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22/01/2002 - 05h52

Empresários se sentem desprotegidos

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GUILHERME BARROS
da Folha de S.Paulo

Assustado com a onda de sequestros que invadiu São Paulo nos últimos meses, um grande empresário abriu mão de seu carro blindado e partiu para uma decisão radical. Ele comprou um táxi. Agora, só se movimenta pelas ruas de São Paulo com motorista no seu próprio táxi.

Desde que começou, há menos de um ano, a onda de sequestros em São Paulo os empresários paulistas começaram a viver um clima de pânico. Aqueles que já possuíam esquema de segurança, trataram de reforçá-lo. Outros decidiram intercalar mais os períodos fora do Brasil. Houve aqueles que recorreram à criatividade. Trataram de andar em carros menores e nacionais ou até mesmo comprar um táxi.

O sequestro e morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, só agravou essa sensação de desespero. Mesmo a ação prometida pelos governos federal e estadual para o combate à violência é vista com muita desconfiança. "Só espero que este grande movimento que se formou agora não se transforme apenas na compra de meia dúzia de carros novos para a Polícia", diz Paulo Cunha, presidente do grupo Ultra.

Há quase dois anos, no dia 20 de junho de 2000, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou um plano antiviolência, denominado Plano Nacional de Segurança Pública, com o objetivo de deter a crescente onda de violência em diversos Estados, inclusive São Paulo. O plano previa investimentos de R$ 3 bilhões até 2002. Os resultados, até agora, foram frustrantes.

O sentimento de insegurança é geral. Em levantamento feito pela Folha com mais de 10 grandes empresários paulistas, todos foram unânimes em dizer que nunca se sentiram tão desprotegidos. A grande maioria preferiu não se identificar.

Todos apontaram algumas soluções. A primeira é a de unificação das polícias Civil e Militar, a segunda de remunerar melhor os policiais para evitar a corrupção, e a terceira de manter os bandidos dentro das prisões.

"Como 80% dos crimes violentos são cometidos por criminosos foragidos de prisões ou delegacias, a melhor solução é manter presos os criminosos", afirma Paulo Cunha.

Para o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, o problema é menos de dinheiro e mais de vontade política. "É preciso agir", diz Piva. "Estamos sitiados e amedrontados." De acordo com Piva, a sociedade deve transformar esse sentimento de medo em indignação e ação. "Cobrar, exigir, participar", afirma.

Investimentos
O empresário Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), diz que é inviável se pensar num sistema produtivo operando normalmente num ambiente sem segurança.

Segundo ele, essa situação de insegurança não só preocupa as pessoas como afeta as decisões de investimento das empresas. "Essa situação é altamente desvantajosa em qualquer análise que se faça sobre competitividade ou sobre produtividade", diz Ioschpe.

O presidente do Iedi lembra o que aconteceu com países sitiados pelo cartel das drogas, como o caso da Colômbia. A indústria desapareceu na Colômbia.

O grande problema, na opinião dos empresários, chama-se corrupção. Se antes a impunidade era um privilégio dos ricos e poderosos, hoje os bandidos já sabem os caminhos das pedras. Através da corrupção e com a colaboração das imperfeições do sistema jurídico, os bandidos conseguem sair pela porta da frente das prisões sem ser importunado. Em alguns casos, até de helicóptero.

Para combater a corrupção e a impunidade, o empresário Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, só vê uma saída: remunerar melhor os policiais. Os baixos salários, estimados em média de R$ 400 mensais, são um convite à corrupção. "A impunidade só existe por causa da corrupção", diz Pih.

O empresário não entende como um país que arrecadou ano passado mais de R$ 400 milhões em tributos, cerca de 34% do PIB (Produto Interno Bruto), não consegue recursos suficientes para investir em segurança. "Com essa arrecadação, os argumentos de que o Estado não tem dinheiro são injustificáveis."

Iniciação
O presidente da (Fecomercio-SP), Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman acha que São Paulo deveria seguir o exemplo de Nova York. "Sou favorável à tolerância zero, que baixou significativamente os índices de criminalidade naquela cidade", diz o empresário.

Para Szajman, o pequeno delito, a pequena infração, quando largamente permitidos, deterioram rapidamente toda a relação de respeito à lei que deve pautar a vida em sociedade. "O pequeno delito é o ritual de iniciação do indivíduo no mundo do crime", diz.




Leia mais sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel
 

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