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06/05/2007
-
14h07
DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online
"1000 trutas, 1000 tretas." É esse o nome do DVD que o grupo de rap Racionais MCs lançou oficialmente na praça da Sé, na Virada Cultural. O nome cai como uma luva na madrugada deste domingo.
O clima ameno em São Paulo era um ótimo convite ao evento a milhões de paulistanos. Aceitei. Às 3h da manhã estava na praça da Sé. Havia tanta gente, nunca vi nada parecido ali no centro. Andar nas ruas laterais já era um desafio.
Todos queriam ver o Racionais, cujo líder virou um ícone não só nas periferias, mas também em algumas rodinhas da elite. No ano passado o grupo Cordel do Fogo Encantado usou o mesmo palco para um show bem mais morno. Talvez o lançamento de "1000 Tretas" tenha mais emoção, pensei, sem saber que isso seria insensato.
Garrafas de vidro rolavam à vontade entre o público, tal qual acontece em outros eventos do mesmo porte, como a parada gay.
Duas apresentações não-programadas vieram antes do Racionais, o que deixou os presentes de chateados a furiosos. Nem tanto pelo que estava lá no palco --DJ Premier, por exemplo, arrebentou--, mas mais pela falta de respeito da organização. Falava-se toda hora que "a próxima atração" será "Racionais". E não era.
A raiva se transformou em euforia quando Mano Brown, Edy Rock, Kl Jay e Ice Blue entraram no palco. Garotos de rua pularam a divisa que separava a área da imprensa da "geral" e subiram na aparelhagem de som para curtir o show lá de cima. Ninguém conseguia tirá-los daquele camarote improvisado.
Quando um dos hits mais esperados da noite foi entoado ("Vida Loka"), a briga começou para valer. Um grupo insistia em dançar em cima de uma banca de jornais desde os outros shows. A PM então decidiu tirá-los de lá à força. Garrafas voaram. Em resposta, bombas de gás lançadas indiscriminadamente.
O atrito todo, vale citar, não começou por conta de uma banca de jornais. Fãs do Racionais e PM estavam se estranhando desde o início do show. Quem já ouviu duas ou três músicas do grupo sabe que autoridade policial e rappers não cantam a mesma melodia.
Não há lugar seguro para se ficar numa hora dessas. Atrás da Força Tática você pode levar pedrada (já levei uma, durante manifestação na avenida Paulista). Já do lado dos "desarmados", você pode ser empurrado por cassetetes (idem do parêntese anterior) ou atingido por balas de borracha, que nunca provei. Mas, como são miradas a esmo... cedo ou tarde devo experimentar.
Nas ruas do centro, e à noite, tudo fica mais difícil. São estreitas. Quando se acha um lugar vazio e aparentemente seguro, é porque o gás lacrimogêneo já está no ar. A garganta fecha, você começa a lacrimejar feito criança. Fica desorientado.
Foi num momento destes que encontrei o senador Eduardo Suplicy, curiosamente calmo. Ele classificou com palavras duras a atuação policial, enquanto ouvia o povo exigindo dele uma atuação ali mesmo.
Às 5h a batalha se intensificou. A polícia jogou de lado a estratégia de apaziguar e decidiu, enfim, deixar a praça deserta. Foi aí que, primeiro ouvi, depois vi um homem sem farda levantar uma arma e disparar para cima.
A PM corria de um lado para o outro com revólveres em riste. O choque marchava. "Eles querem limpar a praça, corre", gritou uma mulher, indo em direção ao metrô. Às 6h da manhã a praça já estava "limpa", mas a "treta" então se espalhou. As bombas eram ouvidas distantes. Furtos foram registrados em ruas vizinhas.
E a cultura? Bem, à Virada Cultural sobra a pecha de evento azarado. Em sua primeira edição (2005), sofreu pela má divulgação. No ano passado, a prefeitura precisou encorajar paulistanos a saírem de casa em pleno terror dos ataques do PCC. Neste ano tudo estava bom demais --nada de chuva, Skol Beats careiro e micado, atrações variadas e com bom apelo... Bom demais para ser verdade.
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"1000 trutas, 1000 tretas." É esse o nome do DVD que o grupo de rap Racionais MCs lançou oficialmente na praça da Sé, na Virada Cultural. O nome cai como uma luva na madrugada deste domingo.
O clima ameno em São Paulo era um ótimo convite ao evento a milhões de paulistanos. Aceitei. Às 3h da manhã estava na praça da Sé. Havia tanta gente, nunca vi nada parecido ali no centro. Andar nas ruas laterais já era um desafio.
Todos queriam ver o Racionais, cujo líder virou um ícone não só nas periferias, mas também em algumas rodinhas da elite. No ano passado o grupo Cordel do Fogo Encantado usou o mesmo palco para um show bem mais morno. Talvez o lançamento de "1000 Tretas" tenha mais emoção, pensei, sem saber que isso seria insensato.
Garrafas de vidro rolavam à vontade entre o público, tal qual acontece em outros eventos do mesmo porte, como a parada gay.
Duas apresentações não-programadas vieram antes do Racionais, o que deixou os presentes de chateados a furiosos. Nem tanto pelo que estava lá no palco --DJ Premier, por exemplo, arrebentou--, mas mais pela falta de respeito da organização. Falava-se toda hora que "a próxima atração" será "Racionais". E não era.
A raiva se transformou em euforia quando Mano Brown, Edy Rock, Kl Jay e Ice Blue entraram no palco. Garotos de rua pularam a divisa que separava a área da imprensa da "geral" e subiram na aparelhagem de som para curtir o show lá de cima. Ninguém conseguia tirá-los daquele camarote improvisado.
Quando um dos hits mais esperados da noite foi entoado ("Vida Loka"), a briga começou para valer. Um grupo insistia em dançar em cima de uma banca de jornais desde os outros shows. A PM então decidiu tirá-los de lá à força. Garrafas voaram. Em resposta, bombas de gás lançadas indiscriminadamente.
O atrito todo, vale citar, não começou por conta de uma banca de jornais. Fãs do Racionais e PM estavam se estranhando desde o início do show. Quem já ouviu duas ou três músicas do grupo sabe que autoridade policial e rappers não cantam a mesma melodia.
Não há lugar seguro para se ficar numa hora dessas. Atrás da Força Tática você pode levar pedrada (já levei uma, durante manifestação na avenida Paulista). Já do lado dos "desarmados", você pode ser empurrado por cassetetes (idem do parêntese anterior) ou atingido por balas de borracha, que nunca provei. Mas, como são miradas a esmo... cedo ou tarde devo experimentar.
Nas ruas do centro, e à noite, tudo fica mais difícil. São estreitas. Quando se acha um lugar vazio e aparentemente seguro, é porque o gás lacrimogêneo já está no ar. A garganta fecha, você começa a lacrimejar feito criança. Fica desorientado.
Foi num momento destes que encontrei o senador Eduardo Suplicy, curiosamente calmo. Ele classificou com palavras duras a atuação policial, enquanto ouvia o povo exigindo dele uma atuação ali mesmo.
Às 5h a batalha se intensificou. A polícia jogou de lado a estratégia de apaziguar e decidiu, enfim, deixar a praça deserta. Foi aí que, primeiro ouvi, depois vi um homem sem farda levantar uma arma e disparar para cima.
A PM corria de um lado para o outro com revólveres em riste. O choque marchava. "Eles querem limpar a praça, corre", gritou uma mulher, indo em direção ao metrô. Às 6h da manhã a praça já estava "limpa", mas a "treta" então se espalhou. As bombas eram ouvidas distantes. Furtos foram registrados em ruas vizinhas.
E a cultura? Bem, à Virada Cultural sobra a pecha de evento azarado. Em sua primeira edição (2005), sofreu pela má divulgação. No ano passado, a prefeitura precisou encorajar paulistanos a saírem de casa em pleno terror dos ataques do PCC. Neste ano tudo estava bom demais --nada de chuva, Skol Beats careiro e micado, atrações variadas e com bom apelo... Bom demais para ser verdade.
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