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27/05/2006 - 09h29

Ex-secretário diz que negociou com PCC

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FÁBIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo

Horas depois de deixar o comando do sistema carcerário de São Paulo, Nagashi Furukawa afirmou à Folha que o governo estadual "negociou" com o PCC, ao permitir a visita de uma advogada a um dos chefes da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

A afirmação contradiz o discurso oficial da administração Cláudio Lembo (PFL), que nega que tenha havido qualquer tipo de negociação entre o Estado e a facção criminosa. "O Estado não cedeu. Mas decidiu que seria oportuno permitir que a advogada visitasse o preso [Marcola] e confirmasse que ele não foi agredido na prisão", disse Furukawa, 57, que agora pretende escrever um livro sobre sua experiência de secretário.

Leia abaixo trechos da entrevista:

FOLHA - Há indícios que apontam negociação do governo com o PCC para encerrar os ataques e rebeliões: a conversa do Marcola com sua advogada dentro da prisão, a ... [Furukawa interrompe]

NAGASHI FURUKAWA - É evidente que houve negociação. O que não houve foi acordo. O Estado não cedeu. A advogada Iracema Vasciaveo apareceu dizendo que tinha contatos externos com pessoas envolvidas nos ataques e que as ações eram um sentimento de revolta por conta de notícias de que Marcola teria apanhado. Se pudesse ver que ele estava bem, a revolta iria arrefecer. Portanto, foi tomada uma decisão com toda transparência. Fui favorável. Seria uma tremenda irresponsabilidade deixar eles [criminosos] matando pessoas. Foi tão transparente que a advogada foi levada de avião pelo governo. A advogada só conversou. Nenhum pedido foi atendido.

FOLHA - O que Marcola e sua advogada conversaram?

FURUKAWA - A advogada se apresentou a Marcola exibindo um número, que imagino seja um código para que ele soubesse quem ela era. Eles não se conheciam. Ele disse que não poderia mandar parar os ataques, porque não teria sido ele quem os determinou. Disse também que não sofreu tortura nenhuma. Mas veja: a mídia está discutindo a coisa errada.

FOLHA - Qual é, então, a discussão correta?

FURUKAWA - A preocupação que atinge as pessoas é discutir como a crise terminou, e não as suas causas, que é o mais importante neste momento.

FOLHA - O senhor perdeu a queda-de-braço com o secretário da Segurança, Saulo Abreu Filho?

FURUKAWA - Não há vencidos nem vencedores nesta história. O governador é que precisa afinar a atuação destas duas secretarias, que é imprescindível para o sucesso no combate ao crime organizado. Venho sentindo há muito tempo que há necessidade de um entrosamento melhor entre as entidades e que a minha presença dificultaria esse entendimento. Era o momento de parar.

FOLHA - Pode ser mais específico?

FURUKAWA - Há uma dificuldade de entendimento entre a minha pessoa e o secretário. Não por culpa dele e, creio, não por culpa minha. Pensamos diferente. Temos visões diferentes da vida, ideologias diferentes.

FOLHA - E quais foram as discordâncias com Saulo?

FURUKAWA - Não houve uma investigação forte da Polícia Civil, especialmente na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde foram separados os líderes [do PCC]. Espero que agora se consiga uma sintonia nas ações. Mas não quero partir para o campo das críticas.

FOLHA - Nos bastidores, o governador Cláudio Lembo fez críticas à sua atuação durante a crise. Foi o PCC que o derrubou do cargo?

FURUKAWA - Não foi o partido do crime que derrubou o secretário. Se eu fosse de ceder, não teria ficado seis anos aqui.

FOLHA - O PCC nasceu em 1993 e se desenvolveu dentro dos presídios durante sua gestão. O senhor se sente responsável?

FURUKAWA - Seria muito desejável que esta articulação tivesse acontecido lá atrás. Não era atribuição da minha pasta combater crime organizado. Não temos policiais à disposição nem instrumentos legais, como quebra de sigilo telefônico e bancário.

FOLHA - Por que é tão difícil controlar a entrada de celulares na prisão?

FURUKAWA - Não podemos ser românticos. Em qualquer meio existe corrupção, até no Congresso Nacional. E os servidores não estão imunes. Os celulares entram por meio de poucos funcionários corruptos e por deficiência na revista. É muito complicado revistar partes íntimas de mulheres que visitam os presos.

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