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10/11/2003

Artigo: Didi encantou brasileiros e peruanos

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

No domingo (16), contra o Peru, a seleção brasileira faz sua terceira partida nas eliminatórias da Copa de 2006. Toda vez que ocorre um confronto entre brasileiros e peruanos é uma grande oportunidade para se lembrar de um dos maiores jogadores da história do nosso futebol: Didi.

Didi, ou Valdir Pereira --seu nome original--, era um armador fabuloso que distribuía passes e fazia lançamentos precisos. Graças à classe e elegância com que jogava, ganhou o apelido de "O Príncipe Etíope".

Foi ídolo no Fluminense e no Botafogo nas décadas de 50 e 60. Jogou 74 partidas com a camisa da seleção, entre 1952 e 1962, tendo anotado 21 gols. Disputou ainda três Mundiais (1954, 1958 e 1962) e foi campeão em dois deles (1958, na Suécia, e 1962, no Chile).

Além de um craque em campo, Didi também era um líder nas equipes em que atuava. Ficará marcado para sempre o seu gesto na final da Copa de 1958. Após os suecos abrirem o placar, ele foi buscar a bola no fundo do gol brasileiro e saiu caminhando lentamente para o meio de campo, conversando, dando moral aos companheiros. Para muitos jogadores, o gesto foi fundamental para que o Brasil virasse a partida e conquistasse o seu primeiro título mundial.

Mesmo com o estouro de Pelé, Didi foi considerado o melhor jogador daquela Copa.

Voltando aos confrontos contra os peruanos, é sempre bom afirmar que Didi esteve dos dois lados desse confronto, nos dois jogos mais importantes entre os países.

O primeiro foi no dia 21 de abril de 1957, no Maracanã, pelas eliminatórias para a sétima Copa do Mundo, que seria disputada na Suécia. Brasileiros e peruanos lutavam por uma vaga no Mundial. Na primeira partida, disputada em Lima, houve empate de 1 a 1 e apenas uma vitória levaria o Brasil para o Mundial.

O jogo estava equilibrado, o time orientado por Osvaldo Brandão encontrava dificuldades para furar o bloqueio peruano. Até que surge uma falta nas proximidades da área peruana. Didi ajeita a bola e chuta. A bola sai sem muita força, encobre a barreira, ganha muita altura, cai rapidamente e entra, enganando o goleiro. É o "folha-seca", tipo de chute que foi sua marca registrada.

Com o gol de Didi, o Brasil ganhou suado do Peru, garantiu ida para a Suécia, onde conquistaria depois seu primeiro título mundial.

Em 14 de julho de 1970, no estádio Jalisco, Brasil e Peru disputam uma vaga na semifinal da Copa do México. No banco peruano, Didi, agora técnico.

"O pior momento daquela partida foi a hora em que o hino nacional foi executado. Eu fiquei paralisado, com a boca seca, imaginando que estava com a camisa oito do Brasil. Pensava se os brasileiros iriam me chamar de traidor, caso o Peru vencesse, e os peruanos poderiam pensar que eu facilitaria a vitória do Brasil", declarava o ex-craque toda vez que era perguntado sobre a partida.

Além desse jogo, outro fato mudou a vida de Didi enquanto ele comandou o Peru. Em um dos treinamentos, ele se chocou com um jogador peruano e teve uma contusão na coluna. Com o passar do tempo o problema foi se agravando e Didi, no final de sua vida, tinha sérios problemas para caminhar. Em maio de 2001, aos 70 anos, morreu.

Voltando à partida do estádio Jalisco, a vitória acabou sendo do Brasil, por 4 a 2, com gols de Tostão, um de Rivellino e outro de Jairzinho, enquanto Gallardo e Cubillas descontaram para os peruanos.

Mesmo com a eliminação do Peru, Didi ainda é reverenciado pelos peruanos por ter desclassificado a Argentina nas eliminatórias para a Copa de 70 e por ter levado o país ao sétimo lugar naquele Mundial --melhor colocação peruana na história. Seu trabalho foi tão bom que Didi abriu campo para que outros treinadores brasileiros trabalhassem na seleção daquele país.

Elba de Pádua Lima, o Tim, classificou o Peru para a Copa da Espanha, em 1982, última participação do país andino em Mundiais. Pepe dirigiu os peruanos, mas sem muito sucesso.

No próximo domingo será a vez de Paulo Autuori sentir a mesma emoção de Didi e enfrentar a seleção brasileira.

Até a próxima.

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Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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