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22/07/2006 - 02h10

Júri condena Suzane, Daniel e Cristian por morte do casal Richthofen

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da Folha Online

Terminou na madrugada deste sábado o julgamento dos três acusados de planejar e matar o casal Manfred e Marísia von Richthofen, em São Paulo, há quase quatro anos. Suzane --filha das vítimas-- e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos foram condenados. O júri havia começado na última segunda-feira (17), no fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo).

Suzane e o então namorado, Daniel, foram condenados a 39 anos de reclusão e seis meses de detenção. Cristian pegou 38 anos de reclusão e seis meses de detenção pelo crime.
André Porto/Folha Imagem
Suzane von Richthofen deixa delegacia rumo ao fórum da Barra Funda, em São Paulo
Suzane von Richthofen deixa delegacia rumo ao fórum da Barra Funda, em São Paulo


Cabe recurso, mas os réus não poderão aguardar em liberdade. No Brasil, o tempo máximo de prisão é de 30 anos.

O júri, composto por quatro homens e três mulheres, decidiu pela condenação --e quase absolveram Suzane pela morte do pai. A sentença foi estabelecida pelo juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1º Tribunal do Júri, e lida por volta das 2h.

O casal foi assassinado com golpes de barra de ferro em outubro de 2002, enquanto dormia, em casa, no Brooklin (zona sul de São Paulo).

Durante os interrogatórios, Suzane disse à Justiça ter sido influenciada pelo então namorado, Daniel, a participar do crime. Os irmãos assumiram a autoria das mortes, mas acusaram a jovem de ser a mentora.

Nenhum dos réus poderá ser submetido a novo júri, pois as penas foram
inferiores a 20 anos por homicídio praticado. Pela lei, condenados a penas superiores a 20 anos em júri popular têm direito a um novo julgamento.

Sentença

Suzane, 22, Daniel, 25, e Cristian, 30, foram condenados por duplo homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas, além de fraude processual --porque alteraram a cena do crime. Cristian ainda foi condenado por furto.

Para Daniel, a pena-base foi de 16 anos de prisão, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes. Nos dois casos, foram diminuídos seis meses por conta da confissão. Ele recebeu pena de seis meses e dez dias-multa --cujo valor não foi divulgado-- pela fraude.

Para Cristian, a pena-base foi de 15 anos, mais 4 anos pelos agravantes, também para cada uma das mortes. Também foram diminuídos seis meses, em cada um dos homicídios, pela confissão. Ele foi condenado ainda a um ano de reclusão e pagamento de dez dias-multa pelo furto; e a seis meses de detenção e dez dias-multa --fixada no valor mínimo legal de 1/30 do salário mínimo vigente no país à época do crime, corrigido até o pagamento.

Para Suzane, a pena-base foi de 16 anos, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes também. Também neste caso, foram diminuídos seis meses de cada morte, pois ela tinha menos de 21 anos na época do crime. Ela foi condenada ainda a seis meses e dez dias-multa, pela fraude.

A Promotoria defendia uma pena igual para os réus --25 anos por homicídio, o que totalizaria 50 anos para cada um.

Suzane e os irmãos Cravinhos poderão ser beneficiados com a progressão de regime e, com isso, cumprir 1/6 da pena. Se isso ocorrer, eles devem ficar presos em regime fechado só por quatro anos --já cumpriram cerca de três anos. O benefício é um entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) que, em fevereiro último, declarou inconstitucional norma da Lei de Crimes Hediondos que vetava a progressão da pena.

Porém, se a Justiça entender que os réus não têm direito ao benefício, eles poderão pedir liberdade condicional após 2/3 da pena --o que corresponde a cerca de 26 anos.

Quase absolvida

Os jurados quase absolveram Suzane pela morte do pai. Em dois quesitos, eles responderam que a jovem matou o pai coagida por Daniel. Ela só não foi absolvida porque, no terceiro quesito, os jurados entenderam que ela poderia ter resistido à coação.

O mesmo não ocorreu quanto à morte da mãe, pela qual ela foi considerada inteiramente responsável.

Acusação e defesa

Considerado o mais esperado do ano em São Paulo, o júri havia começado na segunda-feira. O último dia, nesta sexta-feira, foi marcado pelos debates da acusação e defesa.

As acusações da Promotoria fizeram Daniel chorar compulsivamente. Ele foi abraçado por Cristian, embora ambos estivessem algemados. Suzane acompanhou a exposição com a cabeça baixa e não esboçou nenhuma reação.
Ayrton Vignola/Folha Imagem
Irmãos Cravinhos deixam o 2ºDP e seguem para o fórum da Barra Funda
Irmãos Cravinhos deixam o 2ºDP e seguem para o fórum da Barra Funda


O advogado Geraldo Jabur, um dos defensores dos irmãos Cravinhos, causou espanto e risos na platéia. Primeiro, ele afirmou que Suzane é "meio parecida" com Bia Falcão, vilã interpretada por Fernanda Montenegro na última novela da Rede Globo, a "Belíssima". Depois, ele comparou o namoro de Daniel e Suzane, ao qual os pais dela se opunham, ao relacionamento entre os personagens Safira e Pascoal, da mesma novela.

A defesa de Suzane reafirmou a impressão de que, em determinado grau, buscou apoio no preconceito social para convencer os jurados de que a "menina milionária" --que vivia isolada em uma atmosfera de conforto-- foi dominada e convencida pelo então namorado, Daniel, a participar da morte dos pais.

Segundo a tese, Daniel usou seu envolvimento sexual com a jovem e o uso de drogas para convencê-la a participar do crime. A defesa de Suzane disse ainda que os dois irmãos planejaram matar os Richthofen por interesse financeiro, em busca de conforto. "Suzane não tinha motivo para cometer o crime", disse o advogado Mauro Nacif.

Júri

Os réus foram interrogados no primeiro dia do júri. Na ocasião, Cristian contrariou a versão apresentada durante o inquérito policial e negou ter golpeado Marísia até a morte. Disse que, no momento em que avançava sobre a vítima, não conseguiu agir e recuou, ficando de pé, ao lado de uma janela. Segundo o relato, o irmão, Daniel, havia matado, sozinho, Manfred e Marísia.

A reviravolta ocorreu na quarta (19), após os depoimentos dos informantes e das testemunhas do processo, quando Cristian decidiu falar novamente à Justiça e desmentiu as declarações dadas inicialmente. Ele responsabilizou Suzane por ter planejado o crime.

Cristian mudou a versão e assumiu ter participado do crime horas depois de a mãe, Nadja Cravinhos de Paula e Silva, prestar um depoimento emocionado. "Eles fizeram uma coisa muito grave, mas estão arrependidos. A Justiça é necessária, dói, mas é necessária. Mas cada um tem que pagar pelo que fez, e não pelo que não fez", disse Nadja.

O quarto dia do júri, na quinta-feira (20), foi destinado à leitura das peças processuais solicitadas pelo Ministério Público e pelas defesas dos réus. Foram lidos depoimentos prestados pelas testemunhas do caso ainda na fase processual e exibidas a filmagem da reconstituição e uma série de reportagens acerca do crime e dos depoimentos dados pelos acusados.

Logo que as reconstituições começaram a ser apresentadas, Daniel começou a chorar. Depois, pediu para deixar o plenário, e foi seguido pelo irmão, Cristian. Suzane saiu duas vezes rapidamente, e uma terceira, permanecendo ausente até o final da sessão.

Adiamento

O julgamento deveria ter ocorrido em junho, mas a sessão foi adiada depois que os advogados de Suzane abandonaram o plenário, antes da instauração do júri, em protesto contra a decisão do juiz que presidia a sessão, Alberto Anderson Filho, de ignorar a ausência de uma testemunha da defesa e prosseguir com os trabalhos.

Já os advogados dos irmãos Cravinhos sequer compareceram ao tribunal. Eles alegaram cerceamento da defesa, pois não haviam conseguido encontrar-se com os clientes na semana anterior à data.

Nenhum dos réus poderá ser submetido a novo júri, pois as penas foram inferiores a 20 anos por homicídio praticado. Pela lei, condenados a penas superiores a 20 anos em júri popular têm direito a um novo julgamento.

Colaboraram GABRIELA MANZINI e TATHIANA BARBAR, da Folha Online, e LÍVIA MARRA, editora de Cotidiano da Folha Online

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