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15/06/2002 - 21h20

Sérgio Bernardes foi um dos mais importantes arquitetos do Brasil

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ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo

Morreu hoje, aos 84 anos, um dos mais importantes arquitetos brasileiros, Sérgio Wladimir Bernardes. Segundo a família, seu estado de saúde vinha debilitado desde que sofreu um derrame, dois anos atrás, e se agravou a partir de quarta-feira (12). Ele morreu em casa, às 7h, de falência múltipla dos órgãos.

O arquiteto deixa viúva, dois filhos -o cineasta Sérgio Bernardes e a artista plástica Cristiana Bernardes- e netos. Em outubro do ano passado, seu terceiro filho, Cláudio Bernardes, também arquiteto, morreu em um acidente de automóvel em Mato Grosso do Sul.

Segundo a família, desde que sofreu o derrame, Sérgio Bernardes alternava momentos de lucidez e de inconsciência e não teria se dado conta da morte de Cláudio.

Segundo Maria Rosa Bernardes, nora do arquiteto, ele estava envolvido no projeto de recuperação do Pavilhão de São Cristóvão, que ele projetou em 1958 e está abandonado. O projeto de recuperação acabou também abandonado.

O filho cineasta estava filmando o longa metragem "Muiraquitã" em em Macapá (AP) e interrompeu as filmagens para vir ao Rio ver ao pai, na quinta-feira.

Segundo a mãe de Maria Rosa, o cineasta teria intuído a morte do pai. Seu enterro estava programado para o final da tarde de ontem, no cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul.

Irreverência
Irreverente e aventureiro, Sérgio Bernardes costumava responder com bom humor, antes do derrame, quando lhe perguntavam sobre seu estado de saúde. "Se não me examinarem, estou ótimo", dizia. Seu espírito aventureiro revelava-se na paixão por aviões e por corridas de automóvel.

Aos 16 anos fez um curso de pilotos e amava fazer acrobacias com seu monomotor. Aos 17 anos, já disputava corridas pelas avenidas do Rio. Vencedor da Bienal de Veneza, em 64, trocou o prêmio por uma Ferrari.

Projetou sua primeira casa aos 15 anos, para um amigo do pai. Foi um inovador na tecnologia e no uso de materiais: além do concreto, da madeira e do aço, incorporou até neblina, cortinas d'água, reflexos, sons e odores em seus projetos.

Com sua postura experimental, criava obras cheias de surpresas. Nos anos 60, propôs a reinvenção da bicicleta (a "biocleta"), do avião ("Gaivota") e do transporte público ("Rotor").

No final dos anos 70 criou o "Laboratório de Investigações Conceituais", onde propôs soluções inusitadas para as questões sociais, como a construção de um aqueduto de 30 mil Km para combater a seca no Nordeste e edifícios de um quilômetro de altura para combater o déficit habitacional.

Embora trabalhasse mais de 12 horas por dia até o final de sua vida ativa, se dizia um vagabundo. "Só não mato ninguém por preguiça de esconder o corpo", brincava. Deixou um acervo com mais de 6 mil projetos acumulados em quase 70 anos de profissão.

Entre suas obras mais importantes estão o Mausoléu de Castello Branco (1968) e o palácio do governo do Ceará, ambos em Fortaleza; o Hotel Tambaú, em João Pessoa (PE) e o Pavilhão das Bandeiras na Praça dos Três Poderes (1969), em Brasília.

Fez muitos projetos para os governos militares até 1972, quando o ex-presidente Geisel teria descoberto a proximidade de Bernardes com militares identificados com a esquerda.

Em reação, Geisel cancelou a encomenda do projeto de construção do Comando Naval de Brasília. Depois disso, passou a se dedicar a projetos residenciais, que acabaram sendo a face mais conhecida de seu trabalho.

 

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