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27/05/2001 - 09h36

SP imita NY, cria "quarteirão gay" em bairros e enfrenta resistência

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da Folha de S. Paulo

São Paulo, enfim, virou cidade grande: como Nova York, tem suas vizinhanças gays. Cá, como lá, dividida em grupos. Pinheiros e Vila Madalena (como o East Village) para os alternativos; o centro para os mais velhos (como o Greenwich Village); e os Jardins (como Chelsea ou o SoHo) para "malhados", clubbers e elegantes.

Entre as três regiões, os Jardins, um dos bairros mais nobres da cidade, firma-se como a de maior concentração do chamado público GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) da capital paulista. Lá está o "quarteirão gay" de São Paulo, onde bares, discotecas e lojas atraem dia e noite homossexuais para a região, sobretudo homens.

São pelo menos 20 bares, cafés, restaurantes, discotecas e até uma livraria, concentrados entre a rua da Consolação e a alameda Lorena (veja mapa).

"É um filão que só está sendo descoberto. O consumidor ainda está muito "no armário". Quando pede pela internet, sua principal preocupação ainda é o pacote, como se a gente fosse mandar algo cor-de-rosa e voando", diz Sérgio Miguez, proprietário da Livraria Futuro Infinito, especializada em sexualidade e com uma farta seção de vídeos e livros voltados para os gays e lésbicas.

Durante o dia, além da livraria, que funciona até a meia-noite, o movimento acontece nas lojas da região. Para almoçar, um dos "points" é o charmoso restaurante Namesa, do chef Alex Atala.

A primeira parada para a noite é no Fran's Café, na rua Haddock Lobo, quase esquina com a avenida Paulista. O café é o local preferido para os "blind dates", ou encontro às escuras, marcados pela internet entre pretendentes que ainda não se conhecem pessoalmente. Para jantar, o Ritz.

Mais tarde, o Gourmet ou o Allegro. E para esticar, uma das muitas casas noturnas. Movimento maior ainda está no meio da rua, em frente aos bares.

"Fica do lado de fora quem está a fim de paquerar. Quem está acompanhado quer uma mesa e quem está só, fica no balcão, puxando papo com a gente", explica Adriana Siqueira, que, com a irmã Daniela, abriu o Gourmet há 11 anos.

O movimento gay nos Jardins, segundo frequentadores mais antigos, remonta, porém, aos anos 60. Foi somente no final da década passada que chegou ao agito atual. Mas por que os Jardins?

"Os Jardins passam essa coisa sofisticada que gay gosta", diz Marcelo
Correia, a drag queen Milanta Plus, um dos divulgadores das boates das redondezas. Nas noites de quintas e sextas, vestido como uma personagem diferente, com saltos plataforma e muita maquiagem, Milanta é um dos gays que, por sua visibilidade, começam a chamar atenção da vizinhança heterossexual.

"De "quarteirão gay" virou "quarteirão da bagunça'", critica a presidente da Associação dos Moradores do bairro, Célia Marcondes, que está recolhendo assinaturas pedindo o fechamento dos estabelecimentos. "O problema não é ser gay, mas tem uns que tiram a roupa, ficam desfilando em peças íntimas", diz Célia, que afirma ter mais de 400 assinaturas.

"Há uns exageros, sim", reconhece o proprietário do Allegro, Luiz Paulo Marinho. "Eu recebo travestis, mas às vezes tenho que dizer: "vai botar uma roupinha"."

Tem gente que não se importa. Na Futuro Infinito, por exemplo, quem atende aos fregueses pela manhã é a tia de Miguez, Nevart Berberian, uma psicóloga viúva de 72 anos. "As pessoas passam e se surpreendem ao ver uma senhora de cabelo branco na livraria", diz. "Mas ser gay é natural."

Entre os proprietários, há quem não admita o rótulo de "gay" para seu estabelecimento, e prefira assumir o de "moderno". "Uma das principais características do "Namesa" é ser moderno. Por isso se enquadra bem entre os gays, mas a mistura é a graça do restaurante", diz o chef Alex Atala.

Outro restaurante, o Ritz, cujas mesas, principalmente à noite, costumam mostrar vários casais homossexuais, tampouco quer se enquadrar. Ouvida pela Folha, a supervisora do restaurante, que não quis dar entrevista, também usou o adjetivo "moderno" para se referir ao local.

No entanto, a tendência é ascendente. "O órgão oficial de turismo da cidade tem interesse em apoiar e desenvolver o segmento", afirma Magda Ventura, coordenadora de produtos e promoção turística do Anhembi.

Numa cidade onde a prefeita é autora do projeto de parceria entre homossexuais, os abaixo-assinados contra o "quarteirão gay" não parecem ter muito futuro.
 

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