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Terra estrangeira

ALEXANDRE VERSIGNASSI
enviado especial da Folhinha ao Canadá

Fazer a língua desenrolar. Essa é a proposta dos "camps", um tipo de colônia ou acampamento de férias que mistura diversão e aulas de inglês para crianças.

Nesses lugares, americanos, russos, mexicanos, coreanos e brasileiros têm de passar um mês ou mais conversando na mesma língua. "Nos falamos em inglês. Se não, a gente não se entende", diz José Manuel Ariaga, 12, que mora no México, enquanto conversa com o coreano Wawne Luo, 12.

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O americano Alexandre Beyet, 11, e seus amigos mexicanos no Ridley College Campus

O papo acontece no Lakefield Camp, uma colônia canadense instalada em um colégio campestre -fica a uns cem quilômetros de Toronto, a maior cidade do país. Lá, não há meninos e meninas de países onde se fala inglês, como o próprio Canadá. E, por isso mesmo, o pessoal precisa se virar para se comunicar. "Não tem jeito: se você quiser fazer amigos de vários lugares, tem de falar inglês", diz o mexicano José Ramón, 11.

"Quando alguém que está com a gente não sabe como dizer alguma coisa em inglês, a gente ensina as palavras certas", conta o canadense Jake Howell, 11, que passa suas férias no Camp Kandalore, um acampamento na mata canadense, a 200 km de Toronto.

Lá, crianças canadenses ensinam e aprendem com os estrangeiros. É o caso de Ryan McNelly, 14: "Conheci um menino da França no Kandalore. Ele não falava a minha língua muito bem, mas passamos um tempo junto. Foi legal: ele melhorou o inglês, e eu aprendi francês".

Acampar numa ilha
O "jeitão" dos programas de férias no exterior varia bastante. Dá para ficar tanto em lugares perto de cidades grandes como no meio do mato.

Entre os lugares urbanos que a reportagem visitou, há o Erindale College, que fica em Mississauga, cidadezinha perto de Toronto. Os "camps" mais distantes da cidade grande, como o Lakefield, também promovem passeios urbanos, como ao parque de diversões Wonderland.

Os aventureiros vão gostar dos acampamentos florestais, como o Kandalore, que tem um lago com ilhas e uma mata densa. "Já fiquei uns seis dias acampada numa dessas ilhas", conta a menina Fabiana Faria, 13, da Venezuela.

O passeio não foi nenhum "No Limite": "Levamos hambúrgueres, macarrão e pasta de amendoim." E os grandes animais canadenses, como ursos e alces, não passam por perto. "Só dá medo dos mosquitos", diz Fabiana.

Mas, passar as férias estudando no exterior, nem sempre significa falar inglês o tempo todo. "Neste ano, a maioria aqui [no Lakefield" veio do México. E, entre nós, falamos espanhol", conta Luiz Manoel Ruiz, 14. "Mesmo assim, é melhor que no meu país, onde só pratico o idioma com o professor de inglês."

Não é regra acontecer esse tipo de integração. "Os coreanos ficam mais entre eles. Tem uns que tentam conversar com a gente, mas a maioria fala pouco inglês", diz José Ramón, 11, do México.

Dá saudade de casa? A maior parte dos programas de férias no exterior dura cerca de um mês. E como é passar esse tempo todo a milhares de quilômetros de casa?

"Eu tenho saudades da minha mãe, principalmente à noite", conta a venezuelana Anais Niembra, 11, em férias no Ridley College, uma universidade canadense que abriga um desses programas. "Eu me lembro dela me dando beijo de boa noite, dizendo "até amanhã'...", completa.

Para o mexicano Bernardo Martinez, 13, que já tinha ido a Cuba antes de passar uma temporada no Canadá, também no Ridley, a saudade não é exatamente dos pais. "Sinto falta da minha cama. Acho estranho dormir em outras."

Claro que não é assim com todo mundo. "Eu me sinto bem fora de casa, já que tenho várias coisas para fazer aqui", fala José Henrique Manero, 13, enquanto se prepara para uma partida de tênis no acampamento de Lakefield.

Garoto em apuros
Há crianças que acabam em apuros: as que chegam a esses acampamentos sem saber quase nada de inglês.

É o caso de Sho Shionoya, 11, único japonês que estava no Lakefield quando a reportagem foi lá. Como ele não sabia inglês suficiente para falar com as outras crianças, ficava sozinho a maior parte do tempo. Na hora do almoço, enquanto os outros faziam uma baita farra, ele ficava no seu canto, lendo um livro.

Como o tempo de permanência é curto, o ideal é ter uma boa noção de inglês.


O jornalista Alexandre Versignassi viajou a convite da Friends in The World, da Air Canada e da CISS.

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