da
Redação
Os profissionais do ramo químico
estão descobrindo novas alternativas para substituir
o petroléo na fabricação de produtos.
O desenvolvimento do novo plástico se dá a partir
da cana-de-açúcar. A descoberta partiu dos alcoolquímicos,
segmento profissional que estuda as propriedades da cana como
alternativa para uma produção mais ecológica.
Veja as invenções:
Nem açúcar nem álcool.
Investidor busca alternativas
Grupos lançam novos produtos
derivados da cana, como é o caso do plástico
biodegradável PHB
Nem só para fabricar cachaça, açúcar
e álcool serve a cana-de-açúcar. A partir
do melaço, vinhaça e bagaço, subprodutos
da cana, é possível produzir desde energia elétrica
a nutrientes para alimentação do homem e animais
e componentes da indústria química e agrícola.
É possível, por exemplo, fabricar salgadinhos,
rações, remédios, xampus, sabonetes,
sorvetes, papel, madeira de aglomerado, palmitos, inseticidas,
vodca, licores e até potinhos de iogurte e de margarina,
canetas, telefones e uma infinidade de objetos de plástico
biodegradável. Houve até quem retirou diamante
da cana, como o engenheiro Viktor Baranauskas, de Campinas
(SP).
Por isso, não é estranho que cada vez mais
empresas brasileiras e estrangeiras aumentem os investimentos
no País atrás de outros produtos além
do etanol e do açúcar. A gigante japonesa Ajinomoto,
por exemplo, foi uma das primeiras a descobrir as vantagens
da biotecnologia a partir da cana. Desde 97, a empresa já
investiu US$ 150 milhões em duas unidades, em Valparaíso
e Pederneiras, no interior de São Paulo, para fabricar
até 130 mil toneladas por ano de lisina.
Retirada do xarope ou do açúcar da cana, por
um processo de fermentação da sacarose, a lisina
é um aminoácido que serve para balancear rações
de animais, sobretudo aves e suínos. Atualmente, a
empresa emprega 400 trabalhadores nas duas unidades, que garantem
à Ajinomoto a liderança mundial no mercado de
lisina. Segundo o diretor da empresa no Brasil, Júlio
Myamoto, a lisina também pode ser retirada da beterraba,
outra matéria-prima do açúcar. A tonelada
da lisina custa cerca de US$ 1,5 mil.
Outra grande multinacional é a Alltech, líder
mundial na fabricação de nutrientes para ração
animal, que investiu US$ 35 milhões na construção
da maior fábrica de levedura do mundo, em São
Pedro do Ivaí, interior do Paraná. A unidade
fabrica nutrientes e aditivos a partir de cepas especiais
criadas em laboratórios de biociências da Alltech
nos Estados Unidos, Canadá e Irlanda, informa o diretor
da Alltech para a América Latina, Roberto Valeixo.
Os nutrientes fortalecem a saúde de animais consumidos
pelo homem. Em alguns casos, substituem antibióticos,
rejeitados pelos europeus. As pesquisas indicaram que o melaço
da cana-de-açúcar é a fonte de alimentação
para as cepas, que serão transformadas em dezenas de
produtos e exportadas para mais de 60 países.
A Zillor é outra empresa brasileira que apostou no
mercado de levedura e investiu US$ 25 milhões na criação
da Biorigin, empresa que vai produzir 18 mil toneladas/ano
de levedura para exportação.
A Biorigin ainda vai receber mais US$ 20 milhões para
aumentar sua produção, informa Mário
Weltman Steinmetz, diretor da empresa, em Lençóis
Paulista (SP).
Na região de Ribeirão Preto, as usinas descobriram
há muitos anos as outras utilidades da cana. Na safra
deste ano, as grandes novidades serão lançadas
pela Usina São Francisco, de Sertãozinho, que
vai produzir uma cera para fabricar cápsulas de medicamentos
e um açúcar que não usa mistura química
para se tornar branco.
Dois grupos tradicionais de usineiros da região -
Irmãos Balbo e Irmãos Biagi - investiram US$
40 milhões para montar a PHB Industrial Ltda., que
fabrica o plástico biodegradável, chamado de
PHB (polihidroxibutirato). O plástico é fabricado
por um processo de biotecnologia, com bactérias que
se alimentam de açúcar e convertem o produto
em poliéster.
O novo plástico vai substituir o polipropileno, o
polietileno e o isopor na fabricação de objetos
feitos por injeção e termoformados, como canetas,
telefones, embalagens de margarina, iogurtes e outros produtos,
como copos plásticos, que serão biodegradáveis.
O diretor-executivo da PHB, Sylvio Ortega, diz que a planta
ainda é considerada piloto e produz 50 toneladas de
PHB por ano, mas a produção industrial em escala
estará pronta a partir de 2009, quando serão
produzidas 4 mil toneladas/ano, para ser ampliada para 10
mil toneladas/ano a partir de 2011. 'Fabricar o PHB vai ser
muito mais rentável do que fabricar álcool e
açúcar', afirma Ortega.
Livro
As possibilidades de aproveitamento dos subprodutos
da cana-de-açúcar levaram à publicação
do livro O Novo Ciclo da Cana, lançado no ano passado
por meio de uma parceria entre o Instituto Euvaldo Lodi, da
Confederação Nacional da Indústria (CNI),
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae). O livro mostra mais de 60 novas tecnologias
que usam a cana-de-açúcar como matéria-prima
em diferentes setores industriais.
A coordenadora do estudo, professora Maria Rita Pontes Assumpção,
da Universidade Federal de São Carlos, apresenta pelo
menos 40 produtos com grandes facilidades técnicas
e econômicas de produção. O livro está
disponível gratuitamente para download na internet
nos sites www.iel.cni.org.br
e www.sebrae.com.br.
Chico Siqueira
O Estado de S.Paulo.
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