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20/06/2006 - 10h52

Teste revela contaminação de moradores na zona sul de São Paulo

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AFRA BALAZINA
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha de S.Paulo

Treze anos após o primeiro inquérito para apurar a contaminação de uma área da Vila Carioca, na zona sul de São Paulo, pela Shell, um relatório da Secretaria Municipal da Saúde apontou que 73 das 198 pessoas analisadas apresentam pesticidas potencialmente cancerígenos no organismo. O bairro tem 6.500 moradores.

No local havia uma fábrica de pesticidas da Shell, que não considera o relatório conclusivo.

O relatório aponta que essas 73 pessoas estão contaminadas por DDE, um subproduto do pesticida DDT, usado em fazendas contra as pestes agrícolas e proibido no país em 1985. Quatro dos moradores contaminados têm de sete a 13 anos.

Já o pesticida dieldrin --que é tóxico e, por isso, também teve seu uso proibido em vários países-- foi detectado em duas mulheres e um homem com mais de 60 anos. Sua concentração geralmente aumenta com a idade.

Segundo o toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência à Toxicologia do Hospital das Clínicas, pessoas expostas aos pesticidas podem ter problemas neurológicos ou no fígado e têm risco maior de desenvolver câncer. O efeito nas crianças, que estão em fase de desenvolvimento, é ainda mais grave e, segundo ele, pode ser irreversível. "As autoridades chegaram às mesmas conclusões que tivemos há quatro anos. Não se justifica essa demora", disse.

O relatório, parcial, foi concluído em setembro de 2005 e encaminhado à CPI da Poluição da Câmara Municipal em maio. Conclui ainda que a não-detecção de contaminantes em parte das pessoas não descarta que tenha havido a exposição aos pesticidas. Sustenta que há risco de surgirem efeitos, pois eles podem estar presentes no organismo em concentrações abaixo dos limites de detecção. No total, estima-se que 6.538 pessoas tenham sido expostas aos riscos ambientais, número que pode aumentar.

Mortalidade maior

O estudo mostra também que a taxa de mortalidade é 78,2% maior na Vila Carioca se comparada ao índice do Ipiranga, distrito onde o bairro está localizado. A comparação foi feita num período de dez anos.

Segundo justificativa da prefeitura para a demora dos resultados, houve baixa adesão da população-alvo em realizar as etapas do protocolo. Isso levou a secretaria a realizar tentativas de aumentar a adesão, com visitas aos moradores. A Secretaria da Saúde alega, ainda, que os questionários, respondidos por 522 pessoas, demandam muito tempo de digitação.

O vereador e médico Jooji Hato (PMDB), relator da CPI da Poluição, considera a situação ""extremamente grave" e diz que a prioridade agora é prestar atendimento médico aos moradores.

A coordenadora de saúde da região sudeste do município, Edjanne Torreão, diz que os moradores são atendidos na Unidade Básica de Saúde Joaquim Rossini, mas que foi autorizada a criação de um PSF (Programa Saúde da Família) especial. "Além de acompanhar cerca de 6.500 moradores, a intenção é identificar precocemente os problemas relacionados à contaminação."

Outro lado

A Shell disse, após ter acesso ao relatório enviado à CPI, não considerar que o estudo possa confirmar que a empresa tenha provocado a contaminação dos moradores. "Trata-se de um trabalho ainda preliminar e, dessa forma, inconcluso", disse a empresa, por meio de nota.

Para a Shell, a contaminação no local pode ter partido de outras indústrias. "A região da Vila Carioca é historicamente uma zona industrial, com muitas empresas que manuseiam ou manusearam derivados de petróleo, produtos químicos e defensivos agrícolas."

Ainda de acordo com a Shell, "os resultados apresentados não são diferentes dos encontrados em outras populações, expostas e não expostas a eventos ambientais, tanto no Brasil como no exterior".

Afirma que o próprio relatório deixa em aberto as causas da maior mortalidade na Vila Carioca, em comparação com o distrito do Ipiranga.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a contaminação na Vila Carioca
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