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REFLEXÃO


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urbanidade
01/06/2005
De Nova York ao Jardim Ângela

O advogado Denis Mizne encontrou um pedaço de Nova York no Jardim Ângela, bairro da zona sul de São Paulo que se notabilizou por ser um dos locais mais violentos do Brasil. Os dois cenários, tão distantes e diferentes, tornaram-se, na sua visão, experiências parecidas.

Em 1999, nunca tanta gente tinha morrido assassinada em toda a história de São Paulo. Foi quando Denis, recém-formado na Faculdade de Direito do largo São Francisco, deixou a cidade para estudar direitos humanos na Universidade Columbia, em Nova York. "As duas cidades viviam climas radicalmente diferentes. Em Nova York, a euforia. Em São Paulo, o desespero." Nova York batia sucessivos recordes de queda nos índices de criminalidade.

De volta ao Brasil, Denis participou, com um grupo de colegas da São Francisco, da criação de uma entidade que foi batizada de Sou da Paz, cujo objetivo era combater a violência. "Cheguei de Nova York com a sensação de que esse esforço poderia dar certo." Em 1997, ele, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, já participara do lançamento de uma campanha pelo desarmamento. "Naquele ano, ficamos impressionados com uma pesquisa do Datafolha que informava que a violência tinha ultrapassado o desemprego na escala de preocupações do paulistano."

O Sou da Paz, instituto do qual se tornou diretor-executivo, foi convidado a participar de uma articulação no Jardim Ângela, bairro considerado um dos ícones da selvageria em São Paulo. Uniram-se, então, os mais diferentes parceiros na comunidade: poder público, escolas, centros de saúde, religiosos. Montaram-se programas educacionais para crianças e jovens: a Universidade Federal de São Paulo, por exemplo, ofereceu serviços de prevenção ao consumo de álcool e drogas. Montou-se também um projeto experimental de policiamento comunitário.

Resultado: de 2001 até o ano passado, a taxa de homicídios caiu, ali, 54%. Nova York entrou no noticiário mundial quando, em 1995, essa mesma taxa atingiu os 37%. A mobilização do Jardim Ângela é um dos fatores, entre tantos, que ajudam a explicar por que o número de assassinatos não pára de cair em São Paulo, a ponto de ter merecido, na semana passada, o reconhecimento da Unesco. "O que há de comum em Nova York e no Jardim Ângela é o fato de que o envolvimento da comunidade com o setor público, prevenindo a violência e abrindo espaços para crianças e jovens, funciona."

Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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