Ângela
Bellittani colocou colégio da zona leste no topo da
lista das escolas municipais de SP no Ideb
Desde que nasceu, Ângela Inês Pretini Bellinatti
sempre esteve cercada de professores por todos os lados. Seus
pais, tios, primos e a irmã davam aulas. Fugindo à
tradição familiar, ela entrou numa faculdade
de biologia com planos de viver num laboratório fazendo
pesquisa, mas acabou preferindo lecionar também. "Minha
paixão estava mesmo em ser professora." Mesmo
numa escola pública. Agora, com 34 anos de magistério,
ela é protagonista de uma façanha que a transforma
numa das heroínas anônimas da cidade de São
Paulo.
Há 12 anos, Ângela dirige uma escola pública
na zona leste, chamada Guilherme de Almeida. No ranking de
qualidade de ensino (Ideb), divulgado no mês passado
pelo Ministério da Educação, o colégio
aparece em primeiro lugar entre as escolas municipais da cidade
de São Paulo.
Está quase no patamar das nações desenvolvidas
-fica muito longe da média da capital e mais ainda
da média da zona leste.
A receita de Ângela começa com algo bem simples:
gostar do que faz, ter prazer em ensinar. "Nem me passa
pela cabeça a aposentaria."
Apenas o prazer, porém, não iria tão
longe se Ângela não tivesse montado e mantido
uma mesma equipe ao seu lado por muitos anos -conseguiu, assim,
escapar da praga da rotatividade e do absenteísmo que
infesta a educação pública, especialmente
as escolas da periferia. Diretora e coordenadora trabalham
juntas há 12 anos; o corpo docente quase não
muda faz quatro anos.
"Eu jogo duro", afirma. "Jogar duro" significa
não admitir atrasos e faltas nem dos alunos nem dos
professores. "Para mim, o fundamental é a união
da comunidade escolar", o que, na prática, significa
estabelecer pactos de responsabilidade. As famílias
dos estudantes da Guilherme Almeida sempre são acionadas
para ajudar a resolver problemas.
Há muitos anos, são realizadas avaliações
internas -antes mesmo de serem exigidas por testes nacionais
ou municipais- e, com base nos resultados obtidos, os professores
dão aulas de recuperação.
Os resultados das provas dos alunos apenas reforçam
o prazer de ensinar que Ângela aprendeu em casa -um
prazer misturado a um sentido de missão. "Vejo
a escola pública como um serviço que temos de
prestar para a comunidade, não como um favor."
Essa visão familiar estava até agora reconhecida
publicamente apenas no nome de uma escola da zona leste, chamada
professora Cândida Dora Pretini, mãe de Ângela.
Mas certamente a maior homenagem a uma família é
ter o nome associado a uma escola pública em que os
alunos aprendem e os professores sentem prazer em ensinar.
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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