Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/12/2006 - 09h48

Vilarejo de MG pede ajuda para não sumir

Publicidade

MARIA FERNANDA RIBEIRO
da Folha Ribeirão

O arraial de Desemboque, berço da colonização do Triângulo Mineiro, está prestes a ruir e a desaparecer do mapa de Minas Gerais. Fundado em 1743, o pouco que sobrou preserva características do passado, misturadas com certa influência importada dos centros urbanos.

Das cerca de 500 pessoas que moravam em Desemboque no início da sua existência, sobraram apenas 18 famílias, segundo dados do Arquivo Municipal de Sacramento, cidade a qual pertence Desemboque.

Para evitar que o patrimônio histórico desapareça, a Prefeitura de Sacramento enviou aos ministérios do Turismo e da Cultura um projeto de R$ 3,5 milhões para revitalização.

No arraial, também chamado pelos moradores de vilarejo ou comunidade, o dinheiro não tem tanto valor, já que lá não há supermercado, restaurante, loja de roupas ou farmácia.

Tem uma lanchonete, que fica fechada quase todos os dias. "Abrimos quando aparece alguém, mas só servimos lanche", afirma a proprietária, Maria de Paula Lima. Fazia quase três semanas que ninguém aparecia para comer.

Em Desemboque, há somente um posto de saúde, que funciona a cada 15 dias, além de duas igrejas, fundadas junto com a comunidade. Na época, a Igreja Nossa Senhora do Rosário era utilizada somente pelos negros, enquanto na Igreja Nossa Senhora do Desterro, localizada na outra ponta do arraial, somente os brancos podiam freqüentar a missa.

Os moradores vivem da agricultura de subsistência e poucos têm algum dinheiro no bolso. Internet e telefone são privilégios da urbanização que nenhum deles possui. "Eu tenho umas galinhas aqui, para comer o ovo, e com o leite da vaca, faço uns queijos. A gente faz isso para não depender muito do dinheiro. A gente troca com quem tem outras coisas para oferecer", disse Maria.

A dona-de-casa Josabete Rosa de Paula, 61, mora em Desemboque desde os 25 anos, quando casou com o lavrador Lázaro Francisco de Paula, 61. Ela disse que só sai do arraial para ir a Sacramento (60 km de distância em estrada de terra) uma vez a cada dois meses, quando precisa ir ao supermercado. "O problema é que, quando vou, preciso esperar uma carona para voltar e, às vezes, isso demora três dias."

As cerca de 20 casas do local estão divididas apenas por uma rua de terra. Algumas casas são de madeira, outras de barro ou tijolo, mas nenhuma delas tem mais de três cômodos, água encanada ou esgoto. Hoje, Desemboque só tem uma casa à venda e ela está sendo negociada por R$ 7.000. Desde 1939, 20 casas ruíram.

No arraial, além das casas e das igrejas estarem prestes a ruir, a população também está em vias de desaparecer. Segundo dados do Arquivo Municipal de Sacramento, cerca de 80% das pessoas que moram lá têm mais de 50 anos --em um ano, três moradores partiram em busca de estrutura, conforto ou tratamento médico.

"As pessoas mudam porque precisam ir para a cidade", disse a diretora de Cultura de Sacramento, Virginia Dolabela. A ponte que os moradores usavam para atravessar o rio Araguari também não existe mais, pois foi completamente destruída há 12 anos durante uma enchente. Ela nunca foi consertada, mas os moradores acharam uma alternativa para irem de uma margem a outra: uma tirolesa --sistema de cordas presas a uma roldana.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre obras de revitalização

  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página