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08/09/2004 - 04h12

Brasileiro preso na Indonésia pede perdão à família

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MARI TORTATO
da Agência Folha, em Curitiba

Uma carta com um pedido de perdão à família e aos amigos foi o que o surfista Rodrigo Gularte, 32, entregou à mãe, Clarisse Muxfeldt Gularte, 59, ao se despedir dela em uma prisão de Jacarta, capital da Indonésia, onde espera julgamento pela acusação de tráfico internacional de drogas.

A carta, porém, não é uma despedida. O surfista diz querer "compensar o sofrimento de todos", "voltando pra casa" depois de cumprir a sua pena.

Gularte foi preso em 31 de julho no aeroporto de Jacarta, acusado de transportar 6 kg de cocaína em pranchas, e pode ser condenado à morte. A lei indonésia prevê morte por fuzilamento como pena máxima a condenados por tráfico de drogas.

Foi um neto de 16 anos de Clarisse Gularte que, navegando na internet, descobriu ter sido o filho dela o surfista brasileiro que havia sido preso na Indonésia dias antes, sob acusação de tráfico internacional de drogas.

Até então, relata ela, tinha lido notas em jornais sobre um "paulista" detido em Jacarta, mas jamais relacionara o caso ao filho.

O último brasileiro a ser condenado à morte por tráfico na Indonésia, em junho, foi o instrutor de vôo livre Marco Archer Cardoso Moreira, 42. Ele recorreu à Corte Superior e o julgamento dos recursos pode durar até dois anos.

De volta a Curitiba --onde mora-- após 18 dias visitando diariamente o filho na prisão, Clarisse Gularte se disse "mais tranqüila e confiante" de que, "mesmo demorando", ele vai "voltar a viver junto da família". Ela chegou ao Brasil no dia 2. Ontem, na entrevista, só chorou quando leu a carta que trouxe do filho. Ela não autorizou a publicação na íntegra.

A seguir, trechos da entrevista, que teve participação de sua sobrinha, Angelita Muxfeldt, 39, que a acompanhou na viagem.

Folha - Como foi o primeiro encontro na prisão?

Clarisse Muxfeldt Gularte
- De muita emoção. Ele estava na expectativa de que alguém da família fosse vê-lo, mas, quando a gente chegou, foi muita emoção. Ao mesmo tempo, a gente se tranqüilizou ao ver que ele está bem, forte, se apegando muito a Deus. Ele é católico, está freqüentando missa aos domingos na prisão.

Folha - Ele já era religioso?

Gularte
- Já. E agora muito mais, pois está muito só...

Angelita Muxfeldt - Ele está aprendendo a língua local também. São poucos os que falam inglês na prisão e, como ele sabe que pode demorar para sair, está disposto a aprender.

Folha - O que ele disse à sra. quando a viu?

Gularte
- Que estava feliz em ver a mim e a Angelita e que ama demais a mim e a todos.

Folha - Como foi reencontrar seu filho tão longe, em uma prisão?

Gularte
- Muito triste pelos motivos, mas, ao mesmo tempo, encontrá-lo me deixou mais tranqüila. Antes de ir, eu me preocupava principalmente com o emocional dele. Mas, dentro do possível, ele está bem. Muito envergonhado, está triste, mas ficou muito contente porque a gente foi confortá-lo e repetia sempre que trouxéssemos essa imagem, de que está fortificado e com Deus.

Folha - Ele assumiu para a sra. a culpa pela droga?

Gularte
- Assumiu. Tanto que livrou os outros dois de culpa...

Muxfeldt - A gente não sabe como estava a cabeça dele nessa hora. Parece que ele não estava muito consciente do problema.

Folha - Mas sabia que a Indonésia tem lei que reprime o tráfico com a pena de morte?

Gularte
- Não sei, porque parece que ele foi envolvido por um turbilhão.

Muxfeldt - Acreditamos que ele se envolveu em amizades duvidosas, se embolou numa onda e foi. Pareceu-nos que ia caindo a ficha para ele a cada dia que o visitávamos. Ele não sabia que a notícia nos chegou pela imprensa, pediu para ver os recortes dos jornais. (...) Quando leu, pediu perdão, muito perdão, e chorou muito.

Folha - A sra. pensa na hipótese de ele ser condenado à morte?

Gularte
- Em momento nenhum deixei de ter fé que ele não será condenado à morte. Isso para mim não existe. Tenho a esperança de recuperá-lo algum dia. Mesmo passando muito tempo, depois desse turbilhão e dessa tragédia que aconteceu em nossas vidas, acredito que ele possa voltar para junto de nós.

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