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20/12/2007 - 02h30

Livro expõe hábitos alimentares da família real portuguesa

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JANAINA FIDALGO
da Folha de S.Paulo, enviada especial a Petrópolis

Do apreço de dom João 6º pelo consumo, em uma única refeição, de três frangos e uma seqüência de cinco mangas, descascadas por ele, muitos já ouviram falar. Das predileções gastronômicas dos outros membros da família imperial pouco se sabe, ou se sabia.

Chega às livrarias no próximo ano, quando se completa 200 anos da vinda da família real para o Brasil, um livro sobre os hábitos alimentares de personagens como dom Pedro 1º e a princesa Isabel. Editada pela Jorge Zahar, a obra é resultado de uma pesquisa feita pela historiadora portuguesa Ana Roldão, 45, gerente de negócios do Museu Imperial de Petrópolis, e escrita em parceria com o jornalista Edmundo Barreiros.

"Acompanha toda a trajetória do Brasil Império. Começa conosco, lá em Portugal, e segue a família real até aqui. Não será um livro científico, e sim uma obra romanceada em cima de fatos históricos", diz Roldão, em entrevista à Folha. "Quando abri o bistrô [Petit-Palais, na propriedade onde fica o museu], as pessoas perguntavam: 'Tem comida do imperador? O que dom Pedro 1º comia? E a princesa Isabel?'. Eu não fazia a menor idéia do que comiam."

De tanto ouvir tais perguntas, a historiadora decidiu ir a campo, pesquisar. Recorreu a documentos históricos, às anotações dos mordomos da família (sobre a aquisição de insumos para a casa imperial), aos cadernos de ucharia (que relacionam os itens da despensa), a livros portugueses de receitas do século 19, aos menus escritos, aos cardápios de viagens e à correspondência, principalmente, da princesa Isabel.

"Tem pouca coisa escrita sobre a alimentação deles, mas o material gráfico é rico, há uns menus bonitos", diz. "Não vou falar sobre comida trivial. Vou entrar no cerimonial, como eram os banquetes, se comiam ordinariamente, ou não."

Litros e litros de cachaça

Entre as revelações do livro, com título provisório de "Banquetes Reais", está a predileção da princesa Isabel pelos doces de ovos e sorvetes. "Há uma forte influência portuguesa no gosto dela. É alucinada por todos esses doces portugueses. Adora pão-de-ló, chá. É uma figura bem rica para trabalhar com alimentação, pois fala muito de comida", diz a historiadora. "Reclama do jejum que tem de fazer na Quaresma, diz que não agüenta mais o peixe em lata e as batatas cozidas."

Um dos preferidos da autora é dom João 6º, "um bom garfo" que também adorava falar sobre comida. "Vou reproduzir no livro um documento em que ele conta dos três 'frangãos', não frangões, que comia. Menciona o cozinheiro dele, Alvarenga, dizendo que ninguém sabia prepará-los como ele."

Ainda que grande parte dos produtos consumidos pela família viessem de fora (amêndoas, lebres, pistache, chá), coube a dom João 6º introduzir ingredientes brasileiros na dieta alimentar da família, especialmente na própria, caso da manga (de Itu) e da goiaba.

A respeito de Carlota Joaquina há dados, digamos, curiosos, como a grande quantidade de cachaça que encabeça a lista de compras da cozinha do palácio onde ela vivia --que não era o mesmo do marido, d. João 6º.

"Na Torre do Tombo, em Lisboa, um documento aponta que eram consumidas muitas unidades de aguardente de cana por mês, a maioria destinada ao quarto e à cozinha de Carlota. Ela tomava aguardente misturada com sucos de frutas frescas, pois sofria demais com o calor brasileiro. Tinha necessidade de hidratar o corpo. Mas não adianta só dizer que ela era pinguça. No cruzamento de informações, percebe-se que a alimentação das mulheres era carregada nos doces, o que explica [o alto consumo], porque a aguardente era usada para conservar compotas de fruta."

Outra mulher da família imperial, dona Leopoldina, quando veio para o Brasil, em 1817, casar com dom Pedro 1º, trouxe na bagagem um carregamento de repolhos, salmões salgados, carne de porco e feijão-verde.

O garoto das cavalariças

Arredio à pompa e circunstância, dom Pedro 1º não dispensava um bom prato de arroz com feijão. "Preferia fazer as refeições na cozinha a comer na sala de jantar. Tem um lado, não só aquele fervoroso de amantes e tal, mas humano, de estar com as pessoas do povo. Era o 'garoto das cavalariças'."

Um dos relatos engraçados levantados pela historiada trata de um dia em que Pedro 1º, já imperador, foi cavalgando a uma fazenda e chegou lá antes da comitiva. "Sem se identificar, entrou pela cozinha e disse à cozinheira que estava com muita fome. E ela: 'Ó moço, posso dar algo simples, porque estou esperando o imperador'. Ofereceu-lhe arroz, feijão, carne e aguardente. Quando o dono da fazenda entrou, viu o imperador sentado na cozinha, tomando cachaça, comendo a comida dos empregados e rindo."

Veja receita extraída do livro "Cozinheiro Imperial" (*)

Corte o miolo de pão em bocados redondos ou quadrados, da grossura de dois ou três dedos, passe-o, rapidamente, por um molho de vinho branco da Madeira (ou qualquer outro vinho branco). Depois de escorridos, passe-o por ovos batidos e frite em óleo quente até ficarem dourados. Sirva com calda de vinho e açúcar, ou do licor desejado

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem

(*) A redação foi alterada para uma melhor compreensão, e as proporções dos ingredientes não são dadas na receita original.

 

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