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11/11/2001 - 02h44

Polícia Federal descobre fábricas de cocaína das Farc no Brasil

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KÁTIA BRASIL
da Agência Brasil

Um documento elaborado pela Operação Cobra (sigla para Colômbia-Brasil) da Polícia Federal, encarregada de desarticular o narcotráfico na fronteira da Amazônia brasileira, identifica bases de produção de cocaína sob o domínio das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

A identificação das bases pertencentes as Farc consta no primeiro relatório da Operação Cobra, ao qual a Agência Folha teve acesso com exclusividade, e que foi divulgado reservadamente no dia 29 de setembro último para os órgãos de segurança nacional do Brasil, Colômbia e Estados Unidos, incluindo a DEA, a agência federal antidrogas americana.

Chamadas de complexos [conjunto de laboratórios de refino], as bases produzem mensalmente, segundo o relatório, cerca de 45 toneladas do cloridrato de cocaína. A droga partiria em aviões de pistas clandestinas na Colômbia para Europa e os Estados Unidos e até para o Brasil.

"Não temos mais dúvidas das relações das Farc com o narcotráfico. A guerrilha tem o comando das drogas e isso é uma ameaça para a fronteira brasileira", afirma o delegado Mauro Spósito, coordenador da Operação Cobra.

As bases da Colômbia sob domínio das Farc funcionam, pelo relatório da PF, como laboratório de refino para a droga que chega, principalmente, do Peru e da Bolívia. Com cerca de 16 mil homens armados, as Farc se definem como uma força político-militar que nasceu como o braço armado do Partido Comunista Colombiano em 1964. Os integrantes negam ligações com o narcotráfico.

No ano passado, a guerrilha iniciou um processo de negociação de paz com o governo do presidente Andrés Pastrana. Mas o governo acusa as Farc de apenas usar o discurso sobre a paz e de utilizar a zona desmilitarizada para manter vítimas de sequestros, treinar para a guerra e utilizar bases de produção de cocaína.

De acordo com o relatório da PF, as regiões onde estão os complexos localizam-se num raio de apenas três quilômetros da fronteira brasileira com a Colômbia, entre as cidades colombianas de Letícia e San José del Guaviare.

Essas cidades formam uma linha de fronteira de 1.644 km com o território brasileiro, entre Tabatinga e a localidade de Cucuí, em São Gabriel da Cachoeira (distante a 858 km oeste de Manaus).

Em Guaviare está o principal complexo "dominado" [expressão usada na descrição das bases pela Operação Cobra] pelas Farc. É o de Barrancomina, que produz em média 30 toneladas mensais de cloridrato de cocaína.

Segundo o relatório "a região está sob domínio da Frente 16 da guerrilha, a comando de Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio". O guerrilheiro teria dado proteção ao traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar durante a fuga do Brasil para Colômbia.

O delegado diz que a identificação dos complexos materializa os laços dos guerrilheiros com os narcotraficantes. Na investigação dos complexos, a Polícia Federal utilizou táticas de patrulhamento fluvial, terrestre e aéreo, além do monitoramento de satélites em convênio com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

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O professor de ciências políticas da UFA (Universidade Federal do Amazonas) Ricardo Bessa, especialista em movimentos revolucionários, afirma que as Farc são um movimento que tem objetivo de instaurar uma república socialista na Colômbia. E não acredita no comprometimento da organização com narcotraficantes.

"Isso [o relatório da PF] é uma propaganda exagerada dos Estados Unidos e não acredito que a guerrilha seja financiada pelas drogas", afirma Bessa.

O professor disse que as ações da Polícia Federal precisam coibir o narcotráfico na fronteira brasileira, mas alerta para o que chama de "bombardeio de informações" que possam prejudicar o processo de paz entre a guerrilha e o governo colombiano.

 

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