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31/05/2002 - 07h52

Ala radical do PCC planejou atentados em São Paulo

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ALESSANDRO SILVA
da Folha de S.Paulo

A vitória da ala de comando radical do PCC (Primeiro Comando da Capital), em uma disputa que contrapôs seus fundadores após a megarrebelião do ano passado, foi decisiva para os atentados que feriram 16 e mataram quatro pessoas em São Paulo neste ano.

As explosões de bombas em fóruns e prédios públicos, mais os atentados a tiros, fizeram parte de um plano para desacreditar o governo e provocar medo entre os encarcerados -de onde saem os 'soldados' do PCC e as vítimas de extorsões, que pagam 'pedágio' e alimentam o caixa dos líderes.

Os detalhes sobre o planejamento dos atentados e sobre o funcionamento da organização começam a ser conhecidos agora, após 460 horas de conversas telefônicas gravadas e dos depoimentos de ex-líderes jurados de morte e dos membros da cúpula radical.

As revelações ajudaram a polícia e o Ministério Público de São Paulo a executar na semana passada, após cinco meses de investigação, a maior ofensiva contra a facção, desde sua criação (1993).
'O que mais nos impressionou foi o poder de organização', disse o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado).

A facção reúne presos de diferentes penitenciárias, que se falam por intermédio de advogados e telefones celulares.

Em depoimento filmado no final de março deste ano, ao qual a Folha teve acesso, um ex-líder do PCC revelou informações sobre quatro atentados que a cúpula da facção cogitou cometer.
Primeiro, queriam assassinar três jornalistas -da Rede Globo, da Record e do SBT. 'Para que a imprensa ficasse contra o governo', disse o detento D. S. (iniciais fictícias), cuja identidade não pode ser revelada. Ele está isolado para não ser morto.

O segundo plano era atacar uma embaixada, em Brasília, para chamar a atenção do governo federal. Também houve discussões sobre atentados contra pessoas ligadas ao governo estadual.
Por fim, queriam transformar viciados em drogas -'nóias', segundo a gíria da ruas- em 'homens-bomba', para ataques em locais públicos. 'O nóia ia morrer pela droga, mesmo. Ia morrer por uma causa', disse o detento.

'Cogitaram fazer os ataques, mas não chegaram a planejar', afirmou o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco.

O Ministério Público acredita que o atentado de 11 de setembro, em Nova Iorque, influenciou o PCC. Nas conversas telefônicas gravadas, Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda, virou gíria para designar quem faria os ataques.

No total, houve 14 atentados em São Paulo neste ano, sem reivindicações específicas. A nova estratégia surgiu após uma sucessão de disputas internas no comando.

O ex-líder D. S. ganhou poder após a decadência do grupo ligado a Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, líder da megarrebelião. Foi a maior demonstração de força do PCC, mas parte dos fundadores da facção achou que houve mais desgaste do que vantagens.

O grupo ao qual D. S. fazia parte teria passado a defender um período de paz, ao suspender assassinatos e rebeliões, como divulgaram em manifesto uma semana depois da megarrebelião.

A facção, na época, anunciou que passaria a cobrar promessas de investimentos em presídios e melhoria no treinamento de funcionários, entre outros pontos.

Internamente, os líderes defendiam um curso de três meses para os iniciantes (batismo), para difundir o estatuto do PCC como regra de conduta.

Não deu certo. Ao tentar suspender 'rebeldes' que descumpriam o estatuto, os líderes contrariaram os fundadores José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, da ala radical, que voltavam a São Paulo depois de um 'exílio' desde 1997. Ambos receberiam dinheiro dos rebeldes, segundo D. S.

Misael Aparecido da Silva, o Misa, único fundador que se contrapunha aos radicais, acabou assassinado em janeiro.

Segundo D. S., Geleião passou a defender o terrorismo para mostrar força e garantir o pagamento do 'pedágio' cobrado das quadrilhas em liberdade. O PCC recebe para não matar os criminosos quando eles são presos.

Geleião e Cesinha, disse D. S., limitaram a três pessoas no Estado quem poderia falar pela facção. 'Se sair, você é morto', afirmou o depoente. Agora, os dois ficarão isolados por um ano, com outros oito líderes, na prisão de Presidente Bernardes (589 km da capital), a única com bloqueador de celular no país. Os dez serão responsabilizados pelos atentados.
 

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