da época de ouro do Santos _era obrigatório ver os últimos jogos de Pelé_, a Academia comandada por Ademir da Guia, o genial meio-campo do São Paulo com Gérson e Pedro Rocha, a eterna luta de Rivelino para tirar o Corinthians da longa fila de títulos, o Internacional de Falcão, o Cruzeiro com os chutes certeiros de Nelinho, sem contar os jogos dos paulistas contra os inimigos cariocas.

Isso é passageiro, você pensa, sua família pensa, mas logo só assistir às partidas não te satisfaz mais. Você tem que ouvir os programas no rádio, acompanhar todos os programas na televisão, comprar revistas, ler todos os jornais. O caso é extremado quando você tenta fazer isso ao mesmo tempo.

A televisão, nos últimos anos, se transformou na maior propagadora do vício. Com as TVs por assinatura é possível assistir aos jogos de todos os cantos do mundo. É possível ligar a TV no sábado de manhã e entrar numa maratona futebolística que só irá acabar no final do domingo.

Você pode se sentir um autêntico viciado em futebol, quando você começa assistir aos jogos na praia, ou nos canteiros das avenidas das grandes cidades e começa a comentar e até narrar os lances da partida.

Os viciados em futebol se atraem e passam horas discutindo sobre lances e jogadores do passado e tentam se lembrar de escalações de times inesquecíveis, além de descreverem jogadas e gols inesquecíveis. Sem dizer que sempre existe uma disputa, quase sempre velada, de quem é mais viciado, ou melhor, de quem se lembra de algo que ninguém se lembre ou saiba.

No último dia 17, foi comemorado o "Dia do Futebol". Não poderia deixar a data em branco. Fiquei procurando alguma partida para assistir. De repente achei os melhores momentos do jogo que valia uma vaga na primeira divisão inglesa. O resultado e os times pouco importam. Eu só queria ver uma partida de futebol para sustentar o meu vício.

Até segunda, se o vício deixar.

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O destaque   O que deveria ser destaque
Depois de ser um dos destaques da última Copa do Mundo, Rivaldo acabou sendo dispensado pelo Barcelona. Em cinco anos de clube, Rivaldo viveu momentos de amor e ódio com a torcida. A volta do técnico Louis van Gaal e a contratação do meia Riquelme precipitaram sua saída. Além disso, o time catalão economizará US$ 6 milhões, que era o salário do craque por temporada. Por ser um dos melhores jogadores do mundo, e com passe nas mãos, o meia não deve ficar muito tempo desempregado. As semifinais da Copa dos Campeões. Em Fortaleza, Flamengo e Cruzeiro, duas equipes que apostaram em novos valores, devem fazer uma partida equilibrada e sem favoritos. Em Belém, o Paysandu, conta com o apoio da sua fanática torcida e os gols de Jajá para eliminar o Palmeiras e chegar à final do torneio. Já o time de Wanderley Luxemburgo, mesmo renovado e com novos jogadores, ainda depende muito das defesas de Marcos e, principalmente, das cobranças de falta para conseguir as vitórias.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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