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16/01/2005 - 08h31

Governo não possui plano para combate à seca, diz professor

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MARCELO SALINAS
da Folha de S.Paulo

O governo Lula não tem um projeto político para o desenvolvimento do Nordeste nem um plano para combater o efeito das secas no semi-árido. Essa é a visão do historiador Marco Antonio Villa, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e escritor de "Vida e Morte no Sertão - História das Secas no Nordeste nos Séculos 19 e 20".

Para o professor, o semi-árido precisa de uma intervenção do governo federal que se contraponha ao suposto descaso das "elites regionais". "Essa intervenção inexiste há muito tempo e se perpetua nesses dois anos de governo Lula. Falta uma ação planejada."

Para ilustrar sua afirmação, o historiador compara o fenômeno da estiagem ao tsunami e diz que o problema da seca é pior, pois pode ser previsto com bastante antecedência. "Daí que a responsabilidade das autoridades federais e da elite política nordestina é maior. Acabam sendo cúmplices de uma tragédia anunciada."

Villa critica a "eterna política assistencialista dos governos", que, segundo ele, não solucionam de fato o problema e fazem do habitante dessa região um "mero receptáculo de ajuda". No entanto, diz que programas como o Bolsa-Família são soluções importantes no curto prazo, já que "a fome não espera, é um problema urgente".

O professor questiona a efetividade das agências governamentais responsáveis pelo problema e censura a atuação do Banco do Nordeste, que, para ele, "faz de tudo, financia atividades artísticas e a edição de livros, menos sua atividade fim, que é a de financiar o pequeno proprietário. Para se ter uma idéia do contra-senso, a uma distância de 30 km da sede do banco não tem água."

Uma das soluções propostas pelo governo para acabar com a seca no Nordeste --o projeto de transposição das águas do rio São Francisco-- já nasce fracassada, na opinião do historiador. As obras, de acordo com o Ministério da Integração Nacional, devem começar em abril.

O historiador entende que o projeto não resolveria o problema de convivência do semi-árido com a seca. Para ele, "o projeto é faraônico e interessa somente às grandes empreiteiras e às caixinhas eleitorais em 2006. Com os recursos da transposição, seria possível resolver definitivamente o problema".

Um das soluções apontadas pelo historiador para resolver a questão da falta de água para as famílias é a construção de poços, que, segundo ele, teriam preço relativamente baixo. "Com cerca de R$ 600 milhões é possível construir um milhão de cisternas, o que satisfaria o consumo de aproximadamente seis milhões de pessoas. Em cifras atualizadas, isso equivaleria a dois prédios do Lalau [o juiz Nicolau dos Santos Neto, envolvido no escândalo de desvio de dinheiro do TRT-SP]."

O governo, para o professor, também erra ao se aliar à "elite política nordestina" para compor sua base de sustentação no Congresso: "O governo Lula acabou se mostrando uma mera reprodução do que é mais arcaico na política brasileira, que é a aliança dos governos centrais com os coronéis, que, na verdade, não querem que o sertanejo se transforme em cidadão".

Villa diz que o projeto de reestruturação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) foi esvaziado: "Não há dotação orçamentária, e o projeto foi retirado do regime de urgência. Ou seja, não existe".

Há um ano, o professor alertava para uma "grande seca em 2005 ", em artigo publicado na Folha. Foi chamado de "catastrofista" pelo presidente do Banco do Nordeste, Roberto Smith. Até sexta-feira, o número de cidades que decretaram situação de emergência era de 402, nas regiões Nordeste e Sul.

Para Villa, a diferença entre a situação do pequeno proprietário do semi-árido e a do Sul do país, que também está sendo prejudicado pela seca, é que, no Sul, as pessoas não vivem abaixo da linha de pobreza e têm condições de se recuperar dos prejuízos no ano seguinte, o que não acontece com o morador do semi-árido nordestino.

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