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10/08/2003 - 05h09

Centro XI da Agosto chega a cem anos de ação política

LUIZ CAVERSAN
da Folha de S.Paulo

O mais antigo e influente centro de estudantes universitários do país completa um século amanhã. Fundado em 1903, o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro de São Paulo, tem trajetória com pontos em comum com os principais eventos políticos vividos pelo país no período.

Nas homenagens de amanhã, haverá concerto, sessões na Câmara Municipal e na Assembléia Legislativa e lançamento do livro "A Heróica Pancada", que conta sua história por meio de textos e documentação iconográfica.

Oriundo da tradição abolicionista e republicana e gerado numa faculdade que forneceu ao país 11 presidentes da República, o XI sempre teve imbricação com os acontecimentos políticos e culturais. Da primeira diretoria fazia parte Monteiro Lobato, que despontou para a fama literária em concurso realizado pelo XI e, anos mais tarde, teve sua campanha pelo monopólio estatal do petróleo adotada pelos estudantes.

O centro acadêmico foi fundado 76 anos depois que Dom Pedro 1º instituiu, também num 11 de agosto, os cursos jurídicos no país.

Absorveu experiências como a das "burschenschaften", prática estudantil alemã trazida para o Brasil pelo professor Julio Frank, aqui chamada de Bucha.

A prática de externar posições políticas rendeu ao centro papel relevante nos embates do poder, mas também muita pancadaria nos inúmeros enfrentamentos com a polícia, em geral ocorridos no largo São Francisco, declarado "território livre" em 1930.

Nos primeiros anos do século 20, o XI se destacou pela participação (com direito à briga com a polícia) na greve dos ferroviários de 1906, apoiou a campanha civilista de Rui Barbosa em 1911 e aderiu à campanha nacionalista de Olavo Bilac em 1915.

Nos anos 20, estudantes participaram da coordenação da defesa civil durante os combates do levante tenentista de 24. Dois anos antes, haviam tido "participação ativa" na Semana de Arte Moderna de 22: vaiaram estrepitosamente os modernistas.

Os estudantes começam a nova década outra vez enfrentando a polícia, agora em meio à Revolução de 30; têm papel de destaque na resistência paulista na Revolução de 32 e realizam violentas manifestações contra Getúlio Vargas, ainda mais a partir da instauração do Estado Novo em 37.

Em 39, quando Jânio Quadros e Ulysses Guimarães são diretores do XI, fotos de Getúlio são usadas para fazer uma fogueira na rua.

A oposição a Getúlio prossegue pelos anos 40. Em 42, na Passeatas das Mordaças, há sete feridos e um estudante morto.

Em manifesto de 47, o XI diz que a Lei de Segurança Nacional imposta por Getúlio é um "estatuto de indignidade política".

O XI termina a década militando pelo monopólio do petróleo, como lembra o advogado Armando Marcondes Machado Júnior, 79, presidente do XI em 52: "A campanha do petróleo foi a luta de uma geração. Falávamos diretamente à população, porque uma das características históricas do XI sempre foi a mobilização".

Em 54 os confrontos se repetiram durante a mobilização pela renúncia de Vargas. Os estudantes comemoravam o afastamento do presidente quando souberam, em 24 de agosto, do seu suicídio.

Os anos 60 começam com o ex-diretor do XI Jânio Quadros na Presidência e a decepção com a sua renúncia. Pouco antes há o marco histórico da criação da Tribuna Livre, púlpito para manifestações existente até hoje, e pouco depois, em 62, a primeira ocupação da faculdade por estudantes.

O XI também esteve no centro dos acontecimentos de 64 que desembocaram no regime militar. "Eu estava em Brasília no dia 31 de março", lembra João Miguel, 65, então presidente do XI. "Recebi do ministro Darcy Ribeiro um cheque para financiar obras do XI. Ninguém quis descontá-lo", diz Miguel, que foi preso enquanto havia intervenção no XI.

Em 1968, com participação do XI, os estudantes invadiram a faculdade. "Nós passamos um ano inteiro lutando contra a ditadura", afirma José Roberto Maluf, 57, presidente do XI em 69 e até há pouco vice-presidente do SBT. "Fizemos muita passeata, sempre apanhando da polícia", diz.

A tensão política prosseguiu pelos 70, com manifestações contra mortes nas prisões do regime. Em 77, o largo São Francisco recebeu talvez a maior concentração popular da sua história. Em agosto daquele ano, dentro da faculdade, o professor Goffredo da Silva Telles Jr. leu para uma multidão de alunos a "Carta aos Brasileiros", em que pedia a volta do Estado de Direito e que constitui marco da resistência democrática.

Nos 80, a mobilização é pelas Diretas-Já, que pedia eleição direta para presidente.
 

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