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19/01/2002 - 17h39

Polícia estuda duas hipóteses para o sequestro de Celso Daniel

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GUTO GONÇALVES
da Folha Online
da Folha de S.Paulo

A Delegacia Anti-Sequestro de São Paulo e a Polícia Federal investigam duas possibilidades para o sequestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT). A primeira, trabalha com a possibilidade de que o sequestro teria motivação política e seria articulado por grupos adversários do PT. A segunda aponta para a violência em São Paulo e caracteriza o sequestro do prefeito petista como mais um crime de oportunidade praticado por sequestradores.

O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, disse ver no caso um indício de crime político, já que o empresário que acompanhava Celso Daniel no momento do sequestro foi liberado pelos bandidos. Para o ministro, se a razão do sequestro fosse exclusivamente a obtenção de dinheiro, o empresário seria um alvo mais atrativo.

O secretário da Segurança Pública de SP, Marco Vinicio Petrelluzzi, não descarta a possibilidade de crime político, mas considera pouco provável. O secretário não acredita que o caso de Daniel tenha começado como tentativa de homicídio. "Não me parece. Nesse caso, não iriam levar o prefeito."

O senador Eduardo Suplicy foi o primeiro petista a levantar a possibilidade de o sequestro ser um ato político com a tentativa de homicídio do prefeito de Santo André. Os tiros disparados contra o carro em que estavam Celso Daniel (PT) e o amigo Sérgio Gomes da Silva poderiam, segundo o senador, ter matado os dois se os vidros não fossem blindados. Suplicy acredita que o sequestro pode ter finalidade política pelo fato de o empresário que acompanhava Daniel ter sido deixado no local.

O prefeito de Guarulhos Elói Pietá (PT) é categórico. Para ele, trata-se de um crime comum, sem qualquer caráter político. "Acho que os sequestradores nem sabiam que ele é prefeito. Foi uma escolha aleatória, qualquer um poderia ter sido o alvo', afirma.

O deputado estadual Wagner Lino concorda com o prefeito. "Foi um sequestro de oportunidade", disse.

O vice-prefeito de Santo André, João Avamileno, disse neste sábado que o prefeito Celso Daniel foi ameaçado há dois meses.

O vice acredita em crime político. "Neste momento podemos pensar em tudo. Ou ele foi seqüestrado por engano, porque estava bem vestido e com motorista ao lado, ou podemos pensar em crime político, até porque tem acontecido muitas coisas com políticos, principalmente do PT, nos últimos meses. Houve o assassinato do prefeito de Campinas, o prefeito do Embu recebeu ameaças e nossos vereadores também".

Para o presidente da OAB, Rubens Approbato Machado, existem evidências que justificariam a versão de sequestro comum. "O carro (Pajero) é de um tipo muito visado por ladrões e sequestradores. Além disso, Celso Daniel e o empresário estavam em uma região erma, escura, propícia a esse tipo de crime", disse.

O deputado federal Aloizio Mercadante (PT-SP) trabalha com a hipótese de crime político, mas lembra que os índices altos da criminalidade em São Paulo. "Só os seqüestros cresceram 323% no ano passado", disse.

Para o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, o sequestro de Daniel revela primeiro a negligência do governo federal com a violência no país. "Se acontecer alguma coisa com o Celso Daniel, a responsabilidade é do governo".

Apesar das duas razões para o sequestro dividirem as opiniões das lideranças do PT, é consenso no partido que o caso é mais um fator de desestabilização da política de segurança pública do governador Geraldo Alckmin e do presidente Fernando Henrique Cardoso. O drama vivido pelo prefeito Celso Daniel fará parte de todos os discurso oposicionistas do PT contra os tucanos nas próximas eleições.

Antecedentes
O assassinato do ex-prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos (o Toninho do PT), em setembro de 2001, e as ameaças a pelo menos a 15 prefeitos do PT no Estado de São Paulo e senadores da legenda são os principais argumentos daqueles que acreditam na motivação política para o sequestro de Celso Daniel.

Petistas foram ameaçados de morte por carta em novembro do ano passado por um grupo que se denominava 'Farb' (não se sabe o significado da sigla). Na carta, enviada inclusive a Celso Daniel, o grupo reivindicava a autoria do assassinato de Antônio da Costa Santos (o Toninho do PT, ex-prefeito de Campinas).

Na correspondência, a 'Farb' dizia ter nascido em 1998, na Grande São Paulo, para acabar com 'políticos ligados à esquerda que estão se aproximando de partidos de centro-direita'. A suposta milícia, em uma carta confusa e cheia de erros de português, disse ter nascido com sete pessoas e que contava, em novembro do ano passado, com cerca de 50 militantes ativos, dispostos a 'lutar por um Estado justo e sem desigualdades'.

A carta chegou aos prefeitos em 13 de novembro, depois da tentativa de sequestro de Airton Luiz Montanher, prefeito de Ribeirão Corrente (428 km ao norte de São Paulo). Na ocasião, um grupo fortemente armado invadiu a fazenda em que Montanher estava e não conseguiu capturá-lo. A polícia interveio a tempo e evitou a captura.

Leia mais no especial sobre sequestro
 

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