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15/06/2000 - 23h19

PM admite ter dado "gravata", mas nega que golpe matou sequestrador

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da Folha de S.Paulo, no Rio

O capitão da PM do Rio Ricardo Soares, que chefiou o grupo de quatro policiais que transportou e é acusado de matar o sequestrador Sandro do Nascimento, prestou depoimento na 15ª DP (Gávea, zona sul da cidade) e reafirmou que os policiais agiram em legítima defesa e sob violenta emoção.

A advogada Daniele Braga disse que o capitão admitiu que aplicou uma "gravata" em Nascimento para tentar imobilizá-lo. No entanto, ela não admitiu, em nenhum momento, que esse golpe matou o sequestrador.

"A delegada Martha Rocha ouviu o depoimento dele, que foi voluntário", disse a advogada. Ela acrescentou que esse depoimento foi feito sem a presença de advogados.

Os cinco estão presos, acusados de assassinar, por asfixia, Nascimento ao final do sequestro ao ônibus no Jardim Botânico que terminou também com a morte da professora Geísa Firmo Gonçalves.

Antes de Soares, depôs o soldado Paulo Roberto Alves Monteiro. "Estamos com a consciência tranquila. O que posso dizer é que estou muito triste com a morte da refém", afirmou o soldado ao sair de seu depoimento.

Os PMs, segundo seus advogados (Chaia Ramos e Daniele Braga), agiram "no estrito cumprimento do dever e em legítima defesa" e procuraram defender "a própria vida e também a da sociedade".

Os cinco policiais _o capitão Ricardo de Souza Soares e os soldados Luiz Antônio de Lima Silva, Márcio de Araújo David, Paulo Roberto Monteiro e Flávio do Val Dias_ chegaram ao 15ª DP, na Gávea, que investiga o caso, em um carro do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e usavam a farda preta e o boné do batalhão. Não estavam algemados e não deram declarações.

Os advogados disseram que o sequestrador resistiu à prisão e que seus clientes tiveram dificuldades para imobilizá-lo porque não tinham algemas. Eles criticaram a "precariedade das condições de trabalho" da polícia.

O policial Paulo Roberto de Alves Monteiro chegou para depor com o braço esquerdo imobilizado. Seus advogados apresentaram duas versões para a causa da suposta fratura do braço.

Daniele Braga inicialmente disse que Monteiro teve o braço esquerdo quebrado quando o sequestrador, identificado pela polícia como Sandro do Nascimento, tentou pegar a arma do soldado Flávio do Val Dias.

A tentativa teria ocorrido dentro do carro do Bope em que os cinco policiais levaram o sequestrador para o hospital Souza Aguiar, onde ele chegou morto.

Depois, Chaia Ramos afirmou que Monteiro quebrou o braço ainda do lado de fora do camburão, quando os policiais tentavam dominar Nascimento.

Os advogados disseram como os policiais dividiram-se dentro do carro do Bope, até chegarem ao Souza Aguiar, no centro do Rio.

Segundo eles, mesmo com o braço machucado, Paulo Monteiro dirigiu, tendo ao lado o soldado Luiz Antônio de Lima Silva. Na parte traseira, com o sequestrador, foram o capitão Ricardo de Souza Soares e os soldados Márcio David e Flávio do Val.

Os advogados chegaram à 15ª DP às 9h. Às 10h chegou o carro do Bope, uma Besta, com os cinco policiais. A delegada Martha Rocha, titular da DP, explicou por que o capitão Ricardo Soares prestaria novo depoimento: "Vou reinquiri-lo porque o depoimento dele não fui eu quem presidiu".

O soldado Paulo Roberto Monteiro foi o primeiro a depor. Às 13h35 ele saiu da delegacia, na viatura do Bope. Foi imediatamente levado para o Instituto Médico Legal (IML), para fazer o exame de corpo de delito do braço.

Poucos instantes depois o carro do Bope voltou, trazendo o almoço dos outros policiais.

Um pouco depois, às 17h20, o capitão Ricardo Soares terminou o depoimento de três horas e saiu da delegacia, sem falar com os repórteres.

A delegada Martha Rocha informou que o depoimento dos médicos que estavam de plantão no Souza Aguiar foi transferido de ontem para segunda.

Um deles é o médico Atalah de Matos, que assinou o atestado de óbito de Sandro do Nascimento. No documento constava que um homem negro, com idade presumível de 25 anos, chegou morto ao Souza Aguiar às 19h15. A Folha apurou que o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tenente-coronel José Penteado, vai depor hoje na 15ª DP.

O secretário da Segurança Pública do Rio, Josias Quintal, se reuniu ontem com comandantes de diversos batalhões e com o novo comandante geral da PM para avaliação e anunciou novas estratégias de combate ao crime .

"Vamos iniciar novas operações, que começam a qualquer momento, e cuja duração será por tempo indeterminado", anunciou o secretário da Segurança.

Segundo Quintal, as operações acontecerão nas favelas, nas ruas e vias expressas da cidade. "Esses erros técnicos foram fatos lamentáveis, mas tiraremos experiência de tudo isso e não vamos ficar inibidos", afirmou, referindo-se ao desfecho do sequestro.

O novo comandante geral da PM, coronel Wilton Soares Ribeiro, que tomará posse na próxima segunda-feira, reconheceu que assume num momento difícil e disse que terá pela frente "uma nova geração de assassinos". "São criminosos que não se satisfazem com o produto do roubo e também matam. Espero que os criminalistas estejam estudando isso."

O comando da PM informou ontem que as algemas não são necessárias para os serviços realizados pelos policiais do Bope, considerada a tropa de elite da PM.
Os policiais envolvidos com ações de patrulhamento trabalham com algemas. Os do Bope, não. É a única unidade da PM que dispensa o equipamento.

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