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19/03/2001 - 03h48

Para estatal, terceirização não é fator de mais riscos

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ANTONIO CARLOS DE FARIA, da Folha de S.Paulo, no Rio

Até janeiro do ano passado, quando ocorreu um derramamento de 1,29 milhão de litros de óleo na baía de Guanabara, a Petrobras não tinha um planejamento central para evitar e trabalhar em possíveis acidentes em suas unidades.

Isso é o que afirma Irani Varella, 50, gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, engenheiro que trabalha há 25 anos na estatal. Ele é um dos envolvidos na tarefa de investigar as causas do acidente da plataforma P-36, que causou a morte de dez funcionários.

Dizendo que ainda não há condições para apontar o que deu início às três explosões, Varella rejeita a tese de que a terceirização dos serviços, processo criticado pelos sindicatos, possa ser um fator de aumento dos riscos.

O engenheiro falou à Folha na sede da Petrobras, ao mesmo tempo em que um grupo de funcionários realizava um protesto contra as condições de segurança na empresa.

Tendo ao fundo as palavras de ordem dos manifestantes, Varella afirmou que a Petrobras prevê investir US$ 1 bilhão, até 2003, em projetos de prevenção e controle de acidentes.

A seguir, trechos da entrevista:

Folha - As explosões na P-36 foram causadas por falhas dos funcionários?
Varella -
Possivelmente as três explosões tiveram a mesma origem, mas ainda não sabemos o que ocorreu. Agora, não houve falha no combate ao incêndio. As vítimas agiram de maneira corajosa, seguindo os procedimentos de treinamento. Houve alguma falha de equipamento como causa das explosões. Não podemos atribuir um acidente desse porte a uma fatalidade.

Folha - A Petrobras é muito criticada por causa dos recentes acidentes que trouxeram danos ambientais. Como a empresa está reagindo a isso?
Varella -
Criamos o Pégaso (Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional). Este é um trabalho que se iniciou no final de janeiro de 2000, após o acidente que derramou óleo na baía de Guanabara. Cerca de 80 gerentes da empresa, de várias unidades do país, se reuniram por dois meses, concluindo um projeto de prevenção de acidentes e de gestão de situações que já tenham ocorrido. Estamos investindo US$ 1 bilhão nessa área, até o final de 2003. Desse valor, 80% vão para ações de prevenção e 20% para aumentar nossa capacidade de remediação de acidentes.

Folha - A Petrobras reconhece que o número de acidentes é maior entre trabalhadores de empresas terceirizadas, que teriam treinamento de qualidade inferior ao fornecido pela estatal. Como esse projeto trata isso?
Varella -
Estamos intensificando o treinamento dos nossos funcionários e, também, dos terceirizados. Hoje, o número de terceirizados está em torno de 100 mil, e os funcionários próprios são cerca de 35 mil. Nós estamos investindo em treinamento em todos os níveis, desde as gerências mais altas até os níveis operacionais.

Folha - Até o acidente na baía de Guanabara, a empresa não tinha um planejamento central para evitar e lidar com acidentes?
Varella -
Até janeiro de 2000, as ações de segurança eram descentralizadas, sendo executadas e planejadas em diferentes unidades da empresa. Agora temos um plano global. A partir do Pégaso, mudamos a gestão da empresa nessa área. Aumentamos a capacidade de reagir a derramamentos de óleo, risco que existe na nossa atividade, e definimos projetos para evitar acidentes. Antes desse plano, a empresa tinha cinco pessoas trabalhando em um departamento que cuidava de ações de segurança. Hoje essa estrutura tem 85 pessoas. Queremos até o final de 2001 obter certificações de qualidade ambiental para todas as unidades.

Folha - O derramamento de óleo na baía mostrou que a empresa não estava preparada para controlar uma situação como essa?
Varella -
Nós percebemos, no caso da baía de Guanabara, que nós não tínhamos os equipamentos necessários e não estávamos preparados à altura. Antes do acidente, a empresa se sentia preparada, mas, depois do que aconteceu, percebemos que precisávamos fazer mais. Daí nasceu o Pégaso.

Folha - O que já foi feito?
Varella -
Revisamos todos os nossos planos de ação diante de um acidente. Inauguramos nove centros de defesa ambiental, em diferentes regiões do país, nos quais investimos US$ 22 milhões na instalação e vamos gastar US$ 62 milhões para a operação nos próximos seis anos. Estão instalados em pontos estratégicos, próximos de nossas atividades. O mais importante deles fica em Guarulhos, em São Paulo, de onde nós podemos mobilizar recursos para agir em qualquer acidente. Foi de lá, por exemplo, que enviamos aviões para auxiliar no recente desastre ambiental em Galápagos, no Equador.

Folha - O que há nesses centros?
Varella -
Eles têm equipamentos, barreiras e mantas absorventes e de contenção de óleo, bombas de sucção, barcos, produtos que eliminam óleo. Os centros têm equipes permanentes e treinadas para ação rápida em qualquer acidente, inclusive de outras empresas, que podem nos acionar e depois pagar pelos serviços prestados.

Folha - Nos últimos dez anos, a Petrobras aumentou muito sua produção, reduziu o quadro de funcionários pela metade e passou a contratar empregados terceirizados em grande número. Esses não são fatores que aumentam os riscos de operação?
Varella -
Não concordamos que a terceirização aumente os riscos e estamos abertos a essa discussão. Quando comparamos o índice de empregados terceirizados na Petrobras com suas concorrentes, vemos que nossos números são menores do que os delas. Neste ano, a Petrobras admitiu 500 empregados depois de dez anos sem contratações.

Leia especial sobre as explosões na plataforma da Petrobras
 

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