22/03/2004

Artigo: A vida solitária dos técnicos de futebol

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Durante vários momentos de nossas vidas nós nos sentimos sozinhos. Você pode estar cercado de pessoas ou amigos, mas, na verdade, você vive na mais completa solidão, como se não existe ninguém ao seu lado. Você não consegue enxergar ninguém em quem pode confiar ou trocar algumas palavras. No futebol, quem está sempre nessa situação são os treinadores.

A vida solitária do técnico começa quando ele tem que escolher os 11 jogadores que entrarão em campo. Por mais que ele tenha auxiliares vai chegar um momento na semana em que ele vai ter que ficar só para escolher o time que vai jogar. Ele tem de pensar nos que vão jogar, nas alternativas que estarão no banco e finalmente em como terá de encarar os outros atletas que não foram relacionados. Nessa situação, o técnico tem de ser solitário mesmo, pois precisa escapar de todos os palpites que ouve durante a semana.

No jogo, a solidão só aumenta. Durante os 90 minutos, a decisão de fazer uma alteração, que pode fazer com que sua equipe perca ou ganhe, fica em suas mãos. Ou melhor, nas suas idéias.

Outro momento de profunda solidão para os treinadores está no final das partidas, principalmente após as derrotas. Caem nas costas dos treinadores todas as explicações de um possível fracasso. Se o time vence, o treinador também é esquecido. Nesse caso, a vitória será dos jogadores.

Além disso, se para os jogadores uma partida acaba após o apito do juiz, para um técnico a partida continua por um bom tempo. Solitariamente, ele passa um grande tempo pensando na partida, nas decisões que tomou durante o jogo e o que deverá ser mudado para as próximas partidas.

Por se isolarem, muitos técnicos se tornam pessoas prepotentes. Como vivem solitários, pensam que só existe uma maneira de enxergar o futebol. Tornam-se "donos da verdade". Talvez seja por isso que todo técnico seja considerado teimoso. Por mais que os fatos indiquem que sua posição esteja errada, ele mantém seu pensamento, na esperança de que se o resultado aparecer ele poderá comemorar sua vitória --mesmo que seja de uma maneira solitária.

Todo treinador de futebol é uma pessoa solitária, pois sabe que não pode nem contar com o apoio dos seus "amigos" de profissão. Todo técnico sabe que a qualquer momento pode ser substituído por um "colega". Os técnicos são tão desconfiados e acostumados a trabalharem sós que quase todas as tentativas de se formar uma comissão técnica com dois ou mais técnicos acabam não dando certo.

No futebol, ninguém vive tão cercado de pessoas, mas ao mesmo tempo ninguém vive tanto na solidão como os treinadores.

Até a próxima.

É incrível como nossos cartolas não conseguem bolar uma fórmula de campeonato e esquecem os erros dos anos anteriores. Agora é a vez de o São Paulo reclamar de sua precoce eliminação no Campeonato Paulista, depois de ter feito a melhor campanha e ficar a primeira fase do torneio invicto. É sempre bom lembrar que a mesma coisa aconteceu no ano passado, quando o São Caetano, que fez a melhor campanha na classificação, acabou sendo eliminado pelo Palmeiras. Com regulamentos tão mal elaborados fica díficil não defender a fórmula dos pontos corridos do Campeonato Brasileiro.		Carlos Alberto Parreira sempre foi um técnico coerente. Mas não posso concordar com a afirmação do técnico de que o motivo da não-convocação do jogador Mancini, da Roma, está no fato de que ele não está atuando como lateral-direito. Se fosse por esse motivo, o técnico não deveria convocar vários atletas, como por exemplo o meia Zé Roberto. O ex-jogador da Lusa faz no seu clube, o Bayern, uma função diferente da que executa na seleção. No seu clube ele tem a libertade de atuar como um armador, enquanto na seleção ele joga como um volante marcador pela esquerda com pouca liberdade para atacar.