Dinheiro
público paga cursos curiosos para servidores
Cristina
Veiga
Equipe GD
Cinco
funcionários do Palácio do Planalto acabam de
fazer um curso de fundamental importância para o desenvolvimento
do país: o de aperfeiçoamento em tratamento
de piscinas. O objetivo não é nem limpar o espelho
d'água que cerca o local. É consertar a calefação
da piscina presidencial. Um outro curso, também pago
com dinheiro público, foi oferecido aos servidos da
Presidência da República: o de auto-ajuda. Benefícios
prometidos: ''novos patamares de motivação no
trabalho e na vida'', ''melhor comunicação com
superiores, pares e equipe'' e ''intensificação
do trabalho em equipe e práticas de vanguarda em liderança''.
Especialista
em bisbilhotar potenciais inimigos do governo, a Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) encontrou um local
bem distante para aperfeiçoar o inglês dos professores
da Escola de Inteligência: Londres, na Inglaterra. É,
eles ficaram por lá 24 dias a um custo de R$ 3.461
pelos ensinamentos da Internacional House. Não se sabe
quanto mais foi investido em hospedagem e transporte aéreo
para mandá-los à Europa na época de alta
temporada turística. Mas não são apenas
os funcionários da presidência os beneficiados
por esse tipo de, digamos, aperfeiçoamento.
Os funcionários
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) gastaram quase
uma semana de trabalho aprendendo técnicas anti-estresse.
O relaxamento teve duração de 40 horas espalhadas
por cinco meses. E ainda teve justificativa: ''É importante
fazer treinamento para o servidor não se estressar",
disse o diretor-geral do STJ, Rubem Suffert. Ele também
explicou a razão de os agentes de segurança
do tribunal terem tido aulas de etiqueta, cerimonial e protocolo
ao custo de R$ 2 mil. O treinamento ''valoriza o dinheiro
do contribuinte'' porque aprimora o serviço oferecido
à população.
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Gasto
de R$ 45 milhões sem licitação
Governo
federal, Congresso e Judiciário gastaram R$ 45,2 milhões
este ano com a realização de cursos de reciclagem
para os servidores. Graças a brechas na lei, os professores
são contratados sem licitação pública.
O currículo é extenso. Funcionários da
Presidência da República, por exemplo, receberam
aulas de ''erradicação de gastos desnecessários''
e ''aperfeiçoamento para tratamento de piscinas''.
Especialistas da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) foram treinados para ''poupar energia elétrica
em edificações''. Servidores do Superior Tribunal
de Justiça (STJ), onde tramitam mais de cem mil processos,
foram premiados com o aprendizado de ''práticas anti-estresse''.
Os profissionais
são selecionados sem licitação ou concurso.
Dois artigos da lei 8.666/93, que regula o processo de contratações
da administração pública, facilitam a
escolha. Um deles é a dispensa de licitação
para gastos abaixo de R$ 8 mil. O inciso II do artigo 25 também
libera os serviços técnicos de natureza singular
ou com empresas de notória especialização.
Foi com
base no segundo argumento que a Presidência da República
contratou a empresa Amana Key Desenvolvimento e Educação
Ltda., por R$ 9.920. O extrato do contrato foi publicado no
Diário Oficial da União de segunda-feira. O
governo alega que se trata de um serviço técnico,
e a empresa é única no país. A Amana
Key ensina seu método de treinamento, semelhante a
dezenas de outros cursos de auto-ajuda. Entre os benefícios
prometidos aos funcionários do Planalto matriculados
no curso estão ''novos patamares de motivação
no trabalho e na vida'', ''melhor comunicação
com superiores, pares e equipe'' e ''intensificação
do trabalho em equipe e práticas de vanguarda em liderança''.
A assessoria
de imprensa do Planalto informa que a seleção
é feita pelo centro de treinamento da Presidência.
A área jurídica examina a necessidade e os custos.
Foi assim que a Presidência decidiu pagar R$ 2 mil para
que cinco servidores aprendessem a consertar a piscina do
Palácio da Alvorada, com problemas de calefação.
Segundo o governo, uma medida para poupar gastos extras no
futuro. Agora, sempre que o aquecimento da piscina presidencial
entrar em pane, haverá cinco funcionários altamente
treinados para consertá-la. Outro curso, para eliminar
gastos supérfluos, saiu baratinho. O Planalto pagou
R$ 270 por oito horas de aula.
Encarregada
de bisbilhotar potenciais inimigos do governo, a Abin encontrou
um local bem distante do país para aperfeiçoar
os professores de inglês da Escola de Inteligência,
sediada em Brasília. Eles ficaram em Londres durante
24 dias, entre julho e agosto deste ano. O governo gastou
R$ 3.461 pelos ensinamentos da Internacional House. Não
há informações sobre quanto foi investido
em hospedagem e transporte aéreo para mandá-los
à Europa na época de alta temporada turística.
A viagem
para aperfeiçoamento em inglês foi realizada
três meses depois do curso de ''educação
à distância'', ministrado na mesma Escola de
Inteligência, ao custo de R$ 6.900, sem despesas adicionais
com transporte e hospedagem.
Para aprender
técnicas anti-estresse, o servidor do STJ deixou de
trabalhar durante 40 horas em cinco meses. Quase uma semana
de trabalho foi dedicada ao relaxamento. Neste ano, o STJ
desembolsou R$ 2.145 com tal finalidade. ''Desde o ano passado,
tivemos um aumento de 37% nas decisões judiciais'',
disse o diretor-geral do STJ,Rubem Suffert. ''É importante
fazer treinamento para o servidor não se estressar.''
Na avaliação
de Suffert, o treinamento ''valoriza o dinheiro do contribuinte''
porque aprimora o serviço oferecido à população.
Assim o diretor justificou as aulas de etiqueta, cerimonial
e protocolo para agentes de segurança do tribunal,
ao custo de R$ 2 mil.
Os valores
representam pouco no orçamento de cada órgão
do Executivo, Legislativo e Judiciário, mas a soma
das despesas sem licitação ultrapassa investimentos
de muitos ministérios. Para se ter uma idéia,
neste ano o Ministério do Trabalho investiu R$ 31,7
milhões; o da Agricultura, R$ 32,1 milhões;
o da Ciência e Tecnologia, R$ 42,5 milhões; e
o do Meio Ambiente, R$ 41,9 milhões, segundo levantamento
feito no Siafi (Sistema de Acompanhamento Financeiro) pela
equipe do deputado Agnelo Queiroz (PCdoB-DF).
Os gastos
sem licitação com cursos chegaram a R$ 80 milhões
em 2001, quase o dobro do que foi gasto em 1999 - R$ 44,3
milhões. O Executivo é o campeão, com
cerca de 87% dos custos, seguido do Judiciário, com
10%, e do Legislativo, com 3%.
(Jornal
do Brasil)
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