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07/10/2001 - 09h14

LER/Dort atingem 310 mil paulistanos

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CLAUDIA COLLUCCI e
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

Cerca de 310 mil trabalhadores de São Paulo sofrem de LER/Dort, siglas que identificam as doenças ocupacionais responsáveis pelo maior número de afastamento do trabalho. Eles padecem de sintomas como dores frequentes, dormência, formigamento, inchaços, irritabilidade, exaustão física e falta de firmeza nas mãos.

Nesse universo, estão contados apenas aqueles trabalhadores que procuraram o médico e saíram do consultório com o diagnóstico de Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho.

Outro contigente de 4,7 milhões de trabalhadores relatou algum sintoma decorrente dessas doenças. E pelo menos outros 508 mil trabalham em situações de risco que tendem a transformá-los em novas vítimas das LER/ Dort.

A dimensão desse grupo de doentes e ameaçados foi revelada em pesquisa inédita do Instituto Nacional de Prevenção às LER/ Dort (Prevler), realizada pelo Datafolha com financiamento do Ministério da Saúde.

A pesquisa ouviu 1.072 trabalhadores com mais de 16 anos e de todos os ramos de atividade na cidade de São Paulo. A amostra considerou o conjunto da cidade, selecionando os entrevistados por sexo, idade, renda e escolaridade. A pesquisa tem uma margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Do total de entrevistados, 88% disseram ter algum dos sintomas relacionados às LER/Dort e, entre eles, 47% procuraram ajuda médica devido a esses sintomas. Nesse grupo, 14% saíram do consultório com diagnóstico da doença.

Aplicando-se essa taxa ao total de trabalhadores da indústria, do comércio, de serviços e da construção civil, o número de vítimas desses males chegaria a cerca de 310 mil em São Paulo. Esse total equivale a 4% de todos os paulistanos acima de 16 anos e 6% de todos os trabalhadores da cidade.

"Foi uma surpresa, pois imaginava encontrar cerca de 3% de trabalhadores com esse diagnóstico", diz a jornalista Maria José O"Neill, presidente do Prevler. "Encontramos o dobro."

A pesquisa, diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, "não se propôs a fazer diagnóstico médico, mas investigar o nível de exposição dos trabalhadores aos fatores de risco para as LER/ Dort".

Trabalhando com dor

O número de 310 mil vítimas dessas enfermidades detectado na pesquisa está muito acima dos 19 mil casos de doenças ocupacionais registrados pelo Ministério da Previdência no ano passado. Ainda assim, a própria pesquisa dá sinais de que o número pode estar muito abaixo da realidade.
Por exemplo, se forem acrescentados a esse universo os trabalhadores que tiveram diagnóstico de tendinite (6%) e parte daqueles diagnosticados com "problemas na coluna", o número de vítimas da LER/Dort dobraria.

Em outra pergunta, 88% dos entrevistados disseram ter algum dos sintomas investigados relacionados às LER/Dort. Aplicada ao conjunto de trabalhadores da cidade, esse percentual significa que cerca de 4,7 milhões de trabalhadores sentem dores em alguma parte do corpo, dormência e formigamento, inchaços ou falta de firmeza nas mãos.
Desse total, 53% não procuraram o médico nem foram encaminhados pela empresa para algum tipo de atendimento.

Daqueles que não foram ao médico, 37% alegaram que os sintomas não são graves, 12% disseram que os sintomas não são frequentes e 17% afirmaram não ter tempo para procurar ajuda médica.

Há outra razão revelada pela pesquisa, o receio de perder o emprego. Do total de trabalhadores com algum sintoma e que não procuraram o médico, 66% não informaram o chefe imediato ou superior a respeito da doença.

Outro fator é o desconhecimento da doença, o que leva a uma subnotificação. Não por acaso, são os operários da construção civil, os trabalhadores que menos ganham e aqueles com menor escolaridade, os que menos procuram o médico e por isso têm menos diagnóstico de LER/Dort.

Mas quando perguntados sobre os sintomas relacionados à doença, foram esses trabalhadores os que mais apontaram dores e relataram desconfortos e precariedade nas condições de trabalho.

Situação de risco

Segundo a pesquisa, 508 mil trabalhadores paulistanos -ou 10% de todos aqueles que não tiveram diagnóstico de LER/Dort- correm alto risco de vir a desenvolver a doença. Nesse grupo de não-diagnosticados, 52% têm alto grau de esforço físico e repetição.

Cerca de 76% deles desempenham trabalhos que exigem movimentos repetitivos, 62% realizam sempre a mesma tarefa, outros 62% trabalham sem pausa e 49% realizam atividades que exigem força física. A existência de três ou quatro desses fatores indica que a pessoa está sujeita a alto risco para aquisição de LER/ Dort.

Outros 19% dos não-diagnosticados sofrem alto grau de pressão no trabalho, e 12% revelaram um alto grau de estresse. Pressionados e estressados, trabalhando em situações adversas, com móveis inadequados, todos correm o risco de vir a desenvolver doenças ocupacionais.

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