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31/10/2002 - 22h52

Pais-de-santo querem evitar Aids em candomblé da Bahia

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

A morte de cinco pais-de-santo e a contaminação de cerca de 120 adeptos de religiões afro com o vírus HIV (o transmissor da Aids), nos últimos cinco anos, em Salvador (BA), acenderam a luz vermelha em uma das mais tradicionais manifestações culturais da Bahia _os terreiros de candomblé.

Ao som de cânticos africanos, e com a presença de uma comitiva de médicos angolanos, começou ontem, em Salvador, um seminário nacional que pretende capacitar e transformar 80 pais-de-santo em "agentes de saúde" para conter a incidência da Aids nas 5.300 casas de culto afro da Bahia _2.580 somente na capital baiana.

"Nos terreiros mais antigos, o uso de uma mesma navalha é muito comum para a feitura do ilá (pequenos cortes na cabeça, região glútea ou no tórax), cerimônia que marca os iniciados", disse o presidente da Federação Brasileira do Culto Afro, Aristides Mascarenhas, 43.

No local dos cortes, os iniciados recebem infusões de flores e folhas sagradas. "Estancamos o sangue em poucos segundos, mas o risco sempre existe", disse Mascarenhas.

Pai-de-santo do terreiro Ilê Axé Opô Ajagunan, ele afirmou que as mortes e a contaminação dos adeptos do candomblé não podem ser necessariamente relacionadas às cerimônias de iniciação. "De qualquer forma, os números são preocupantes."

O vice-presidente do Centro Baiano Anti-Aids, Marcelo Cerqueira, 34, disse que, além do uso de navalhas e facas, alguns adeptos do candomblé têm contato direto com o sangue. "Queremos que os pais e mães-de-santo utilizem luvas e navalhas descartáveis em todos os rituais de iniciação."

Cerqueira disse também que o seminário com os religiosos pretende modificar uma cultura que está enraizada nos terreiros de candomblé há mais de 400 anos. "Sabemos que estamos mexendo com conceitos de fé, mas queremos mostrar que os cuidados com a saúde não atrapalham em nada os rituais das religiões africanas."

Aristides Mascarenhas disse também já iniciou uma campanha de distribuição de preservativos masculino e feminino em todos os terreiros de candomblé da Bahia.

"Dentro dos terreiros, que são sagrados, os adeptos do candomblé não fazem sexo. Fora, são pessoas normais e precisam se prevenir."

Depois do seminário, que termina amanhã, pais e mães-de-santo vão intensificar a distribuição de navalhas descartáveis nos principais terreiros da Bahia. De acordo com o Centro Baiano Anti-Aids, cerca de 3.000 pessoas no Estado estão contaminadas com o vírus HIV.
 

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