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28/08/2002
-
03h54
da Folha de S.Paulo
Assim como as pessoas aprendem a dirigir antes de pegar a estrada, o jovem deveria ser ensinado a beber antes de ter acesso ao álcool. E o local para esse aprendizado deveria ser a escola.
A tese é defendida por Alan Marlatt, da Universidade de Washington (Seattle, EUA), que ontem à noite participou da abertura da 1ª Conferência Internacional de Álcool e Redução de Danos, que acontece no Recife.
Marlatt, titular de psicologia clínica e diretor do Centro de Estudos do Comportamento Aditivo da Universidade de Washington, ressalva que o ideal para o jovem é que não beba. Mas, como muitos deles vão beber, a melhor opção é ensiná-los, de preferência dentro dos currículos escolares.
A brasileira Beatriz Carlini Marlatt, da mesma universidade e partidária da tese, diz que "não significa que os estudantes vão beber na colégios, assim como não fazem sexo nas aulas de sexualidade e saúde".
Beatriz falará no congresso sobre "festas virtuais", espécie de jogos desenvolvidos nos EUA e na Nova Zelândia onde o jovem, pela internet, participa de uma festa, escolhe a música, a bebida, e vai sendo informado do nível de álcool e dos riscos a que está sujeito, dirigindo ou namorando.
O Hospital Albert Einstein, de São Paulo, criou há dois anos uma "festa virtual", que começou com 60 jovens e hoje "tem cerca de 900 acessos diários", diz Beatriz, que participou da criação do site (www.einstein.br/alcooledrogas -clicar em "nossa festa").
O encontro do Recife é o primeiro a aplicar o conceito de redução de danos no consumo de álcool. A idéia vem sendo empregada com sucesso entre usuários de drogas injetáveis. Para evitar que se infectem com o vírus da Aids, os programas oferecem seringas e informação.
Dentro do mesmo princípio, acredita-se que o melhor a fazer é ensinar a beber e a reduzir os riscos da bebida -como a violência urbana e doméstica- em lugar de tentar banir completamente o seu consumo. Na conferência participam cerca de 20 convidados estrangeiros e 80 nacionais.
"Para a medicina tradicional, o contrário da dependência é a abstinência. Dentro dos princípios da redução de danos, o contrário da dependência é, inclusive, a liberdade de escolha", diz Ana Glória Melcop, do Centro de Prevenção às Dependências, do Recife, e presidente nacional da conferência.
"Beber é uma opção que não retira da pessoa o direito ao respeito, à saúde e a uma vida digna", afirmou.
Para ela, "num país de desemprego e de falta de oportunidades, o álcool vem mais para amenizar o sofrimento do que como forma de obtenção de prazer".
Vários trabalhos nacionais e internacionais vão mostrar que a dependência do álcool ocorre em todas as classes sociais e em todas as idades.
"Mas são os segmentos menos favorecidos, os desempregados, as populações discriminadas, como as indígenas, os afrodescendentes, que mais sofrem o impacto da dependência e do abuso do álcool", diz Ana Glória.
A conferência tem apoio da Organização Mundial da Saúde, dos ministérios da Saúde e da Justiça e de instituições nacionais e internacionais que trabalham com políticas de redução de danos.
Jovens devem ser ensinados a beber, afirmam especialistas
AURELIANO BIANCARELLIda Folha de S.Paulo
Assim como as pessoas aprendem a dirigir antes de pegar a estrada, o jovem deveria ser ensinado a beber antes de ter acesso ao álcool. E o local para esse aprendizado deveria ser a escola.
A tese é defendida por Alan Marlatt, da Universidade de Washington (Seattle, EUA), que ontem à noite participou da abertura da 1ª Conferência Internacional de Álcool e Redução de Danos, que acontece no Recife.
Marlatt, titular de psicologia clínica e diretor do Centro de Estudos do Comportamento Aditivo da Universidade de Washington, ressalva que o ideal para o jovem é que não beba. Mas, como muitos deles vão beber, a melhor opção é ensiná-los, de preferência dentro dos currículos escolares.
A brasileira Beatriz Carlini Marlatt, da mesma universidade e partidária da tese, diz que "não significa que os estudantes vão beber na colégios, assim como não fazem sexo nas aulas de sexualidade e saúde".
Beatriz falará no congresso sobre "festas virtuais", espécie de jogos desenvolvidos nos EUA e na Nova Zelândia onde o jovem, pela internet, participa de uma festa, escolhe a música, a bebida, e vai sendo informado do nível de álcool e dos riscos a que está sujeito, dirigindo ou namorando.
O Hospital Albert Einstein, de São Paulo, criou há dois anos uma "festa virtual", que começou com 60 jovens e hoje "tem cerca de 900 acessos diários", diz Beatriz, que participou da criação do site (www.einstein.br/alcooledrogas -clicar em "nossa festa").
O encontro do Recife é o primeiro a aplicar o conceito de redução de danos no consumo de álcool. A idéia vem sendo empregada com sucesso entre usuários de drogas injetáveis. Para evitar que se infectem com o vírus da Aids, os programas oferecem seringas e informação.
Dentro do mesmo princípio, acredita-se que o melhor a fazer é ensinar a beber e a reduzir os riscos da bebida -como a violência urbana e doméstica- em lugar de tentar banir completamente o seu consumo. Na conferência participam cerca de 20 convidados estrangeiros e 80 nacionais.
"Para a medicina tradicional, o contrário da dependência é a abstinência. Dentro dos princípios da redução de danos, o contrário da dependência é, inclusive, a liberdade de escolha", diz Ana Glória Melcop, do Centro de Prevenção às Dependências, do Recife, e presidente nacional da conferência.
"Beber é uma opção que não retira da pessoa o direito ao respeito, à saúde e a uma vida digna", afirmou.
Para ela, "num país de desemprego e de falta de oportunidades, o álcool vem mais para amenizar o sofrimento do que como forma de obtenção de prazer".
Vários trabalhos nacionais e internacionais vão mostrar que a dependência do álcool ocorre em todas as classes sociais e em todas as idades.
"Mas são os segmentos menos favorecidos, os desempregados, as populações discriminadas, como as indígenas, os afrodescendentes, que mais sofrem o impacto da dependência e do abuso do álcool", diz Ana Glória.
A conferência tem apoio da Organização Mundial da Saúde, dos ministérios da Saúde e da Justiça e de instituições nacionais e internacionais que trabalham com políticas de redução de danos.
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