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22/07/2001
-
08h53
da Folha de S. Paulo
Os governadores dos Estados onde as greves estouraram neste ano foram insensíveis aos apelos de seus comandantes sobre o clima de insatisfação observado na tropa e não se anteciparam, apesar dos sinais de alerta que estão sendo apresentados desde 97.
Essa é a opinião do coronel Rui César Melo, 50, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo e atual presidente do Conselho Nacional de Comandantes das PMs e Bombeiros. "É preciso se antecipar. Não se pode ficar reagindo. É um incentivo para que se faça mais greves", afirma.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha:
Folha - O governo federal tem cobrado rigidez dos Estados. O senhor acha que o caminho contra a greve é a repressão armada?
Rui César Melo -Não é problema de repressão armada. Em primeiro lugar, a coisa tem que ser tratada com os comandantes. Os governadores têm de estar sensíveis às informações que vêm dos comandantes. Eles procuram transmitir o que está ocorrendo. Agora, os comandantes têm limitações para suas atitudes. No máximo, o que podem fazer é conversar e explicar. É preciso adotar medidas antes da explosão.
Folha - E o senhor acha que está faltando sensibilidade por parte dos governadores?
Melo -Acho que falta. Há um distanciamento dos governadores em relação aos comandantes de suas polícias. Não estou falando isso com relação a São Paulo. Aqui não há esse problema. De uma maneira geral, o que a gente observa é isso mesmo.
Folha - Há quem defenda punição severa aos grevistas, sob pena de haver mais paralisações...
Melo - É claro. Por isso que eu digo que falta sensibilidade para o governo. Se o governador se antecipa, conversa com os comandantes, procura se inteirar do que está acontecendo, ele evita uma greve e dá força ao comandante. Agora, quando ele transige nisso e, de repente, ocorre a greve, ele cede e isso é horrível. É péssimo.
Folha - Para o senhor, o que explica as greves?
Melo - Essas movimentações, que pese a gente não aprove de maneira nenhuma, estão ligadas a algumas deficiências nas condições de trabalho dos policiais. Falo de uma forma geral, inclusive dos policiais civis. Estão relacionadas com a falta de condições e fundamentalmente à questão salarial, que no Brasil é uma vergonha. Você tem policiais ganhando cerca de R$ 4.000 por mês e outros ganhando cerca de R$ 400 por mês. É uma diferença exorbitante.
Folha- Como?
Melo -Estou falando de base salarial. De um agente civil, por exemplo, do Distrito Federal, de um agente de Polícia Federal e de um agente da Paraíba ou de Alagoas, que ganha R$ 400. As atividades são todas semelhantes. Tem estresse, tem perigo. Policiais civis e militares têm trabalhado conjuntamente com policiais federais, por exemplo. Ali um agente da Polícia Federal, correndo o mesmo risco, ganha R$ 4.000, e o policial militar e o civil ganham R$ 800, a base de salário aqui em São Paulo.
Folha - O senhor é favorável a um piso nacional?
Melo- Sim. Nós deveríamos ter um piso salarial nacional para que se evitasse as tremendas diferenças. São profissionais que executam a mesma tarefa. Alguns correndo um pouco mais de risco do que outros. Em São Paulo se corre mais risco que nos outros lugares.
Leia mais sobre a crise da polícia
Governadores foram insensíveis, diz comandante-geral da PM
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Os governadores dos Estados onde as greves estouraram neste ano foram insensíveis aos apelos de seus comandantes sobre o clima de insatisfação observado na tropa e não se anteciparam, apesar dos sinais de alerta que estão sendo apresentados desde 97.
Essa é a opinião do coronel Rui César Melo, 50, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo e atual presidente do Conselho Nacional de Comandantes das PMs e Bombeiros. "É preciso se antecipar. Não se pode ficar reagindo. É um incentivo para que se faça mais greves", afirma.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha:
Folha - O governo federal tem cobrado rigidez dos Estados. O senhor acha que o caminho contra a greve é a repressão armada?
Rui César Melo -Não é problema de repressão armada. Em primeiro lugar, a coisa tem que ser tratada com os comandantes. Os governadores têm de estar sensíveis às informações que vêm dos comandantes. Eles procuram transmitir o que está ocorrendo. Agora, os comandantes têm limitações para suas atitudes. No máximo, o que podem fazer é conversar e explicar. É preciso adotar medidas antes da explosão.
Folha - E o senhor acha que está faltando sensibilidade por parte dos governadores?
Melo -Acho que falta. Há um distanciamento dos governadores em relação aos comandantes de suas polícias. Não estou falando isso com relação a São Paulo. Aqui não há esse problema. De uma maneira geral, o que a gente observa é isso mesmo.
Folha - Há quem defenda punição severa aos grevistas, sob pena de haver mais paralisações...
Melo - É claro. Por isso que eu digo que falta sensibilidade para o governo. Se o governador se antecipa, conversa com os comandantes, procura se inteirar do que está acontecendo, ele evita uma greve e dá força ao comandante. Agora, quando ele transige nisso e, de repente, ocorre a greve, ele cede e isso é horrível. É péssimo.
Folha - Para o senhor, o que explica as greves?
Melo - Essas movimentações, que pese a gente não aprove de maneira nenhuma, estão ligadas a algumas deficiências nas condições de trabalho dos policiais. Falo de uma forma geral, inclusive dos policiais civis. Estão relacionadas com a falta de condições e fundamentalmente à questão salarial, que no Brasil é uma vergonha. Você tem policiais ganhando cerca de R$ 4.000 por mês e outros ganhando cerca de R$ 400 por mês. É uma diferença exorbitante.
Folha- Como?
Melo -Estou falando de base salarial. De um agente civil, por exemplo, do Distrito Federal, de um agente de Polícia Federal e de um agente da Paraíba ou de Alagoas, que ganha R$ 400. As atividades são todas semelhantes. Tem estresse, tem perigo. Policiais civis e militares têm trabalhado conjuntamente com policiais federais, por exemplo. Ali um agente da Polícia Federal, correndo o mesmo risco, ganha R$ 4.000, e o policial militar e o civil ganham R$ 800, a base de salário aqui em São Paulo.
Folha - O senhor é favorável a um piso nacional?
Melo- Sim. Nós deveríamos ter um piso salarial nacional para que se evitasse as tremendas diferenças. São profissionais que executam a mesma tarefa. Alguns correndo um pouco mais de risco do que outros. Em São Paulo se corre mais risco que nos outros lugares.
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