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Papo de Esporte

03/06/2003

Artigo: Mitotônio e a panelada assassina

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Mitotônio almoçou panelada _cozido tipicamente nordestino de vísceras de bode_ e foi trabalhar. Era 1º de abril de 1951, mais um domingo de sol e calor em Fortaleza.

Durante o expediente, sentiu-se mal e foi levado a um hospital. O diagnóstico: congestão estomacal aguda (ou acúmulo excessivo de sangue no estômago). Mitotônio morreu.

Acontece que Mitotônio era ponta-esquerda do Ceará e formava, ao lado de Hermenegildo, uma temida dupla de ataque. O binômio almoçar panelada e jogar futebol custou sua vida, mas o transformou numa lenda do futebol cearense.

Mitotônio era um cabra chegado a façanhas. Comandou, por exemplo, um show do Ceará contra o Sussex Trader (Inglaterra), clube que excursionou pelo Brasil em 1949. Os ingleses perderam de 16 a 0 numa jornada histórica da equipe brasileira.

Anos antes, em 1942, foi bicampeão estadual num time que tinha como zagueiro central o voluntarioso Vinte e Oito.

Fosse jogador profissional nos tempos de hoje, jamais teria comido panelada antes de uma partida de futebol.

A nutrição assumiu, em todos os esportes, um papel preponderante da década de 90 para cá. E a tendência é que as benesses da boa e adequada alimentação incrementem ainda mais o rendimento de esportistas de alto nível.

É pena que o folclórico Mitotônio não teve a oportunidade de desfrutá-las.

Lá e cá

- Há exatos dez anos, este colunista era recebido por Roberto Rojas em sua modesta casa na periferia de Santiago. Impedido de trabalhar por causa de uma punição perpétua imposta pela Fifa, Rojas passava por dificuldades e se via obrigado a vender bens para sustentar a família. Não tinha mais carro e percorria o país participando de jogos beneficentes em troca de um punhado de dólares (no dia da entrevista, ele acabara de chegar de Punta Arenas, no extremo sul do Chile, onde tinha jogado sob um temperatura de -12ºC). O único emprego fixo que tinha conseguido, na escolinha do Colo-Colo, pagava US$ 500 mensais. Rojas dizia-se esquecido e perseguido no próprio país. A prova de que o mundo dá voltas: hoje, como preparador de goleiros do São Paulo, ganha quase dez vezes mais _fora o bônus por ter acumulado a função de treinador.

- Só para lembrar: Rojas foi punido por simular um ferimento no jogo entre Brasil e Chile, pelas eliminatórias da Copa de 1990. O episódio, conhecido como "Farsa do Maracanã", não foi desvendado pelas câmeras de televisão (ainda tímidas e mal posicionadas na época), mas por uma foto do argentino Ricardo Alfieri. A imagem revelou o embuste no incidente com o sinalizador marítimo lançado no gramado por uma torcedora que viraria capa da revista Playboy. Pressionado, Rojas revelou, um mês depois do jogo, que se cortou com um bisturi que levava na luva. "Fiz isso por meu país", diz hoje. Veja a foto e confira como a mentira de Rojas foi descoberta.

- O leitor Fernando Podestá, de Buenos Aires, diz que o site Barra Bravas, sobre o qual falei há duas semanas, não é uma reprodução fiel do comportamento das torcidas argentinas. O site incita a violência e atiça a rivalidade entre as gangues uniformizadas. Podestá diz que se trata de uma minoria e que o problema é globalizado. Para ilustrar, lembra o dia em que a torcida do Boca Juniors teve dificuldades para sair de São Januário após um jogo contra o Vasco na Copa Libertadores de 2001. "Por um acaso não eram barras bravas brasileiros?", indaga. Concordo em gênero, número e grau.

- A Uefa divulgou nesta terça-feira os números relativos à audiência da Copa dos Campeões na temporada 2002/2003. Uma média de 46 milhões de pessoas assistiram a cada rodada da competição pela televisão, 9% a mais do que foi registrado no ano passado. Na Itália, a final entre Juventus e Milan bateu um recorde histórico: 84,4% dos televisores do país sintonizavam o jogo no momento das cobranças de pênalti _que consagraram Dida e deram o título ao Milan. Na média, 20,2 milhões de italianos viram a partida pela TV.

- A maior lembrança que os dirigentes do Cruz Azul levaram do Brasil não foi uma garrafa de pinga ou uma camisa da Mangueira, mas maços de cigarro com a inscrição "fumar causa impotência sexual". Os cartolas do clube mexicano, eliminado da Libertadores pelo Santos, fizeram blitze em padarias, bancas e botequins em busca dos cobiçados maços, que compraram aos montes para presentear os amigos. É que no México o assunto é tabu e "jamais seria tema de uma campanha governamental", conforme explicou um dos dirigentes, às gargalhadas.

- Sem ter culpa no cartório, a Lusa arrumou uma dívida de R$ 40 mil. O clube era o fiador num contrato de aluguel de um apartamento de alto padrão em Santana (zona norte de São Paulo). Por lá passaram os jogadores Tinho, Márcio Goiano e Marcelo Moreto. Este último, segundo o proprietário, deixou de pagar aluguel (R$ 1.700), condomínio (R$ 600) e IPTU por vários meses. Para completar, em 7 de maio (quando retomou a posse do imóvel), o dono levou um susto: sumiram uma geladeira e um colchão, entre outros itens, e o apartamento estava semi-destruído. A Lusa mandou funcionários ao local para checar a extensão dos estragos, mas a agilidade do clube parou na hora em que começou a discussão sobre a quitação do débito.
SIC
Eu defendi a bola. Mais do que aquilo? O que vocês queriam? Impossível

Rogério Ceni, goleiro do São Paulo, tentando explicar o lance do terceiro gol do Santos, marcado após rebote em cobrança de falta de Alex. No mínimo, a torcida queria que não tivesse sido gol
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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