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02/08/2005
-
23h11
da Folha Online
As chamadas "casinhas solidárias" instaladas em diversos pontos da cidade de São Paulo no domingo pela Associação Casa da Criança Nossa Senhora Aparecida, foram retiradas nesta terça-feira por determinação do prefeito José Serra (PSDB).
A iniciativa pretendia providenciar abrigo para moradores de rua. Com pouco mais de um metro e meio de altura, feitas de madeira, as casinhas podiam ser confundidas com uma casa de bonecas ou com uma casa para cães.
Duas delas estavam ao lado do Shopping Metrô Tatuapé (zona leste de São Paulo) e abrigavam três meninos. Eles pretendiam colocar um cadeado para guardar colchonetes e roupas.
"Se ganhar outra roupa não quero que roubem", diz um deles, de 12 anos. Embora saiba onde os pais moram, ele não quer vê-los. Outro, de 13, na rua há 12 dias, não tem essa opção: a mãe morreu e o pai está preso. O terceiro, também de 13, pede esmola nos dias úteis e vai para casa nos fins de semana.
A presidente da associação, Lusia Lopes da Silva, 49, também planejava instalar casinhas nas praças da Sé e da República (ambas na região central de São Paulo).
Origem
A idéia surgiu quando Mudão, um dos 70 moradores de rua atendidos pela associação, adoeceu. Foi sugerido que ele se instalasse na casinha de bonecas da creche que a entidade mantém. "Digno seria oferecer uma casa de verdade, mas não temos condições financeiras", diz Lusia.
Uma nova casinha foi feita com ripas de madeira doadas por um supermercado. Dentro dela só cabe um colchonete e um cobertor. A princípio, Mudão se recusou a entrar. "Ele tem problemas mentais e só falava "au au', para dizer que ali era o lugar do cachorro", diz Lusia. Depois, aceitou.
Apesar de precário, mais moradores reivindicariam o equipamento. "Para albergue eu não vou. Lá é que nem cadeia, uma reserva de "maloqueiros'", diz Nailton dos Santos, 38. "A casinha é boa, dá para guardar as nossas coisas."
Polêmica
A proposta é polêmica e divide especialistas ouvidos pela Folha.
"Não dá para encarar uma coisa dessas, por mais bem-intencionada que ela seja. Mal comparando, é como ver alguém morrendo de fome e dar restos para ela comer", diz Silvia Maria Schor, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP, que analisa o perfil dos usuários de albergue.
Já para Antonio Carlos Malheiros, presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, a proposta faz sentido dentro de um contexto.
"É evidente que é chocante ver pessoas morando em casinhas de cachorro. Mas mais chocante é termos tanta gente na rua. Se você pegar a casinha deslocada do contexto, pode falar que é indigno. Mas, no contexto de um Estado que não faz nada para os menos afortunados, é alguma coisa."
Com Folha de S.Paulo
Especial
Leia o que já foi publicado sobre abrigos
Prefeitura retira casinhas de madeira que serviam de abrigo a crianças
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As chamadas "casinhas solidárias" instaladas em diversos pontos da cidade de São Paulo no domingo pela Associação Casa da Criança Nossa Senhora Aparecida, foram retiradas nesta terça-feira por determinação do prefeito José Serra (PSDB).
A iniciativa pretendia providenciar abrigo para moradores de rua. Com pouco mais de um metro e meio de altura, feitas de madeira, as casinhas podiam ser confundidas com uma casa de bonecas ou com uma casa para cães.
Duas delas estavam ao lado do Shopping Metrô Tatuapé (zona leste de São Paulo) e abrigavam três meninos. Eles pretendiam colocar um cadeado para guardar colchonetes e roupas.
"Se ganhar outra roupa não quero que roubem", diz um deles, de 12 anos. Embora saiba onde os pais moram, ele não quer vê-los. Outro, de 13, na rua há 12 dias, não tem essa opção: a mãe morreu e o pai está preso. O terceiro, também de 13, pede esmola nos dias úteis e vai para casa nos fins de semana.
A presidente da associação, Lusia Lopes da Silva, 49, também planejava instalar casinhas nas praças da Sé e da República (ambas na região central de São Paulo).
Origem
A idéia surgiu quando Mudão, um dos 70 moradores de rua atendidos pela associação, adoeceu. Foi sugerido que ele se instalasse na casinha de bonecas da creche que a entidade mantém. "Digno seria oferecer uma casa de verdade, mas não temos condições financeiras", diz Lusia.
Uma nova casinha foi feita com ripas de madeira doadas por um supermercado. Dentro dela só cabe um colchonete e um cobertor. A princípio, Mudão se recusou a entrar. "Ele tem problemas mentais e só falava "au au', para dizer que ali era o lugar do cachorro", diz Lusia. Depois, aceitou.
Apesar de precário, mais moradores reivindicariam o equipamento. "Para albergue eu não vou. Lá é que nem cadeia, uma reserva de "maloqueiros'", diz Nailton dos Santos, 38. "A casinha é boa, dá para guardar as nossas coisas."
Polêmica
A proposta é polêmica e divide especialistas ouvidos pela Folha.
"Não dá para encarar uma coisa dessas, por mais bem-intencionada que ela seja. Mal comparando, é como ver alguém morrendo de fome e dar restos para ela comer", diz Silvia Maria Schor, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP, que analisa o perfil dos usuários de albergue.
Já para Antonio Carlos Malheiros, presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, a proposta faz sentido dentro de um contexto.
"É evidente que é chocante ver pessoas morando em casinhas de cachorro. Mas mais chocante é termos tanta gente na rua. Se você pegar a casinha deslocada do contexto, pode falar que é indigno. Mas, no contexto de um Estado que não faz nada para os menos afortunados, é alguma coisa."
Com Folha de S.Paulo
Especial
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