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08/03/2005 - 07h53

Maioria das mulheres que vivem sozinhas têm mais de 50 anos

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JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio

A Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que 71% das mulheres que moram sozinhas têm mais de 50 anos.

A tendência atinge também mulheres da terceira idade. Cerca de 13% das mulheres de 60 a 74 anos vivem sozinhas e 21% das de 75 anos ou mais também não dispõem de companhia em casa. Segundo o instituto, a estatística pode ser explicada não só pela maior expectativa de vida das mulheres, mas também por aspectos culturais.

A tendência é mais forte nas regiões Sul e Sudeste onde as mulheres com mais de 50 anos respondem por 72,1% e por 73,2%, respectivamente, do universo de mulheres que moram sozinhas. No Nordeste, merecem destaque os Estados de Alagoas, com 81,5%, e da Paraíba, com 80,8%.

A economista do IBGE Cristiane Soares classifica o fenômeno como "efeito Copacabana". O bairro carioca tem a maior concentração de idosos da cidade do Rio de Janeiro. "São em geral pessoas que têm uma condição econômica razoável para morar sozinhas", diz Soares.

A expectativa de vida interfere nesta proporção. As mulheres vivem em média 75,2 anos e os homens, 67,6 anos. Com isso, a oferta de homens, que em qualquer faixa etária é menor do que a de mulheres, torna-se ainda mais escassa.

Segundo a antropóloga e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Miriam Goldenberg, é justamente a partir dos 50 anos que os homens começam a casar novamente e, normalmente, com mulheres mais jovens. "É cultural, eles são ensinados que a mulher mais jovem é mais atraente, se têm chance de escolher por que ficariam com uma mulher da idade deles, que é desvalorizada no mercado afetivo sexual?"

Segundo Goldenberg, embora as mulheres mais velhas estejam promovendo hoje uma verdadeira corrida contra o tempo para retardar os efeitos do envelhecimento, o aspecto demográfico fará sempre com que a oferta favoreça as mais jovens. "Hoje a mulher de 50 anos tem muito mais capital físico para entrar nessa disputa, mas por mais que cuide do rosto, do corpo, ainda assim será uma mulher de 50 anos", diz.

A solução, segundo a antropóloga, é "olhar para o lado". Para Goldenberg, os homens aprenderam há muito tempo a olhar para mulheres de diferentes classes sociais, nível de instrução e aspectos culturais diversos. O ideal feminino de masculinidade permanece sendo o do homem mais velho e de mais instrução. "A mulher brasileira está mudando por causa da realidade que enfrenta, é uma contradição estar num mercado tão desfavorecido e ser tão exigente", afirma.

O número de homens que moram sozinhos com idade superior a 50 anos é de apenas 42,4%. Entre os mais velhos, de 60 a 75 anos é de 8,6%. A menor tolerância à solidão explica a diferença, segundo Goldenberg.

Para muitas mulheres, morar só nesta faixa etária está relacionado à libertação, diz Goldenberg. Isto porque grande parte já foi casada, dedicou tempo e disposição ao marido e à criação dos filhos. "Elas experimentam uma liberdade e uma forma de viver que não estão mais tão associados a uma vida sexual ativa, podem ter um tipo de sociabilidade feminina grande, com idas ao teatro, ao cinema, viagens. Elas não estão mais sentadas em casa tricotando", diz.

As características da brasileira também contribuem para tornar essa forma de viver mais feliz, com a participação em clubes, igrejas e rodas de amigos. Em países como o Japão, a antropóloga cita casos de pessoas que "alugam parentes" para não passarem pelo constrangimento de não ter ninguém ao lado. "É uma sociedade despreparada para a solidão", afirma.

Como em toda estatística, no entanto, sempre existem exceções. Apesar da desproporção entre o número de homens e mulheres na terceira idade, há quem encontre um companheiro nesta etapa da vida. A portuguesa Rosa Ferreira, de 72 anos, encontrou o segundo marido na rua, por acaso. Eles haviam tido uma "paquera", como ela mesma define, na adolescência, quando ainda viviam em Portugal.

Separada do primeiro marido, com os filhos e os netos crescidos, Rosa encontrou o segundo marido com 68 anos e não perdeu tempo. Depois de namorar durante um ano, os dois resolveram casar escondidos da família. "A gente não estava em idade de fazer bagunça", diz.

Mesmo sem festa, o casamento rendeu lua de mel em Portugal, viagens ao Nordeste e, principalmente, uma companhia. "Quando a gente casa cedo tem muita ilusão, mais tarde a gente quer ter uma pessoa para sair, para conversar e fazer companhia, o que agora eu tenho", diz.

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