Recém-criada
em Londres por escritores como o suíço Alain
de Botton, a Escola da Vida indica obras literárias
para resolver problemas pessoais
Talvez você fique duas horas no trânsito para
ir a um trabalho que odeia. Talvez você tenha filhos
pequenos e só sobrem cinco minutos de vez em quando
para ler. Talvez você esteja para embarcar em uma viagem
de três semanas para a Amazônia e busque um livro
que fale de tudo sobre o destino. Tudo o que o aflige e tudo
o que o encanta. Nós vamos encontrar a receita de leitura
certa para você."
É assim que a School of Life (literalmente, Escola
da Vida) define a "biblioterapia", projeto lançado
no início deste mês em Londres.
A idéia é a seguinte: o cliente preenche uma
ficha com informações sobre sua história,
suas aspirações e seus hábitos e, a partir
de uma consulta com um especialista, recebe indicações
de leitura que o ajudem a enfrentar uma nova fase, encarar
uma etapa importante ou simplesmente aproveitar um momento
da vida.
Como você descreveria seus hábitos de leitura?
Quando você lê, e onde? Você termina o que
você começa a ler? O que está te preocupando?
Onde você se imagina daqui a dez anos? Quais são
suas paixões?
Essas são algumas das perguntas do questionário,
que é preenchido e repassado a um dos especialistas,
que vai analisá-lo e fazer uma entrevista com o cliente.
35 a sessão
Uma sessão custa 35 (R$ 120), mas pode-se escolher
um contrato de cinco meses, em que o biblioanalista acompanha
suas leituras e troca informações por e-mail,
por 50 (R$ 170).
"As pessoas muitas vezes nem sabem o que estão
procurando, estão perdidas. O objetivo não é
impor uma leitura, mas encontrar algo que tenha a ver com
o momento e os anseios", diz Harriet Warden, a gerente-geral
da loja.
O estabelecimento abriu há três semanas e, desde
então, cerca de 30 pessoas já procuraram as
sessões de biblioterapia. "Um casal planejava
fazer uma viagem e procurava obras que ao mesmo tempo transmitissem
o clima do lugar e dessem uma idéia não-ficcional
do que iriam encontrar. Nosso consultor sugeriu alguns livros...
Vamos ver quando voltarem", afirma Warden, detrás
do pequeno balcão da pequena loja, perto da estação
de metrô de Russel Square.
A Escola da Vida se define como uma "pequena loja com
enormes ambições". As prateleiras têm
menos de cem livros, mas numa divisão especial.
O tom de auto-ajuda da loja é atenuado pelos nomes
por trás da empreitada. Entre os sócios da "Escola
da Vida", estão o filósofo Alain de Botton,
que ficou famoso com o livro "Como Proust Pode Mudar
Sua Vida" (Rocco), o escritor Robert Macfarlane, professor
na Universidade de Cambridge e ganhador de vários prêmios
literários, e o também escritor Geoff Dyer.
"Esse é o tipo de lugar que pode te tornar genuinamente
sábio, em vez de apenas esperto. É tudo o que
eu tenho tentado fazer com a minha escrita nos últimos
15 anos", diz De Botton no site da loja.
Cursos
Além da biblioterapia, a escola também oferece
uma série de cursos, nos moldes dos que a Casa do Saber
oferece no Brasil. São "cursos pequenos sobre
as grandes questões da vida": diversão,
família, trabalho, política e amor.
"Algumas pessoas jamais teriam se apaixonado se elas
não tivessem ouvido falar disso" é a frase
de La Rochefoucauld (1613-80) escolhida para o panfleto do
curso sobre o amor, que começa com o "Banquete",
de Platão, para explicar por que as pessoas precisam
de um relacionamento, passa pelas visões de vários
filósofos sobre sexo e termina tentando responder à
pergunta sobre como fazer o amor durar.
Os cursos custam 195 (R$ 665) e são um dos principais
objetivos da escola. Na tarde de quinta-feira, quando da visita
à loja, na hora do almoço, cerca de 15 pessoas
chegavam para uma palestra que iria durar até o final
da tarde.
Em busca de aventura
O objetivo é encontrar um público "em busca
de aventura pessoal e intelectual", com "curiosidade,
mente aberta e um apetite pela vida".
Em tempos em que um livro é publicado a cada 30 segundos
e seriam necessárias 163 vidas para ler todos os livros
oferecidos pela Amazon (como bem lembra o site da escola),
as sessões de biblioterapia podem ser um bom guia para
quem está perdido.
Mas é sempre bom lembrar a frase de Virginia Woolf
em "Como Ler um Livro", de 1926: "O único
conselho que alguém pode dar sobre a leitura é:
não aceite nenhum conselho".
Pedro Dias Leite
Folha Online
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