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24/06/2003 - 03h43

Parto lidera ranking de internações de jovens

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

A maternidade é o principal motivo de internação de jovens no país. No ano passado, foram realizados cerca de 1.700 partos por dia de meninas de dez a 19 anos, que representaram 26% do total de nascimentos, segundo dados do Ministério da Saúde.

A mesma tendência está sendo verificada neste ano. De janeiro a abril, já foram notificados 200.946 partos juvenis, que custaram aos cofres públicos R$ 55,5 milhões, montante que representa 25% do total do que o governo federal gastou com partos no país.

Essa faixa etária-até 19 anos- também foi a única que apresentou aumento na taxa de fecundidade na última década nas cinco regiões do país, diz a demógrafa Elza Berquó, pesquisadora do Núcleo de Estudos da População da Unicamp, que fez um cruzamento dos censos de 1991 e 2000 sobre a fecundidade do brasileiro.

Em 1991, para cada grupo de mil mulheres nessa faixa etária, 75 tiveram filhos. Em 2000, foram 94, um crescimento de 25%.

O Brasil figura no relatório mundial sobre população da ONU como um dos países que apresentam taxas acima da média mundial de gravidez na adolescência, que é de 50 nascimentos por mil mulheres.

A taxa brasileira é maior do que a de alguns países pobres, como Sudão (57 por 1.000), Iraque (41 por 1.000) e Índia (44 por 1.000).

Segundo Berquó, o maior aumento da fecundidade, de 42%, aconteceu entre as jovens mais pobres --com renda familiar per capita abaixo de 1/4 de salário mínimo por mês. Entre as com renda acima de cinco salários mínimos, o crescimento foi de 15%.

Na opinião da demógrafa, não é possível afirmar que as jovens pobres praticam mais sexo inseguro, por isso engravidam mais. "As adolescentes com mais dinheiro também podem engravidar, mas têm mais acesso aos abortos."

Uma das prioridades do Programa de Saúde do Adolescente, do Ministério da Saúde, é a criação de programas regionais que sejam capazes de reverter essa situação. Segundo Zenilce Vieira Bruno, coordenadora do programa, a idéia é que as novas campanhas tratem de temas que tenham a ver com a realidade do jovem de cada região do país. "O adolescente no Acre pensa diferente do que vive em São Paulo. A abordagem deve ser particularizada."

Para ela, o alto índice de gravidez na adolescência é um bom demonstrativo de que as campanhas de prevenção feitas até agora não estão atingindo o jovem.

Outro exemplo da falta de conscientização do jovem: segundo o próprio Ministério da Saúde, cerca de 40% das adolescentes que tiveram uma gestação na última década tornaram a engravidar em até três anos. "Se não houver um aprendizado, a menina volta a engravidar", diz Bruno.

Abortos

Diariamente, 146 adolescentes entre dez e 19 anos dão entrada em hospitais públicos brasileiros em razão de abortos provocados, com ou sem autorização judicial. As interrupções de gravidez se constituem na quinta maior causa de internação de jovens, conforme o Ministério da Saúde.

As jovens fazem 48% das interrupções nos serviços de aborto previstos por lei, segundo levantamento realizado pela Rede Feminista de Saúde nos hospitais públicos que mantêm serviços de aborto legal. Segundo Zenilce Bruno, é comum a adolescente voltar a engravidar após o primeiro aborto para "testar" se ainda continua fértil.

Bruno diz que as adolescentes têm mais propensão a fazer os abortos em estado gestacional adiantado, quando os riscos são maiores. Entre as garotas que engravidam, a maioria assume que tentou provocar o aborto.
 

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