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08/05/2005
-
09h04
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo
Apesar de toda a dificuldade que enfrenta uma mãe solteira para sustentar os filhos, é justamente nesse tipo de família que o trabalho infantil aparece menos. O dado descoberto pela socióloga Bila Sorj, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ajuda a explicar a razão de os programas de transferência de renda priorizarem as mulheres e não os homens.
O dado é da pesquisa "Trabalho e Responsabilidades Familiares: um Estudo sobre o Brasil", contratado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e feito com a colaboração dos pesquisadores Adriana Fontes, Danielle Carusi e Giovani Quintaes.
A partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, Sorj mostra que a taxa de ocupação entre crianças de 11 a 14 anos é de 9,7% em famílias com mães solteiras. Nas famílias onde o homem está presente, essa taxa aumenta para 14,2% (quando há outro parente) ou 13,5% (quando não há outro parente).
Essa constatação é ainda mais significativa, já que é nesse tipo de família (mulher solteira com filhos) que há maior proporção de pobres. Quase metade (45,8%) dos brasileiros que vivem nesse tipo de família está abaixo da linha da pobreza.
O que esses números demonstram pode ser mais bem entendido a partir da história da cozinheira Maria Inês Santos da Silva, 49. Moradora do morro do Fogueteiro (na zona norte do Rio), ela teve que sustentar seis filhos após ser abandonada pelo marido. Ela nunca deixou nenhum deles trabalhar quando criança.
"Sempre tive que dar meu jeito. Fiz faxina para gente pobre igual a mim para defender a lata de leite deles, mas nunca deixei irem para a rua trabalhar. Não podia sacrificar meus filhos", afirma ela.
Para driblar as dificuldades, ela teve também que ter pulso forte na administração do orçamento doméstico. "Teve dia em que eu dividi um ovo frito em quatro pedaços para todo mundo comer, mas quando entrava mais dinheiro aqui em casa, não deixava eles comprarem roupa de marca."
Para Sorj, a forma com que mulheres como Maria Inês gastam o orçamento doméstico é uma das hipóteses --ainda a ser estudada-- que podem explicar essa maior resistência das mães a colocar os filhos para trabalhar.
"Os homens retêm uma parcela significativa da renda para gastos pessoais, de tal forma que nas famílias compostas por casais, independentemente da cônjuge trabalhar ou não, as crianças se vêem forçadas a entrar no mercado de trabalho. Como as mulheres retêm menos renda para si próprias e conseguem distribuí-la melhor, mesmo com recursos mais escassos, elas asseguram um mínimo de bem-estar", diz Sorj.
Uma outra tabulação -feita pelas pesquisadoras Lena Lavinas (UFRJ) e Sulamis Dain (Uerj) no trabalho "Proteção Social e Justiça Redistributiva: como Promover a Igualdade de Gênero" --mostra que as mulheres chefes de famílias pobres acabam tendo o mesmo ou maior rendimento do que homens na mesma situação.
"As mulheres mudaram, as famílias também, mas o que não parece ter mudado é o compromisso e a responsabilidade que elas têm para com crianças e dependentes idosos, qualquer que seja o tipo de família", afirmam Lavinas e Dain no estudo.
Esse maior cuidado feminino com a família é reconhecido em programas de combate à pobreza. Tanto que o Bolsa Família, do governo federal, transfere preferencialmente o recurso para as mulheres. Hoje, 93% das transferências são feitas para mães ou avós.
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Apesar de toda a dificuldade que enfrenta uma mãe solteira para sustentar os filhos, é justamente nesse tipo de família que o trabalho infantil aparece menos. O dado descoberto pela socióloga Bila Sorj, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ajuda a explicar a razão de os programas de transferência de renda priorizarem as mulheres e não os homens.
O dado é da pesquisa "Trabalho e Responsabilidades Familiares: um Estudo sobre o Brasil", contratado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e feito com a colaboração dos pesquisadores Adriana Fontes, Danielle Carusi e Giovani Quintaes.
A partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, Sorj mostra que a taxa de ocupação entre crianças de 11 a 14 anos é de 9,7% em famílias com mães solteiras. Nas famílias onde o homem está presente, essa taxa aumenta para 14,2% (quando há outro parente) ou 13,5% (quando não há outro parente).
Essa constatação é ainda mais significativa, já que é nesse tipo de família (mulher solteira com filhos) que há maior proporção de pobres. Quase metade (45,8%) dos brasileiros que vivem nesse tipo de família está abaixo da linha da pobreza.
O que esses números demonstram pode ser mais bem entendido a partir da história da cozinheira Maria Inês Santos da Silva, 49. Moradora do morro do Fogueteiro (na zona norte do Rio), ela teve que sustentar seis filhos após ser abandonada pelo marido. Ela nunca deixou nenhum deles trabalhar quando criança.
"Sempre tive que dar meu jeito. Fiz faxina para gente pobre igual a mim para defender a lata de leite deles, mas nunca deixei irem para a rua trabalhar. Não podia sacrificar meus filhos", afirma ela.
Para driblar as dificuldades, ela teve também que ter pulso forte na administração do orçamento doméstico. "Teve dia em que eu dividi um ovo frito em quatro pedaços para todo mundo comer, mas quando entrava mais dinheiro aqui em casa, não deixava eles comprarem roupa de marca."
Para Sorj, a forma com que mulheres como Maria Inês gastam o orçamento doméstico é uma das hipóteses --ainda a ser estudada-- que podem explicar essa maior resistência das mães a colocar os filhos para trabalhar.
"Os homens retêm uma parcela significativa da renda para gastos pessoais, de tal forma que nas famílias compostas por casais, independentemente da cônjuge trabalhar ou não, as crianças se vêem forçadas a entrar no mercado de trabalho. Como as mulheres retêm menos renda para si próprias e conseguem distribuí-la melhor, mesmo com recursos mais escassos, elas asseguram um mínimo de bem-estar", diz Sorj.
Uma outra tabulação -feita pelas pesquisadoras Lena Lavinas (UFRJ) e Sulamis Dain (Uerj) no trabalho "Proteção Social e Justiça Redistributiva: como Promover a Igualdade de Gênero" --mostra que as mulheres chefes de famílias pobres acabam tendo o mesmo ou maior rendimento do que homens na mesma situação.
"As mulheres mudaram, as famílias também, mas o que não parece ter mudado é o compromisso e a responsabilidade que elas têm para com crianças e dependentes idosos, qualquer que seja o tipo de família", afirmam Lavinas e Dain no estudo.
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