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01/07/2002 - 03h02

Internet expande comércio de teses; "monografia" custa R$ 600

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JAIRO MARQUES
da Agência Folha

Uma prática que se dissemina com as ofertas feitas pela internet está comprometendo a validade dos títulos em cursos de graduação e de pós-graduação do país: a venda de monografias, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Os "empresários das monografias", como são conhecidos, espalham seus anúncios pela internet.

Em apenas uma pesquisa em um site de busca da rede foram encontradas mais de 200 páginas fazendo ofertas para "facilitar" a vida do estudante que é "muito ocupado", "que trabalha muito" e que não quer se "estressar" com um trabalho acadêmico, de acordo com os próprios anúncios.

A Agência Folha fez a pesquisa para mostrar como está disseminado o mercado de monografias a partir de um caso concreto que ocorreu em Santa Catarina.

Após receber denúncia de que alguns alunos estariam encomendando trabalhos pela internet, a direção da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) determinou que os professores evitem pedir pesquisas e fiquem mais alertas aos trabalhos dos estudantes e de seus orientandos.

A universidade também está adquirindo um programa de computador que pode rastrear dados do trabalho na rede.

"O aluno pode pegar informações na internet. É normal. Mas comprar o trabalho é inadmissível e pode ter até desdobramentos jurídicos. Estamos pedindo aos professores que evitem pedir trabalhos e, se pedirem, exigir uma apresentação oral, uma prova sobre o tema. É preciso reduzir a demanda desses sites", afirmou José Carlos Cunha Petrus, diretor do Departamento de Apoio à Pós-Graduação da UFSC.

Negociação

A Agência Folha, sem informar que se tratava de uma reportagem, enviou e-mails para 11 endereços eletrônicos pedindo detalhes do "negócio". Todos responderam. Dois disseram que não poderiam escrever o trabalho. Outros nove o fariam.

Nas entrevistas, os "empresários da monografia" revelam detalhes do esquema que já estaria, segundo eles, "profissionalizado".

O negócio está presente em vários Estados do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Brasília e Amazonas são algumas deles.

Nas mensagens enviadas pela reportagem foram pedidos orçamentos para a elaboração de uma dissertação de mestrado, com 120 páginas, e para uma tese de doutorado, com 250 páginas.

Para fazer o trabalho de um futuro mestre, o valor ficou entre R$ 600 e R$ 1.200. O trabalho de um doutorando varia de R$ 1.000 a R$ 4.000.

Os "empresários", que se identificam como ex-professores universitários, advogados experientes e até juízes aposentados, propõem-se a elaborar todas as fases do trabalho.

O aluno não precisa se preocupar nem com a escolha de uma bibliografia. Caso o tema não esteja bem definido, também não há problema _os donos do negócio fazem isso para seus "clientes".

"O senhor vai acompanhar passo a passo a elaboração do trabalho. Mensalmente nós vamos lhe mandar os capítulos. O seu acompanhamento vai ser total", afirmou a dona de um site que faz trabalhos na área de direito.

Ela se identificou como ex-juíza federal aposentada e disse que sua "equipe", que seria formada por oito ex-juízes, faria trabalhos de pós-graduação para procuradores, promotores e juízes.

Em um dos sites que oferecem trabalhos [www.monoweb.cjb.net], há um suposto ranking das universidades que mais pedem os serviços, detalhes de como fazer o pedido e propaganda.

Um dos "empresários", durante conversa sobre os detalhes do negócio, identificou-se com o nome completo e como sendo professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

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