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22/10/2000 - 09h41

Camelôs em SP vivem "guerra" por poder e espaço

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CHICO DE GOIS
da Folha de S.Paulo


Desde que o sindicalista Afonso José da Silva, 30, levou quatro tiros, em 20 de fevereiro do ano passado, no auge das denúncias sobre extorsão de dinheiro de marreteiros praticada por fiscais da administração regional da Sé, uma série de homicídios, ameaças e acusações se seguiram.

No Brás (centro), representantes de sindicatos rivais estão em pé de guerra. Desde fevereiro de 1999, pelo menos três marreteiros foram mortos por causa de disputa de poder ou vingança.

Outras cinco sofreram atentados e uma quantia semelhante foi ameaçada. Na região de Santo Amaro (zona sul), em dois anos pelo menos quatro ambulantes foram mortos, segundo informações da polícia.

Dia 24 do mês passado, mais um boletim de ocorrência envolvendo camelôs foi registrado. Desta vez, José Ricardo Teixeira da Silva, o Alemão, e Adeilton Gomes da Silva acusaram Afonso, que foi candidato a vereador pelo PSB e obteve 9.124 votos, de tentar matá-los. Afonso negou.

Os três atuam no Brás, onde há 1.800 barracas. Na região da Sé, que envolve o chamado centro velho e o Brás, há 6.610 camelôs, segundo a Secretaria das Administrações Regionais. Alemão dirige o Sindicato da Economia Informal; Afonso preside o Sindicato dos Camelôs Independentes.

Os próprios camelôs e a polícia afirmam que há um clima de tensão entre os marreteiros. Afonso admite que "há muitos conflitos", mas, para ele, "são reflexos da falta de legalização da atividade dos ambulantes".

Segundo a polícia, os ambulantes entram em choque por disputas de pontos, dívidas, mulheres, briga por espaço político e até mesmo discussões banais.

No mundo de negócios dos ambulantes, quem fala mais do que deve ou invade a área de outro pode ser assassinado.

A Folha teve acesso a uma gravação na qual um ambulante, identificado como Sinésio, ameaça um colega porque acredita que ele o teria delatado por um crime. Na conversa, cujo teor total é de difícil compreensão por causa da má qualidade da gravação, pode-se perceber, porém, que os dois falam de outro ambulante, identificado como Adriano, que estaria sendo procurado pela polícia. Não fica claro que crime Sinésio teria cometido.

Sinésio seria amigo de Adalberto Gama da Silva, o Maik, morto em outubro do ano passado com dois tiros na cabeça. A gravação foi feita pelo próprio Maik, como afirmou seu sogro, Adeilton Gomes da Silva, que também está sendo ameaçado. Na gravação, é possível ouvir Maik afirmar que sabe qual seria seu destino.

"Eu sei que vou morrer, que você vai vir aqui para me matar." Dias depois, Maik foi assassinado. Sinésio era camelô no Brás, mas não atua mais na região. Alguns ambulantes informaram que ele deixou o Estado, mas não disseram onde poderia estar.

De 1991 até o ano passado, o Pró-Aim, serviço da Prefeitura de São Paulo que registra o número de mortes violentas na cidade, contabilizou 216 homicídios envolvendo vendedores ambulantes no município. A definição de ambulante utilizada pelo Pró-Aim inclui pipoqueiros e jornaleiros, mas em sua maioria refere-se aos tradicionais camelôs.

De acordo com o Pró-Aim, no ano passado foram mortos 32 vendedores ambulantes. Embora essa estatística contabilize apenas o número de casos nos quais foi informada a profissão da vítima, é possível verificar que, em relação ao ano anterior, houve um aumento de 10 mortes.

A Secretaria da Segurança Pública informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não há nenhuma investigação exclusiva destinada a identificar possíveis infratores entre os camelôs. Segundo a secretaria, a polícia só atua depois que um boletim de ocorrência é registrado.

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