Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/07/2005 - 09h43

Nuvem química castiga bairro da zona leste de SP

Publicidade

FABIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo

Uma nuvem densa encobre diariamente o céu do Jardim Keralux, bairro popular no extremo leste da cidade de São Paulo onde cerca de 8.000 pessoas vivem em meio a um pólo industrial.

Ora cinza, ora esbranquiçada, a fumaça é formada por gases tóxicos de nomes complicados, como o sulfídrico (H2S) e o dióxido de enxofre (SO2), mas que são reconhecidos em segundos pelos moradores pelo cheiro de ovo podre.

O odor, no entanto, é o menor dos problemas. A emissão desses gases pelas fábricas, acima dos padrões seguros à saúde pública, está provocando doenças crônicas, principalmente males respiratórios nas crianças.

Enquanto continua em andamento um inquérito civil para apurar as responsabilidades, técnicos da prefeitura paulistana investigam se a emissão de poluentes na região está relacionada à ocorrência nos bairros vizinhos de casos de gravidez em que o feto sofre de anencefalia (não tem o cérebro) --problema semelhante ao registrado nos anos 80 em Cubatão, no litoral paulista, que já foi a cidade mais poluída do mundo.

Há ainda um problema ambiental: dejetos da maior poluidora, a Bann Química, que produz insumos para a indústria pneumática, estão indo diretamente para um afluente do rio Tietê, junto ao Parque Ecológico do Tietê. Já foram registrados episódios de morte de pássaros na região.

Cortina de fumaça

O posto de saúde da prefeitura no Jardim Keralux recebe em média cinco crianças por dia com problemas respiratórios, como bronquites e alergias. Até funcionários do posto sofrem com resfriados e dores de garganta constantes. "Quando eles liberam a fumaça, dá um nó na garganta", diz a estudante Carla Rodrigues.

Vizinha, a desempregada Crisdet Rosa dos Santos já se acostumou a levar o primo Rodrigo, de 2 anos, para fazer inalação no posto de saúde. "Tem dia que ele não para de espirrar e o peito fica que é uma chiadeira só", conta.

Na divisa do Keralux com o Parque Ecológico do Tietê foi instalada recentemente a USP Leste, o novo campus da Universidade de São Paulo. Dependendo da direção do vento, os alunos sentem o cheiro ruim --e ficam expostos às doenças provocadas pelos gases que saem das chaminés, alguns deles cancerígenos.

A Folha passou a tarde de segunda-feira na região e constatou a sensação de permanente desconforto narrada pelos moradores. Mesmo tendo chovido bastante na noite anterior, a poeira incomoda muito, irritando os olhos e a garganta. Na língua, sente-se um gosto ácido.

A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, que investiga a emissão de gases na atmosfera e a de efluentes no córrego, negocia um acordo com a Bann Química.

Já a Cetesb, órgão ambiental do Estado, diz que já emitiu mais de 20 multas em nome da Bann desde 1989. "Eles cumpriram parte do que estava previsto, eliminando parte dos poluentes. Falta a segunda etapa", afirma Joaquim Pereira, engenheiro da agência Tatuapé da Cetesb.

Sobre os dejetos despejados no córrego que atinge o Tietê, ele diz que é responsabilidade da Sabesp completar a rede de tratamento de esgoto no local.

O vereador Juscelino Gadelha (PSDB) está organizando um grupo de moradores do Jardim Keralux para tentar remover a fábrica do bairro. "A situação por lá é gravíssima", afirma.

Outro lado

Advogada contratada pela Bann Química para coordenar o gerenciamento ambiental da fábrica, Márcia Buccolo afirmou à Folha que "ninguém tem culpa" pelos problemas de saúde causados no Jardim Keralux.

"A região era um pólo industrial muito antes da urbanização do bairro. Além disso, há outras fábricas que emitem tantos poluentes quanto a nossa", afirma.

Segundo ela, desde 1994 a planta de Ermelino Matarazzo passa por investimentos para "mitigar os problemas ambientais". "Num futuro próximo vamos implantar um projeto de vanguarda para que a chaminé se transforme apenas em equipamento de segurança", diz.

Ricardo Ferro, da Viscofan, outra empresa citada como grande poluidora do bairro, diz que estão sendo instalados equipamentos novos para reduzir a emissão de poluentes.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre poluição
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página