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10/07/2006
-
09h50
JOSIAS DE SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A cúpula da polícia de São Paulo não negociou com criminosos só depois de deflagrada a onda de ataques que aterrorizou São Paulo no início de maio. Sentou-se com líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) também antes do agravamento da crise.
Detalhes das duas tentativas de entendimento constam de depoimento que Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, prestou a deputados da CPI do Tráfico de Armas. Acusado de ter ordenado os ataques, Marcola foi ouvido em sessão reservada, no dia 8 de junho, na penitenciária de Presidente Bernardes (SP).
A inquirição foi gravada. Durou quatro horas e 13 minutos. Marcola contou que, em 12 de maio, dia em que começaram os ataques do PCC, foi levado à presença de Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).
Em encontro testemunhado por outras autoridades policiais, Godofredo perguntou a Marcola o que poderia ser feito para estancar as rebeliões em presídios e os ataques. Àquela altura, só havia duas cadeias rebeladas (Iaras e Araraquara) e quatro policiais mortos.
Marcola disse ter pedido comida, cobertores e direito a banho de sol para 765 presos que haviam sido transferidos na véspera para uma cadeia de Presidente Vesceslau. Pediu também o restabelecimento da visita do Dia das Mães. Seria no domingo seguinte. Atendidas as reivindicações, prometeu interceder pelo fim da violência.
Conforme o relato de Marcola à CPI, o diretor do Deic concordou com as exigências. "Aí ele ligou pro Nagashi (Furukawa, então secretário de Administração Penitenciária de São Paulo), e o Nagashi falou simplesmente que não iria fazer concessão nenhuma".
Marcola disse que estranhou a "intransigência" de Nagashi. Afirmou que a transferência dos presos foi interpretada nas cadeias como um "gesto político". "A gente tem noção política, somos politizados", disse o líder do PCC. "Então a gente sabe, em determinado momento, se faz uma situação (...) que nem essa transferência do Nagashi. A gente sabia que ali era uma forma de ele dar uma resposta pra sociedade, dizendo "ó, tranquei toda uma liderança, isolei todos e tal", e pronto".
O relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), perguntou a Marcola se o objetivo do governo paulista teria sido o de "dar uma demonstração de força". E o criminoso: "Pra promover o (Geraldo) Alckmin (candidato do PSDB à presidência). Certo que o tiro saiu pela culatra. E como!"
Dois dias depois da negociação malograda do Deic, a cúpula da polícia paulista dobrou os joelhos. Autoridades policiais voaram, em avião do Estado, para Presidente Bernardes, para onde Marcola fora levado. Estava também a bordo a advogada Iracema Vasciaveo. Reuniram-se com Marcola à noite. Àquela altura, havia 52 pessoas mortas e 57 cadeias rebeladas.
Marcola foi instado a se comunicar, pelo celular, com líderes do PCC em outras cadeias, para avisar que não sofrera agressões físicas. Seria a senha para acabar com a onda de ataques. Recusou-se. Mas indicou outra pessoa para falar ao telefone: o preso LH, iniciais de Luiz Henrique, que se encontrava na mesma prisão. A ligação foi feita, disse Marcola à CPI. Mas não revelou quem estava do outro lado da linha.
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Marcola diz que negociou antes dos ataques
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
A cúpula da polícia de São Paulo não negociou com criminosos só depois de deflagrada a onda de ataques que aterrorizou São Paulo no início de maio. Sentou-se com líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) também antes do agravamento da crise.
Detalhes das duas tentativas de entendimento constam de depoimento que Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, prestou a deputados da CPI do Tráfico de Armas. Acusado de ter ordenado os ataques, Marcola foi ouvido em sessão reservada, no dia 8 de junho, na penitenciária de Presidente Bernardes (SP).
A inquirição foi gravada. Durou quatro horas e 13 minutos. Marcola contou que, em 12 de maio, dia em que começaram os ataques do PCC, foi levado à presença de Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).
Em encontro testemunhado por outras autoridades policiais, Godofredo perguntou a Marcola o que poderia ser feito para estancar as rebeliões em presídios e os ataques. Àquela altura, só havia duas cadeias rebeladas (Iaras e Araraquara) e quatro policiais mortos.
Marcola disse ter pedido comida, cobertores e direito a banho de sol para 765 presos que haviam sido transferidos na véspera para uma cadeia de Presidente Vesceslau. Pediu também o restabelecimento da visita do Dia das Mães. Seria no domingo seguinte. Atendidas as reivindicações, prometeu interceder pelo fim da violência.
Conforme o relato de Marcola à CPI, o diretor do Deic concordou com as exigências. "Aí ele ligou pro Nagashi (Furukawa, então secretário de Administração Penitenciária de São Paulo), e o Nagashi falou simplesmente que não iria fazer concessão nenhuma".
Marcola disse que estranhou a "intransigência" de Nagashi. Afirmou que a transferência dos presos foi interpretada nas cadeias como um "gesto político". "A gente tem noção política, somos politizados", disse o líder do PCC. "Então a gente sabe, em determinado momento, se faz uma situação (...) que nem essa transferência do Nagashi. A gente sabia que ali era uma forma de ele dar uma resposta pra sociedade, dizendo "ó, tranquei toda uma liderança, isolei todos e tal", e pronto".
O relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), perguntou a Marcola se o objetivo do governo paulista teria sido o de "dar uma demonstração de força". E o criminoso: "Pra promover o (Geraldo) Alckmin (candidato do PSDB à presidência). Certo que o tiro saiu pela culatra. E como!"
Dois dias depois da negociação malograda do Deic, a cúpula da polícia paulista dobrou os joelhos. Autoridades policiais voaram, em avião do Estado, para Presidente Bernardes, para onde Marcola fora levado. Estava também a bordo a advogada Iracema Vasciaveo. Reuniram-se com Marcola à noite. Àquela altura, havia 52 pessoas mortas e 57 cadeias rebeladas.
Marcola foi instado a se comunicar, pelo celular, com líderes do PCC em outras cadeias, para avisar que não sofrera agressões físicas. Seria a senha para acabar com a onda de ataques. Recusou-se. Mas indicou outra pessoa para falar ao telefone: o preso LH, iniciais de Luiz Henrique, que se encontrava na mesma prisão. A ligação foi feita, disse Marcola à CPI. Mas não revelou quem estava do outro lado da linha.
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