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31/05/2005
-
09h31
ALEXANDRE HISAYASU
da Folha de S.Paulo
Saulo de Castro Abreu Filho, secretário da Segurança Pública de São Paulo, será investigado pela Procuradoria Geral de Justiça por suspeita de abuso de poder.
No dia 14 deste mês, um sábado, preso no trânsito de São Paulo, o secretário do governador Geraldo Alckmin (PSDB) teria acionado um grupo de elite da Polícia Civil --responsável por conter rebeliões em cadeias-- para averiguar quem eram os responsáveis pelo congestionamento. Saulo dirigia-se ao restaurante Kosushi, no Itaim Bibi (zona oeste).
Com isso, o empresário Carlos Augusto Carvalho, sócio do próprio restaurante e o manobrista William Alexandre de Mello foram algemados, colocados em uma Blazer e levados à delegacia sob acusação de obstruir com cavaletes o trânsito da rua Viradouro --onde fica o restaurante.
Posteriormente, a polícia descobriu que os cavaletes haviam sido colocados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), pois havia uma festa de Pentecostes, promovida pela igreja local, na rua Clodomiro Amazonas. A CET confirma a informação.
Com a interdição da rua, o funcionário do estabelecimento orientava clientes a ultrapassar a barreira até a porta do restaurante, que fica a cinco metros do local em que os cavaletes estavam.
O suposto abuso foi relatado à juíza-corregedora do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária, Ivana David Boriero, por meio de uma carta anônima. Ela instaurou procedimento para apurar a conduta dos policiais e encaminhou cópia do documento ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, que tem competência judicial para investigar o secretário. "Recebemos a representação e vamos apurar eventual abuso de autoridade do secretário da Segurança Pública", diz Pinho.
Procurado pela Folha, Saulo não quis comentar o episódio. Sua assessoria de imprensa afirma, por meio de uma nota oficial, que o restaurante usou indevidamente placas oficiais da CET.
Operação de guerra
Por volta das 23h, policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais) chegaram ao restaurante.
De acordo com funcionários do local, que preferiram não se identificar, enquanto um investigador ficou na porta com uma metralhadora, outro policial, fortemente armado, foi conversar com o secretário, que já estava no restaurante japonês.
Em seguida, os policiais saíram e algemaram o manobrista Mello, que, apesar de medir 2 m de altura, é conhecido como Pequeno. Ele foi apontado como responsável pelo congestionamento.
Carvalho, o sócio do restaurante, conversava ao celular quando saiu para verificar o que estava acontecendo. "Quando desliguei o telefone, um dos policiais perguntou quem eu era. Me identifiquei como dono do restaurante. Aí, esse policial me disse: "Então você está preso". Em seguida, me algemou também", contou.
A cena foi presenciada por clientes e também por moradores dos prédios vizinhos. Pequeno foi colocado no porta-malas de uma Blazer, e o empresário, no banco de trás do veículo, com os dois cavaletes apreendidos.
Todos foram levados para o 15º DP (Itaim Bibi) por volta da 0h. Assim que foram informados do caso, os policiais do plantão chamaram o delegado titular Mauro Guimarães Soares, que estava de folga.
Carvalho saiu da delegacia por volta das 3h. Pequeno ficou até as 5h. A polícia registrou um boletim de ocorrência de "exercício ilegal de profissão" para apurar se o manobrista, que é funcionário de uma empresa de valets contratada pelo Kosushi, trabalharia como segurança.
"Trabalho desde os 15 anos. Nunca imaginei que passaria por uma situação dessas. O que eu quero é esquecer tudo isso", disse o empresário. A Folha não conseguiu falar com o manobrista, que estaria de férias.
Outro lado
Procurado pela Folha, o secretário Saulo de Castro Abreu Filho não comentou a acusação de abuso de poder.
Sua assessoria, por meio de uma nota oficial, afirmou que a polícia foi acionada porque um funcionário do restaurante utilizou, ilegalmente, placas oficiais de sinalização de trânsito e restringiu o acesso de veículos na rua Viradouro.
A assessoria não diz quem chamou os policiais e não explica o motivo de um grupo de elite da polícia ter sido chamado para a operação. "É dever de qualquer autoridade fazer cumprir a lei e a ordem pública", afirma a nota da secretaria.
A secretaria diz que a Procuradoria Geral de Justiça apenas fará uma "solicitação de informações" ao órgão e que, tão logo isso aconteça, prestará todos os esclarecimentos necessários. Em entrevista à Folha, o procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, disse que vai "investigar" o caso.
Segundo a assessoria de Saulo, o dono do restaurante tentou, por meio do jornalista César Tralli, convencer o secretário a "dar um jeito" na situação e, "não tendo sido atendido, usou de sua influência para acionar o Poder Judiciário e Ministério Público Estadual". Segundo a nota, "houve uso indevido da Justiça para resolver questões pessoais".
Tralli lamentou a nota e disse que sempre tratou o secretário com absoluto respeito. "O dono do estabelecimento não me chamou para falar com o sr. secretário, muito menos para que eu pedisse a ele que "desse um jeito" na situação. Jamais faria isso, por uma postura ética e profissional", disse.
Tralli disse que há muito tempo é amigo do dono do restaurante e que foi até o local para saber o que estava acontecendo. "Soube que o sr. secretário estava jantando com a mulher dele. Educadamente, me dirigi à mesa e tão-somente perguntei se ele sabia o que estava acontecendo."
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Secretário da Segurança de SP é acusado de abuso de poder
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da Folha de S.Paulo
Saulo de Castro Abreu Filho, secretário da Segurança Pública de São Paulo, será investigado pela Procuradoria Geral de Justiça por suspeita de abuso de poder.
No dia 14 deste mês, um sábado, preso no trânsito de São Paulo, o secretário do governador Geraldo Alckmin (PSDB) teria acionado um grupo de elite da Polícia Civil --responsável por conter rebeliões em cadeias-- para averiguar quem eram os responsáveis pelo congestionamento. Saulo dirigia-se ao restaurante Kosushi, no Itaim Bibi (zona oeste).
Jorge Araújo/Folha Imagem |
O secretário da Segurança de SP, Saulo de Castro |
Posteriormente, a polícia descobriu que os cavaletes haviam sido colocados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), pois havia uma festa de Pentecostes, promovida pela igreja local, na rua Clodomiro Amazonas. A CET confirma a informação.
Com a interdição da rua, o funcionário do estabelecimento orientava clientes a ultrapassar a barreira até a porta do restaurante, que fica a cinco metros do local em que os cavaletes estavam.
O suposto abuso foi relatado à juíza-corregedora do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária, Ivana David Boriero, por meio de uma carta anônima. Ela instaurou procedimento para apurar a conduta dos policiais e encaminhou cópia do documento ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, que tem competência judicial para investigar o secretário. "Recebemos a representação e vamos apurar eventual abuso de autoridade do secretário da Segurança Pública", diz Pinho.
Procurado pela Folha, Saulo não quis comentar o episódio. Sua assessoria de imprensa afirma, por meio de uma nota oficial, que o restaurante usou indevidamente placas oficiais da CET.
Operação de guerra
Por volta das 23h, policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais) chegaram ao restaurante.
De acordo com funcionários do local, que preferiram não se identificar, enquanto um investigador ficou na porta com uma metralhadora, outro policial, fortemente armado, foi conversar com o secretário, que já estava no restaurante japonês.
Em seguida, os policiais saíram e algemaram o manobrista Mello, que, apesar de medir 2 m de altura, é conhecido como Pequeno. Ele foi apontado como responsável pelo congestionamento.
Carvalho, o sócio do restaurante, conversava ao celular quando saiu para verificar o que estava acontecendo. "Quando desliguei o telefone, um dos policiais perguntou quem eu era. Me identifiquei como dono do restaurante. Aí, esse policial me disse: "Então você está preso". Em seguida, me algemou também", contou.
A cena foi presenciada por clientes e também por moradores dos prédios vizinhos. Pequeno foi colocado no porta-malas de uma Blazer, e o empresário, no banco de trás do veículo, com os dois cavaletes apreendidos.
Todos foram levados para o 15º DP (Itaim Bibi) por volta da 0h. Assim que foram informados do caso, os policiais do plantão chamaram o delegado titular Mauro Guimarães Soares, que estava de folga.
Carvalho saiu da delegacia por volta das 3h. Pequeno ficou até as 5h. A polícia registrou um boletim de ocorrência de "exercício ilegal de profissão" para apurar se o manobrista, que é funcionário de uma empresa de valets contratada pelo Kosushi, trabalharia como segurança.
"Trabalho desde os 15 anos. Nunca imaginei que passaria por uma situação dessas. O que eu quero é esquecer tudo isso", disse o empresário. A Folha não conseguiu falar com o manobrista, que estaria de férias.
Outro lado
Procurado pela Folha, o secretário Saulo de Castro Abreu Filho não comentou a acusação de abuso de poder.
Sua assessoria, por meio de uma nota oficial, afirmou que a polícia foi acionada porque um funcionário do restaurante utilizou, ilegalmente, placas oficiais de sinalização de trânsito e restringiu o acesso de veículos na rua Viradouro.
A assessoria não diz quem chamou os policiais e não explica o motivo de um grupo de elite da polícia ter sido chamado para a operação. "É dever de qualquer autoridade fazer cumprir a lei e a ordem pública", afirma a nota da secretaria.
A secretaria diz que a Procuradoria Geral de Justiça apenas fará uma "solicitação de informações" ao órgão e que, tão logo isso aconteça, prestará todos os esclarecimentos necessários. Em entrevista à Folha, o procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, disse que vai "investigar" o caso.
Segundo a assessoria de Saulo, o dono do restaurante tentou, por meio do jornalista César Tralli, convencer o secretário a "dar um jeito" na situação e, "não tendo sido atendido, usou de sua influência para acionar o Poder Judiciário e Ministério Público Estadual". Segundo a nota, "houve uso indevido da Justiça para resolver questões pessoais".
Tralli lamentou a nota e disse que sempre tratou o secretário com absoluto respeito. "O dono do estabelecimento não me chamou para falar com o sr. secretário, muito menos para que eu pedisse a ele que "desse um jeito" na situação. Jamais faria isso, por uma postura ética e profissional", disse.
Tralli disse que há muito tempo é amigo do dono do restaurante e que foi até o local para saber o que estava acontecendo. "Soube que o sr. secretário estava jantando com a mulher dele. Educadamente, me dirigi à mesa e tão-somente perguntei se ele sabia o que estava acontecendo."
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