Criou-se
uma imensa polêmica em torno do suposto "déficit
de inteligência" do baiano para explicar por que
os alunos da Faculdade de Medicina da UFBA foram tão
mal nas provas nacionais. A polêmica foi tão
grande que o autor da frase e então coordenador do
curso, Antônio Dantas, renunciou ao cargo. Há
mesmo um déficit de inteligência baiano. Mas
muito longe daquele citado pelo professor.
O déficit de inteligência da Bahia é,
na verdade, a avassalodora perda de cérebros que, por
falta de alternativa, se mudam para outras cidades do Brasil
e do exterior.
Há uma leva crescente de empresários, executivos,
médicos, publicitários, engenheiros, designers
ou produtores culturais. Uma série de ícones
da publicidade paulistana é baiana. Nizan Guanaes é
apenas a estrela mais reluzente de uma crescente constelação
de migrantes.
É gente formada, em geral, nas boas escolas e, como
é normal entre os imigrantes, são empreendedores
e esforçados. Alguns montam seus próprios negócios
e ajudam a inovar e gerar empregos. Vejo como muitos deles
prosperam rapidamente, beneficiados pela criatividade baiana
combinada com a disciplina paulistana.
Quando se estuda por que determinada empresa, cidade ou país
prospera e se destaca sempre vamos encontrar os inovadores.
Os inovadores gostam de estar com outros inovadores pela simples
razão de que detestam a repetição e a
mediocridade.
Quando estudamos porque uma empresa, cidade ou país
entra em decadência, vamos encontrar também a
fuga ou o sufocamento de seus inovadores esse é o custo
do déficit de inteligência.
O que é um superávit extraordinário
para São Paulo é um tenebroso déficit
para quem exporta essa mão-de-obra.
O que me deixa perplexo é que, na Bahia, quase ninguém
parece perplexo com esse déficit de inteligência,
o que acaba estimulando um círculo vicioso do baixo
capital humano. Isso vai a tal ponto que um professor, baiano,
chega dizer que seus conterrâneos são burros
o que, além do estúpido preconceito, simboliza
uma auto-depreciação.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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