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10/03/2006 - 09h58

Líder do PCC é flagrado com celular na prisão

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GILMAR PENTEADO
da Folha de S.Paulo

Sentado tranqüilamente, de bermuda e sem camisa, um homem segura o telefone celular. A cena, registrada em uma fotografia por outro celular com câmera digital, poderia parecer corriqueira se o local não fosse uma prisão e se esse homem não fosse o chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital), o detento Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, 38.

Reprodução
Marcola, chefe do PCC, é flagrado com celular na prisão
Marcola, chefe do PCC, é flagrado com celular na prisão
A foto digital confirma o que autoridades paulistas já admitiam: o chefe da facção criminosa que promoveu uma megarrebelião em 29 presídios, em 2001, e atentados contra policiais nos últimos anos continuou usando o telefone celular dentro dos presídios administrados pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), segundo um relatório enviado à Justiça pela própria Secretaria Estadual da Administração Penitenciária. A imagem comprova que as medidas anunciadas pelo governo para impedir a entrada de aparelhos nas cadeias falharam.

O flagrante ocorreu em uma cela da Penitenciária 1 de Presidente Bernardes (589 km da capital paulista), onde Marcola e outros líderes do PCC permaneceram até o final de janeiro deste ano. O presídio tem regime comum e não tem bloqueador de celular.

Na foto, Marcola parece nem ter se importado com o flagrante, feito pela câmera digital de outro celular. A foto foi feita por outro preso, não-identificado.

A imagem foi descoberta depois que dez aparelhos foram apreendidos em uma revista feita no dia 10 de janeiro deste ano, um dia depois de a polícia conseguir frustrar uma tentativa de resgate em Presidente Bernardes. Os alvos da ação seriam Marcola e outros integrantes da cúpula do PCC, segundo uma investigação policial. Depois da ação, Marcola foi transferido para Avaré, também para um presídio de regime comum.

Os aparelhos foram encontrados em sete celas e em um pavilhão. Pelo menos dois líderes do PCC estavam nessas celas, entre eles o preso José Carlos Rabelo, o Pateta, segundo um relatório da secretaria com data do dia 23 de maio, encaminhado à Vara de Execuções Penais de São Paulo.

A perícia, que inicialmente procurava números telefônicos que poderiam esclarecer a tentativa de resgate, acabou encontrando fotografias arquivadas na memória de um dos dez celulares.

A secretaria usou as fotos e outros cruzamentos de ligações telefônicas para pedir a transferência de Marcola e outros líderes para o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) --sistema mais rigoroso aplicado em três presídios paulistas que prevê cela individual, monitoramento por câmeras 24h por dia e que proíbe o acesso do preso à TV e ao rádio. Até agora, não houve nenhuma apreensão de celular nas cadeias com RDD.

Dias antes, em 18 de janeiro, a Justiça tinha negado um pedido cautelar (medida rápida e provisória) de transferência de Marcola para o RDD. Na época, no entanto, o Deic (Departamento Estadual de Investigações sobre o Crime Organizado) apresentou escutas telefônicas, que o juiz considerou indícios frágeis demais.

O pedido da Secretaria da Administração Penitenciária ainda está sendo analisado pela Justiça. A decisão deve sair em 30 dias.

Descontração

O flagrante de Marcola é apenas uma das 23 fotos feitas por celular que foram encaminhadas à Justiça pela secretaria. Essas imagens também registram momentos de descontração dos presos.

Além de trazer fotos de filhos e namoradas de detentos, o celular com câmera também captou imagens que revelam que o aparelho é comum entre os líderes do PCC. Em outra das fotos, onde aparecem três presos não-identificados, dois deles portam celulares.

A entrada de celulares nos presídios é um problema que o governo tenta impedir, sem sucesso, desde a megarrebelião de 2001. O aparelho foi um dos instrumentos importantes para a mobilização e o contato entre os presídios.

O governo começou a investir em bloqueadores de celular, mas o projeto foi abandonado porque a tecnologia foi considerada ineficiente. Os presos conseguiam fazer ligações mesmo com o sistema de bloqueio.

Hoje, das 144 unidades prisionais, seis têm bloqueador de celular --entre elas o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, que adota o RDD, considerada a prisão mais segura do país. Depois disso, a secretaria passou a investir em aparelhos de raio-x. Hoje, 73 unidades têm esse sistema.

Outro lado

A Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo afirmou ontem que não iria se pronunciar sobre o pedido de transferência de líderes do PCC para o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) nem sobre as provas usadas para justificar essa solicitação à Justiça.

Segundo a assessoria de imprensa da pasta, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, não vai falar sobre o pedido porque o "caso está sub judice" --sendo analisado pela Justiça.

A decisão sobre a transferência de líderes da facção criminosa para o RDD deve ocorrer em 30 dias.

A secretaria encaminhou um relatório datado do dia 23 de janeiro para a Vara de Execuções Penais de São Paulo no qual há fotos de presos com celulares na mão --entre eles, o chefe do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Segundo a assessoria de imprensa, Furukawa não poderia falar sobre esse relatório, que também foi encaminhado à polícia paulista.

A reportagem não conseguiu entrar em contato ontem com a advogada de Marcola. Foram deixados recados no seu escritório e no seu celular, mas ela não ligou de volta para comentar o assunto até a conclusão desta edição.

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