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31/08/2001
-
03h31
da Folha de S. Paulo
Silvio Santos fazia exercícios na esteira, como em toda manhã, na sala de ginástica da casa. Teve a atenção atraída por uma voz masculina que anunciava ser o sequestrador de sua filha. Era Fernando Dutra Pinto, já dentro da casa da família, gorro na cabeça e duas armas nas mãos. O sequestrador voltara ao local do crime, fato inédito para a polícia.
O apresentador estava sozinho no subsolo da casa. Vestia camiseta e calção. Sua mulher, Íris, suas quatro filhas, e uma amiga das meninas ainda estavam nos quartos, dois pavimentos acima. Na cozinha, no térreo, os funcionários, que nada perceberam.
Silvio desceu da esteira. Sentou. O sequestrou pediu ajuda e lamentou os erros que cometera na noite interior, ao enfrentar a polícia e matar dois investigadores. Disse ter medo dos policiais e de sofrer represálias por isso.
O diálogo foi ouvido pelo carpinteiro Francisco de Assis do Nascimento, 49, que trabalhava no quintal da casa ao lado. "Ele chegou a dizer que ia pedir um helicóptero para fugir", narrou.
A conversa, calma, foi interrompida. Um policial estava na sala. Entrara pela porta lateral. Era o tenente Marcos Henrique da Silva. Foi um dos momentos mais tensos das sete horas da ação. A casa estava cercada e seria ocupada em minutos.
O comportamento do sequestrador mudou. Tornou-se agressivo. Tentou subir as escadas para chegar à família. O policial pediu calma. Fernando parou na cozinha e trancou-se com o refém.
Íris, suas filhas e a amiga delas eram retiradas dos quartos por uma escada. Os funcionários, pela porta lateral. Correram de pijama e chinelo pela rua, por 200 metros. Levaram o poodle da casa.
Na cozinha, Fernando ligou a TV. Os policiais descobriram e pediram para as emissoras não filmarem o telhado da casa do vizinho. Lá estavam os atiradores de elite -pelo menos dois. Os curiosos se aglomeravam na rua.
Aos gritos, Fernando fixava o preço do resgate: a garantia de que sairia vivo. Desistira do helicóptero. Queria o governador ali, e a Polícia Civil bem longe da casa.
A cozinha tinha portas e janelas trancadas. Os policiais não viam o que acontecia lá dentro. Conversavam sempre gritando.
Silvio dizia que sairiam juntos da cozinha para que nada de mal acontecesse. Quebrava a lógica silenciosa dos sequestrados. Isso foi determinante para o sucesso da ação, diria mais tarde a polícia.
Os negociadores foram chegando, entre eles o comandante-geral da PM, Rui César Melo, e o juiz-corregedor Maurício Porto Alves.
Silvio deu sinais de cansaço, temia pela pressão -que costuma subir. Fernando sentia fome. Estava baleado e tinha dormido no mato, escondido em um terreno perto dali. Pediu um lanche. Ele veio. Silvio insistia para receber um médico. Demorou para convencer Fernando, mas conseguiu.
A pressão estava normal: 12 por 8.
O comportamento de Fernando oscilava. De repente, decidiu que queria ir para o quarto. Foi o segundo momento de tensão.
"Eu sei quem está aqui [como refém], e vocês não vão querer manchar o currículo de vocês", disse Fernando aos policiais, exigindo a mudança de cômodo.
"Não permitimos a mudança porque envolve muito risco", disse o capitão Diógenes Lucca, 37, um dos negociadores.
Fernando ameaçou matar Silvio. Trazia à mão, todo o tempo, uma pistola 380 e um revólver calibre 38 carregados, armas que provavelmente usou para assassinar dois policiais em Barueri.
Silvio fez Fernando mudar de idéia. Ficaram na cozinha. O apresentador decidiu ajudar a atender a um pedido do sequestrador: ligou para o secretário da Segurança Pública e pediu que o governador Geraldo Alckmin fosse ao local. Alckmin chegou em minutos. Desceu de helicóptero no colégio Pio 12 -que dispensou os alunos e serviu de base de pouso.
Silvio conquistou a confiança de Fernando. Para os negociadores, ele já gritava: "O que o Silvio decidir, está decidido". Decidiu-se que Fernando teria as exigência atendidas. Tomou banho, ganhou roupas do apresentador, pediu perdão ao pai e saiu algemado.
Leia mais notícias sobre Silvio Santos
Sequestrador ameaçou matar Silvio Santos
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Silvio Santos fazia exercícios na esteira, como em toda manhã, na sala de ginástica da casa. Teve a atenção atraída por uma voz masculina que anunciava ser o sequestrador de sua filha. Era Fernando Dutra Pinto, já dentro da casa da família, gorro na cabeça e duas armas nas mãos. O sequestrador voltara ao local do crime, fato inédito para a polícia.
O apresentador estava sozinho no subsolo da casa. Vestia camiseta e calção. Sua mulher, Íris, suas quatro filhas, e uma amiga das meninas ainda estavam nos quartos, dois pavimentos acima. Na cozinha, no térreo, os funcionários, que nada perceberam.
Silvio desceu da esteira. Sentou. O sequestrou pediu ajuda e lamentou os erros que cometera na noite interior, ao enfrentar a polícia e matar dois investigadores. Disse ter medo dos policiais e de sofrer represálias por isso.
O diálogo foi ouvido pelo carpinteiro Francisco de Assis do Nascimento, 49, que trabalhava no quintal da casa ao lado. "Ele chegou a dizer que ia pedir um helicóptero para fugir", narrou.
A conversa, calma, foi interrompida. Um policial estava na sala. Entrara pela porta lateral. Era o tenente Marcos Henrique da Silva. Foi um dos momentos mais tensos das sete horas da ação. A casa estava cercada e seria ocupada em minutos.
O comportamento do sequestrador mudou. Tornou-se agressivo. Tentou subir as escadas para chegar à família. O policial pediu calma. Fernando parou na cozinha e trancou-se com o refém.
Íris, suas filhas e a amiga delas eram retiradas dos quartos por uma escada. Os funcionários, pela porta lateral. Correram de pijama e chinelo pela rua, por 200 metros. Levaram o poodle da casa.
Na cozinha, Fernando ligou a TV. Os policiais descobriram e pediram para as emissoras não filmarem o telhado da casa do vizinho. Lá estavam os atiradores de elite -pelo menos dois. Os curiosos se aglomeravam na rua.
Aos gritos, Fernando fixava o preço do resgate: a garantia de que sairia vivo. Desistira do helicóptero. Queria o governador ali, e a Polícia Civil bem longe da casa.
A cozinha tinha portas e janelas trancadas. Os policiais não viam o que acontecia lá dentro. Conversavam sempre gritando.
Silvio dizia que sairiam juntos da cozinha para que nada de mal acontecesse. Quebrava a lógica silenciosa dos sequestrados. Isso foi determinante para o sucesso da ação, diria mais tarde a polícia.
Os negociadores foram chegando, entre eles o comandante-geral da PM, Rui César Melo, e o juiz-corregedor Maurício Porto Alves.
Silvio deu sinais de cansaço, temia pela pressão -que costuma subir. Fernando sentia fome. Estava baleado e tinha dormido no mato, escondido em um terreno perto dali. Pediu um lanche. Ele veio. Silvio insistia para receber um médico. Demorou para convencer Fernando, mas conseguiu.
A pressão estava normal: 12 por 8.
O comportamento de Fernando oscilava. De repente, decidiu que queria ir para o quarto. Foi o segundo momento de tensão.
"Eu sei quem está aqui [como refém], e vocês não vão querer manchar o currículo de vocês", disse Fernando aos policiais, exigindo a mudança de cômodo.
"Não permitimos a mudança porque envolve muito risco", disse o capitão Diógenes Lucca, 37, um dos negociadores.
Fernando ameaçou matar Silvio. Trazia à mão, todo o tempo, uma pistola 380 e um revólver calibre 38 carregados, armas que provavelmente usou para assassinar dois policiais em Barueri.
Silvio fez Fernando mudar de idéia. Ficaram na cozinha. O apresentador decidiu ajudar a atender a um pedido do sequestrador: ligou para o secretário da Segurança Pública e pediu que o governador Geraldo Alckmin fosse ao local. Alckmin chegou em minutos. Desceu de helicóptero no colégio Pio 12 -que dispensou os alunos e serviu de base de pouso.
Silvio conquistou a confiança de Fernando. Para os negociadores, ele já gritava: "O que o Silvio decidir, está decidido". Decidiu-se que Fernando teria as exigência atendidas. Tomou banho, ganhou roupas do apresentador, pediu perdão ao pai e saiu algemado.
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