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Comentários de Jair Balen
Em 20/10/2008 23h06
Há 25 anos eu ouço dizer que se o brasileiro, o chinês e o indiano tivessem incremento de algumas unidades monetárias em sua renda não haveria produção de grãos suficiente no mundo para alimentar essas pessoas. Aí, aumentam os preços das commodities e os iluminados de plantão querem dizer que isto é culpa do capitalismo, ou culpa da utilização dos grãos agrícolas para a produção de energia. Outra coisa; não me convencem os críticos do capitalismo que usufruem das vantagens que lhes são proporcionadas pelo regime capitalista. Ou, sejam coerentes e vivam à margem do capitalismo, ou não critiquem de forma oportunista um regime que lhes está fazendo bem, lhes satisfazendo e engordando sua urna, nos pleitos eleitorais, pelos discursos falsos de que o capitalismo é perverso.
Eu, por ser Engenheiro Agrônomo, entendo um bocado dessa falácia do aumento de preço da alimentação em função do incremento dos bio-combustíveis. Digo, com autoridade profissional (sem, portanto, falsidade ideológica) que com a tecnologia e com áreas disponíveis de fronteira agrícola e outras por conquistar, haverá produção suficiente para alimentar a humanidade e, com apenas os excedentes de produção, disponibilizar bio-combustíveis para fazer frente à possibilidade de escassez de fontes de energia não-renováveis. Vou destacar um trecho da entrevista do Schutter para consolidar o que estou dizendo:
-" Eu compartilho a visão de muitos analistas de que o aumento da produção de agro-combustíveis pode responder entre 15% a 30% do aumento do preço (de alimentos) desde 2007 e 2008. Seria necessário distinguir com muito cuidado entre as diferentes produções de agro-combustíveis. E eu não penso que o impacto de se produzir álcool a partir da cana-de-açúcar no Brasil, o que tem sido feito há 30 anos, poderia ser colocado no mesmo plano que a transformação do milho em álcool nos Estados Unidos, ou das metas muito ambiciosas que a União Européia estabeleceu para o uso de agro-combustíveis em transportes."
Diria mais, o milho é a cultura agrícola que mais responde às práticas e técnicas culturais como correção do solo, adubação, uso de sementes de alta tecnologia (híbridas, certificadas e transgênicas) e irrigação artificial. Qualquer respingo de tecnologia adicional seria suficiente para alimentar o mundo e fornecer álcool e etanol para a demanda da energia requerida. A cultura do milho só não tem mais tecnologia alocada em função das constantes sobras de estoques mundiais do cereal. Ademais, poder-se-ia manter as lavouras atualmente exploradas para a produção de grãos para alimentação humana universal e desbravar novas áreas empresarialmente exploradas para o propósito específico da produção de grãos para fins de satisfação energética mundial. Até onde eu sei, tirando a parte da cana-de-açúcar que é canalizada para a produção de açúcar para alimentação humana, toda sua produção incremental pode ser utilizada tranquilamente para a produção de álcool ou bio-combustíveis quetais. Outra parte da sua entrevista interessante de sublinhar, que coincide com meu pensar é a seguinte:
-" Quanto à moratória de cinco anos, eu acho que é uma medida generalizadora e que não é suficientemente cuidadosa com os diferentes tipos de agrocombustíveis. Por exemplo, na Índia e na China, existem experiências muito interessantes com plantas como jatropha ou sorgo doce, que não competem com a produção de alimentos. Jatropha, por exemplo, pode ser plantada em áreas quase desérticas onde alimentos não poderiam ser cultivados. Sorgo doce produz comida e também alimento com partes diferentes da mesma planta."
Complementando, diria que a mamona, a beterraba, o próprio sorgo citado, o dendê e o arroz cuja produção é sempre excedente e basicamente quem come são brasileiros e chineses, também são potenciais fornecedores de bio-combustíveis e seu uso como tal não traria prejuízo e majoração de preços à alimentação universal. Mais um trecho da entrevista que gostaria de comentar:
-" No entanto, eu devo enfatizar que as condições sociais que estes trabalhadores enfrentam nas plantações de cana são extremamente preocupantes e que, apesar de o equilíbrio ambiental da cana-de-açúcar produzida no Brasil não ser tão ruim quanto o do milho ou do dendê, por exemplo, o equilíbrio ambiental ainda não é tão positivo quanto se pode esperar. E é por isso que eu prefiro usar o termo "agrocombustíveis" do que "biocombustíveis"."
Perguntem aos trabalhadores rurais das lavouras de cana-de-açúcar, se eles preferem que sejam mantidos os seus empregos, o seu trabalho ou se eles acham que deveriam ser eliminadas as lavouras de cana em seu habitat ou mesmo eliminar os seus serviços em troca da adoção de máquinas que plantam, que cultivam, que colhem e que beneficiem a cana, à margem da possibilidade do exercício dessa sua mão-de-obra, dita por muitos irracional, que ferem sobremaneira os direitos humanos.
Desta forma, digo que se há de ter "muita calma nesta hora" para exposição de idéias, conceitos, sugestões e palpites sem embasamento teórico e científico, para tratar de assunto tão importante.
Respondendo especificamente à questão apresentada no fórum; "Pergunta 1 - Em um ponto do texto, o relator especial da ONU aponta que os aumentos de preços não estão beneficiando os pequenos produtores devido ao baixo poder de mercado dos mesmos. Como você interpreta essa afirmação e como você pode relacionar aos mercados em concorrência perfeita? "
Eu acho que o assunto tratado não diz respeito ao propósito da pergunta, pois a canalização dos vegetais para a produção de combustíveis ou o aumento de preços das commodities, pouco tem a ver com a os pequenos produtores, cuja produção serve para sua subsistência e os excedentes não são significativos para formar mercado ou preço no mercado mundial. Com algumas exceções quando unidos em forma de cooperativas, que muitas vezes são constituídas por líderes de objetivos excusos que tiram proveitos pessoais em detrimento do desenvolvimento e enriquecimento dos pequenos associados.

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