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10/02/2006 - 09h28

EUA punem brasileiros por greve de fome

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LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo

Dois brasileiros que entraram ilegalmente nos Estados Unidos estão presos desde segunda-feira em celas isoladas. Fernando de Sá Lima Monteiro, 20, encontra-se no que chama de "buraco" do presídio do condado de Suffolk, em Boston. Rogério Zanotelli, 27, que também estava preso em Suffolk, foi transferido para a cadeia do condado de Bristol, em New Bedford, e encaminhado diretamente ao isolamento. Ambos os presídios localizam-se na Nova Inglaterra (nordeste do país).

O isolamento dos dois, segundo Fausto da Rocha, diretor do Centro do Imigrante Brasileiro (CIB), foi a resposta das autoridades americanas à greve de fome iniciada às 17h de domingo por oito brasileiros, em protesto contra as condições carcerárias e pela imediata deportação para o Brasil. Monteiro assumiu a liderança do movimento. "Mas não obriguei ninguém a parar de comer", disse.

Uma convenção da Organização das Nações Unidas proíbe a detenção de imigrantes em estabelecimentos destinados a criminosos. Apesar disso, a maioria dos brasileiros ilegais capturados em Boston está detida no presídio do condado de Suffolk, de segurança máxima, com 654 condenados. Outros estão nas cadeias de New Bedford e de Plymouth.

Em telefonema ao CIB, Monteiro assim descreveu sua rotina: "Aqui é gelado. Tem uma pia, um vaso, bebedouro e uma cama. A janela é pequena e bem alta. Não posso ver nada. A porta, de ferro, tem uma janelinha que eles só abrem para pôr a comida. É nessa janela que coloco as mãos para me algemarem na hora em que saio da cela, 30 minutos por dia, período em que posso telefonar para minha família". O rapaz deverá passar dez dias nesse castigo, apesar de a greve de fome ter-se encerrado na quarta-feira.

A auxiliar de enfermagem Heather Lindsay Borges, americana filha de imigrantes, disse à Folha que não tem conseguido informações sobre o namorado, Rogério Zanotelli, desde que ele foi colocado no isolamento.
Calcula-se que a Nova Inglaterra abrigue hoje 250 mil brasileiros, entre legais e ilegais, que compõem o segundo maior contingente de imigrantes da região.

Segundo o diretor do CIB, "é inaceitável que o consulado brasileiro não se pronuncie vigorosamente contra o confinamento de nossos meninos em solitárias."

Na quarta-feira, às 19h45 (16h45 em Boston), Monteiro pediu, em contato telefônico com a mulher, a garçonete brasileira Roberta Dias, 20, também ilegal nos Estados Unidos, maior apoio do Itamaraty para os brasileiros presos. "Nosso único erro foi tentar trabalhar e melhorar de vida em um país que não nos quer. Nós não somos criminosos", disse.

Monteiro está nos Estados Unidos há quatro anos. Zanotelli, há dois anos. Ambos entraram pela fronteira mexicana, de onde rumaram para Boston. Monteiro arrumou trabalho como cozinheiro; Zanotelli, em construção.

No dia 4 de setembro do ano passado, a família "brasuca" (gíria que designa brasileiros vivendo no exterior) composta por Monteiro, a mulher e o filho de um ano foi de carro para Nova York, participar do "Brazilian Day", festa de rua que reúne centenas de milhares de imigrantes. Na volta, dirigindo o carro a 70 km/h em uma rua com velocidade limitada a 60 km/h, Monteiro foi parado por um guarda. Como não tinha documentos, foi encaminhado à imigração e detido. Zanotelli também foi preso depois de infração de trânsito, no último dia 9 de janeiro.

Outro lado

O cônsul do Brasil em Boston, Jório Salgado Gama Filho, confirmou apenas o confinamento do brasileiro Fernando de Sá Lima Monteiro em uma cela isolada no presídio do condado de Suffolk. Disse que isso aconteceu por causa do "comportamento atípico do rapaz": "Ele é muito nervoso."

Gama Filho afirma ser improcedente a acusação de "apatia" feita pelo diretor do CIB contra o consulado. "Eu recebo 500 brasileiros por dia. Nunca houve problema. Agora, vem um rapaz [Fernando Lima Monteiro] e quer criar dificuldades."

O cônsul nega que o brasileiro esteja em "solitária": "Como você pode estar numa solitária e telefonar para mãe, mulher, jornalista?"

Gama Filho explica que a deportação de Monteiro, preso há cinco meses, está demorando mais do que os 30 dias habituais porque o rapaz resolveu pedir asilo político, alegando ser sua família vítima de perseguição política no Brasil. "Estava tramitando o processo de asilo, quando o rapaz desistiu do pedido, entrando na lista de espera para deportação. Isso aconteceu há um mês. Até o fim de fevereiro, ele deve voltar para o Brasil."

Procuradas, as direções das cadeias de Suffolk e Bristol não quiseram se manifestar.

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